Com quase dois séculos de idade, o tradicional jornal Philadelphia Inquirer, junto com o portal Philly.com e o tabloide Philadelphia Daily News, foi vendido por US$ 55 milhões, mais investimentos de US$ 7 milhões, para um grupo de empresários ligados ao Partido Democrata de Nova Jersey, estado vizinho da Pensilvânia, onde se localiza a Filadélfia. A compra deve implicar novas demissões no jornal, que viu o seu faturamento de cerca de US$ 500 milhões anuais em 2005 ser reduzido pela metade ao longo dos últimos seis anos. “Infelizmente, os gastos não foram cortados na mesma proporção e a companhia está perdendo dinheiro”, disse George Norcross III, um dos investidores.
Além disso, há especulações de uso político do jornal pelos novos compradores. A oferta dos investidores aconteceu depois de o ex-governador da Pensilvânia Ed Rendell, do Partido Democrata, ter se aproximado do ex-jornalista Lewis Katz, que é um dos investidores. Além do envolvimento do ex-governador, Nacross, um dos empresários, é o principal lobista democratas de New Jersey. Ao ser questionado, Katz negou uma possível interferência no conteúdo editorial. “Isso não ocorrerá. Não intimidaremos ninguém sobre como escrever uma matéria. Seria um suicídio para a reputação do jornal e para os nossos negócios”, disse.
Nos últimos anos, o Philadelphia Inquirer, assim como diários de outras grandes cidades norte-americanas, vinha perdendo leitores e, principalmente, anunciantes e classificados. Alguns deixaram de publicar edições impressas, como o Seattle Post-Inteligencer. Outros acabaram vendidos, como o Los Angeles Times. O próprio grupo do Philadelphia Inquirer havia sido vendido dois anos atrás para dois fundos de investimento, que pagaram US$ 139 milhões. Em 2006, em outra venda, o preço pago foi de US$ 515 milhões. Estes montantes, segundo analistas, indicam a “impressionante desvalorização” do jornal da Filadélfia, que já recebeu 18 prêmios Pulitzer em seus 183 anos de história. No mês passado, 45 jornalistas foram demitidos do diário e, mesmo antes da venda, havia a previsão de mais 35 demissões ainda neste ano.
Leitura interativa
De acordo com o Audit Bureau of Circulations, o Philadelphia Inquirer tem uma tiragem média de 331.134 exemplares nos dias de semana, subindo para 482.597 aos domingos. O Wall Street Journal, maior jornal dos Estados Unidos, vende quatro vezes mais, enquanto as vendas do New York Times são o triplo. Para a Filadéfia, o jornal é uma espécie de símbolo de uma época em a cidade ainda era uma das maiores dos Estados Unidos. Com o tempo, passou a perder importância, apesar de se localizar no meio do caminho entre Washington e Nova York.
Mesmo com a deteriorada situação econômica dos jornais, os empresários dizem que a compra não foi uma decisão filantrópica. O Philadelphia Daily News, que enfrenta uma crise ainda maior, deve ser mantido porque é hoje a única publicação impressa que acompanha de perto os esportes na cidade.
Paralelamente à venda, o Philadelphia Inquirer lançou ontem a tecnologia Aurasma, que permite uma leitura interativa do jornal em papel. Ao apontar um aparelho equipado com os sistemas operacionais iOS (da Apple) ou Android (do Google) em direção às páginas, a imagem impressa é capturada e digitalizada. Uma foto pode virar filme ou o texto pode se transformar em áudio.
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[Gustavo Chacra, correspondente do Estado de S.Paulo]