Às vezes pensamos que é perigoso lutar contra os poderosos e tentar mudar o mundo de iniquidade e injustiça que aí está onde a cada dia vemos os donos do poder promover falcatruas, acordos espúrios, espetáculos de corrupção, crimes contra a ordem pública, atentados ao dinheiro público, tráfico de drogas e todo tipo de ação ilegal e tudo que acontece é alguns dias de prisão até que algum juiz o libera e depois o próprio povo vai às ruas dizer que estes são inocentes e que são boas pessoas, pois “roubam mais fazem”. A nossa imprensa, infelizmente, é repleta de exemplos de proteção ao quem tem dinheiro e muitas notícias são feitas à moda do freguês, ou seja, denúncias só existem se forem do interesse de quem paga a matéria. Assim, pensamos e é claro que muitos acabam entendendo que o crime compensa, sim. Na qualidade de professor tento passar ideias de solidariedade, respeito ao próximo, cidadania, valores éticos, direitos do cidadão, mas na prática nada disso acontece, pois meus alunos acabam vendo o “triunfo das nulidades” e a vitória dos impiedosos e imperfeitos.
Como poderíamos agregar a sociedade por um mundo melhor e mais justo se os programas de audiência são aqueles que exageram no escracho, na mentira fácil, na mercantilização do corpo feminino e na traição como elemento de poder e vitória? Programas como A Fazenda, Big Brother e outros da televisão brasileira ressaltam a traição, a fofoca, o jogador esperto como elementos para ganhar dinheiro, fazer sucesso e fama. O grande sonho de meus jovens alunos é conseguir ser um jogador de futebol para ter fama e poder ir embora. A pergunta é: vale a pena ser honesto? Vale a pena ser justo? Muitos dizem que somos grandes otários, que estamos remando contra a maré agindo assim. Nas televisões vemos partidos ditos socialistas e avançados fazendo acordos com grupos que no passado criticavam, vemos pessoas que antes eram vanguardistas da ética e decência dizerem que “esqueçam o que escrevi”.
Para onde vamos?
A comunicação está perdida no meio da lama da corrupção e é público e notório que quem paga mais tem mais sucesso, mais visibilidade e mais prestígio na mídia e no mundo do show business. Será que é assim mesmo que funciona? Os que fazem a comunicação muitas vezes têm até a intenção de mudar, mas a ordem vem de cima, as notícias são pautadas não pelos repórteres, mas por quem manda mais. Há uma música de um cantor chamado Ton Oliveira denominada “O Prefeito” que diz: “Se falar mal de mim eu dou dinheiro e ele muda” e mais na frente diz que “quando a coisa ficar preta, invento uma micareta e faço aquele carnaval” e que “o povo esquece tudo e no embalo deste som a cidade fica feliz e ainda tem gente que diz ‘Eita que prefeito bom’.” Já Silvio Brito diz “Pare o mundo que eu quero descer”.
No estado do Ceará, no município de Ipu, um prefeito, ao ser preso por corrupção e após ter sido libertado, foi recebido na cidade com carreata, fogos e até uma missa pela sua liberdade. O que é isso? Onde vivemos? Em outro episódio, um ferrenho crítico da prefeita de Fortaleza foi guindado ao posto de candidato a vice-prefeito e, claro, aceitou dizendo que acreditava naquele projeto político que ele mesmo criticava. Há ruído na informação, onde está a imprensa que levou o povo às ruas contra a ditadura? Onde está o sentido da comunicação real e alternativa? Hoje, os meios de comunicação, para conseguirem viver, têm que silenciar sua opinião, têm que calar a voz dos críticos e cassar os direitos de quem protesta e brada por uma nova solução política para o país. Mas é assim mesmo? Ou temos que ter alguma esperança?
As comunicações antes alternativas se tornaram comerciais, dominadas pelo evangelismo que paga o horário e pronto… Para onde vamos? Não sei, mas como diz o Chicó do Auto da Compadecida “Só sei que foi assim…”
***
[Francisco Djacyr Silva de Souza é presidente da Associação de Ouvintes de Rádio do Ceará]