Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

E a mídia é quem decide…

Reportagem da Folha de S.Paulo de segunda-feira (11/06) publicou afirmação do ex-ministro da Justiça Marcio Thomaz Bastos que declara que “não houve julgamento no caso Isabella Nardoni” visto que a cobertura da imprensa foi tão maciça e enfática que não haveria outra saída para os juízes senão condenarem o casal (o pai, Alexandre Nardoni, e a madrasta, Anna Carolina Jatobá).

A preocupação do ex-ministro agora é com relação ao mensalão. Com tamanha “publicidade gratuita” sobre o caso, nota-se que poderá existir uma leve influência sobre o julgamento dos acusados – tanto pela mídia que se opõe ao processo, quanto por aqueles que apoiam a condenação. Logo, Bastos declara que “não afirma que ocorra, mas que tem medo que isso pode acontecer”.

Não precisamos ir muito longe para relembrar casos em que a mídia “tomou partido” de alguns casos e se tornou espelho da sociedade, ou uma espécie de juizado especial, fazendo com que a sociedade abraçasse a causa (e não o contrário, a mídia abraçar a causa da sociedade). Quem se lembra do caso Geisy Arruda – a mocinha do vestido rosa? E, para falar em casos das páginas policiais, quem se recorda do caso da menina Eloá Pimentel, em que a Sonia Abraão teve a pachorra de entrevistar, ao vivo e em rede nacional, o assassino Lindemberg Alves – este que, com tamanha repercussão e cobertura midiática, sentiu-se um verdadeiro vilão de filme hollywoodiano e, por outro lado, se tornou o verdadeiro capataz na história dos cadernos policiais do Brasil… Haveria dúvidas de que seria condenado?

A quem cabe a culpa?

Para percebermos, com casos recentes, como a mídia influencia, vejamos o caso do goleiro Bruno. Até agora, nenhum sinal do corpo. Na verdade, bem duvido que ainda exista – mas isto é outro quesito. Os acusados continuam meros acusados, pois não entregam a verdade sobre o que foi feito e muito menos se entregam – revelando quem fez o “serviço”. Há dúvidas de como será o fim dessa história? Condenação, absolvição ou júri popular?

E o caso mais recente, do executivo da Yoki? Estão quase inocentando a Elize Matsunaga por que pelo que parece a culpa de tudo foi do próprio Marcos, que traiu a sua esposa (ex-garota de programa) com outra garota de programa… E a agora a mídia adora mostrar as imagens do detetive, estampar onde for possível: “Ele a traiu, por isso ela o matou”…

O que se percebe é que, na grande maioria das vezes, quando a Justiça quer se autoabsolver da responsabilidade de julgar um caso em que há grande repercussão na mídia, o melhor a fazer é enviar o caso a júri popular… Partindo do ponto de vista anterior, coloco alguns questionamentos que podemos retomar em outra oportunidade: se num caso como esses, o réu – inocente – for condenado erroneamente, a quem caberá a culpa: à Justiça, que passou a batata quente para o júri popular? Ao júri popular, que se equivocou? Ou à mídia, que tomou as dores, apurou precipitadamente, levantou dúvidas e fez a cabeça da sociedade, pelo sim ou pelo não?

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[Hans Misfeldt é jornalista]