Thursday, 21 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Autoritarismo e incitação à repressão

Depois do Diário de Pernambuco, é a vez do Jornal do Commercio defender explicitamente a ordem de molde autoritário e criminalizar os movimentos sociais que vêm tomando cada vez mais as ruas do Recife e região metropolitana. Na edição de 27/03/12, a manchete e a notícia da página Cidades 1 deixa claro: o JC considera os protestos de cidadãos uma “baderna” e apoia que a polícia militar recrudesça na repressão a esse que é um direito constitucional nosso.

Era de se esperar que da ação (o crescimento dos movimentos sociais e da consciência cidadã em torno do seu poder de ir às ruas mudar a realidade) fosse incitada a reação (o clássico reacionarismo “antibaderna” das elites e dos veículos de comunicação que elas controlam), pois a mídia impressa estadual está contra a sociedade no que tange a não aceitar seu direito de ir às ruas pressionar o poder público, peitar os opressores e interesseiros e incitar as mudanças. Da mídia tradicional, só faltava mesmo (até onde sei) o JC dar seu parecer pró-ordem e pró-repressão. O Diário de Pernambuco já o fazia há tempos e a Folha de Pernambuco havia chamado o movimento contra o aumento das passagens de ônibus de “baderna” no começo de fevereiro deste ano. E o JC hoje demonstrou, sem qualquer sombra de dúvida, que também é contra a liberdade democrática de irmos às ruas.

Na descrição do grande letreiro da capa “Rigor contra a baderna (sic)”, mostra-se a tenebrosa posição da Secretaria de Defesa Social do governo cada vez mais autoritário de Eduardo Campos de endurecer contra os protestos de rua e prender quem resistir às ordens de desbloquear a ordem das ruas. Já na página Cidades 1, mais um letreiro tenebroso afirma: “PM endurece em protestos”, mostrando que a PMPE quer rivalizar com a PMESP sobre quem é a polícia militar estadual que melhor consegue relembrar os tempos da ditadura de 1964-85. O “chapéu” da notícia – “Segurança” – passa uma mensagem sutil de que, quando protestamos, estamos ameaçando a segurança do restante da sociedade e que a repressão militar fará a “segurança” prevalecer em contraste com a “insegurança” que dizem que transmitimos.

Fingindo imparcialidade

No restante da notícia, toda uma linguagem manipulativa que deixa claro que o JC defende o recrudescimento da PMPE em sua ação fascista de limitar e reprimir as manifestações de rua, proibindo queima de objetos e protestos que bloqueiem todas as faixas de uma avenida. Afirma que essa é “uma tentativa de impedir que a população fique refém dos manifestantes” – como se nós, manifestantes, fôssemos um corpo estranho ou invasor, não parte do todo da população.

O secretário de Defesa Social manifesta que está “preocupado” com o fato de a população, por estar acordando e redescobrindo seu poder de reivindicar mudanças na ordem social vigente, vir aumentando a frequência e a força dos atos públicos. Não o preocupa o fato de estarem aumentando as razões para esse despertar dos protestos, mas sim que estes estão afrontando a ordem e interrompendo o trânsito. E o jornal dá corda a essa visão de mundo conservadora e antidemocrática, usando como grande pretexto, assim como o Diário de Pernambuco costuma fazer, o trânsito. Aliás, nenhum representante dos movimentos sociais promotores de manifestações foi entrevistado na edição de tal matéria.

Mostra-se nessa notícia como é possível defender um ponto de vista fingindo imparcialidade, sem que seja necessária uma linguagem editorial, opinativa e explícita. E um ponto de vista evidentemente oposto à democracia, aos direitos civis e ao exercício ativo da cidadania. É assim que um jornal tenta tanto calar as vozes da democracia popular como semear nos leitores uma visão de mundo conservadora e ordeira, que não tolere nenhuma manifestação democrática dotada do potencial de abalar as estruturas da nossa sociedade desigual e alheada do conhecimento total sobre seus direitos.

Calar a voz popular

É fato que a mídia pernambucana, mancomunada com o governo de direita e autoritário de Eduardo Campos, está contra a população. Contra os seus direitos civis de reclamar nas ruas as mudanças que esta almeja, entre elas a mudança de prioridades do poder público. Afinal, para o “desenvolvimento” pensado pela direita (foco máximo nas obras faraônicas com exploração de mão-de-obra barata e benefícios mil aos grandes empresários) acontecer, a ordem deve ser mantida à mão de ferro, os trabalhadores e estudantes devem ser domados e forçados a aceitar a posição de dominados, e a democracia deve ser reduzida às meras eleições – ou nem isso, no caso dos regimes ditatoriais e das “democracias” cujos únicos candidatos com chances de ganhar defendem visões ideológicas muito parecidas.

Essa situação vai nos obrigar a recorrer à desobediência civil. Afinal, isso é uma tentativa de calar, por força da lei, a voz popular que os princípios da democracia e a Constituição Federal nos permitem usar.

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[Robson Fernando de Souza é estudante e blogueiro, Recife, PE]