Sunday, 17 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1314

Nóis é jeca. Nóis é joia

Enfim, terminou mais uma edição do aclamado/difamado Big Brother Brasil. Doze anos depois, a produção global continua estereotipando homens e mulheres que deveriam representar a diversidade cultural brasileira. Além de uma briga entre “jogadores”, a atração torna-se também uma disputa entre egos, personalidades e, por que não dizer, gêneros.

Bem, mas não é sobre isso que eu quero tratar neste texto. Na verdade, apenas uso de gancho a vitória de Fael, o dito “bicho-do-mato” – rapaz de Arau Moreira, cidadezinha do Mato Grosso do Sul com menos de dez mil habitantes. Já prestaram atenção na tendência que o “caipirismo” se tornou? Lembro bem de uma época em que a gente disfarçava o sotaque com medo de que nos acusassem de ser caipira. Era quase um sinônimo de ignorância, falta de jeito pras coisas… Música sertaneja? Meus Deus! Além de falta de cultura, era uma referência direta à nossa condição de “subgente”.

Mazzaropi, por exemplo, sempre ilustrou a figura do caipira. Aquele indivíduo matuto, cheio de tiques nervosos, hábitos rudes. Todos riam, porém, ninguém queria ser como ele. Atualmente, a situação se inverte. Com o apelido de “universitária”, a música ganhou as baladas das capitais. As bebidas, roupas e gírias conquistaram os mais descolados. Chega a ser um charmoso benefício o fato de morar no interior! Sempre defendi o fato de que morar fora dos grandes centros não implicava em falta de talento, capacidade ou educação. Quem nunca ajudou foi a mídia, cheia desses clichês e legendas mal feitos. Contudo, posso observar um movimento bem interessante e oportuno para a indústria cultural que transforma nosso jeitinho em “valorização das tradições nacionais”.

“Caipira pop”

Se a moda é essa, por que não usufruir? Então, aproveito a oportunidade e me lanço como candidata ao mundo. Profissional ou pessoalmente falando, estou aí, paulistana de nascença e caipira por opção. Cheia de “erres” e “uais” desfrutando e nadando de braçada. Aliás, eu, apresentadores, atores, comediantes e afins.

Fael não foi o personagem que esperavam. O veterinário graduado mostrou inteligência, discernimento para a competição, firme posicionamento para questões de conduta e caráter, bem como articulação para os relacionamentos interpessoais, e exatamente por isso conquistou o carinho do público.

Como diz a letra da música: “Nóis somo é caipira pop, nóis entra na chuva e nem móia. Meu ailóviú, nóis é jéca, mais é joia!”

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[Thaís Machado é jornalista, São José do Rio Preto, SP]