Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Censura e poder no império da história

Um dia, a Revista de História, da Biblioteca Nacional, poderá publicar uma reportagem intitulada “Censura e Poder no Império das Letras”, contando o que lá aconteceu nos primeiros meses de 2012. No dia 24 de janeiro, o jornalista Celso de Castro Barbosa publicou no site da Revista de História uma resenha do livro A Privataria Tucana. Durante nove dias o texto esteve no ar, até que foi condenado publicamente pelo presidente do PSDB, deputado Sérgio Guerra. Daí em diante deu-se uma sucessão de desastres. A resenha foi expurgada, quando a boa norma recomendava que fosse contraditada por outros textos.

A Sociedade dos Amigos da Biblioteca Nacional, Sabin, informou que o texto não passara pelos procedimentos burocráticos da Redação. Falso. Em seguida, a colaboração regular de Barbosa foi dispensada pelo editor da revista, professor Luciano Figueiredo. No dia 29 de fevereiro, o jornalista enviou uma carta a oito membros do Conselho Editorial da revista contando seu caso: “Gostar de um livro, senhoras e senhores conselheiros, não é crime.” Nenhum deles respondeu, e até hoje o conselho nada disse sobre o expurgo do texto. Nem a Sabin.

Enquanto essa panela fervia, a Sabin demitiu o professor Figueiredo. Um caso nada tinha a ver com o outro, pois as razões da dispensa eram administrativas. Diversos conselheiros, insatisfeitos com a demissão, ameaçaram renunciar. A briga tinha caciques demais e índios de menos, até que a Redação, que faz a revista, resolveu falar. Ela enviou uma carta aos conselheiros informando que “um incômodo tem nos acompanhado: o discurso público dos senhores em solidariedade ao ex-editor, na tentativa de fazê-lo retornar à revista”. Queixaram-se de sua gestão e mais: “A RHBN precisa de um editor que não ordene à equipe trabalhos extra-RHBN, sem remuneração.”

No dia 1º, Celso de Castro Barbosa enviou nova carta aos mesmos oito conselheiros da revista, com a mais justa das queixas: “Procurei mantê-los informados, mas o que se seguiu foi seu silêncio estridente. (…) Francamente, com amigos como vocês, a Biblioteca Nacional não precisa de inimigos.”

Resposta, nem pensar.

***

[Elio Gaspari é jornalista e escritor]