De todas as promessas de revolução, a da educação online está cada vez mais próxima. E não sou eu quem diz isso. Mas o pessoal de Harvard, MIT, Princeton, Stanford. Essas e outras universidades americanas de excelência estão fazendo um movimento histórico de transferir seus cursos para plataformas digitais e oferecê-los para o mundo todo, boa parte deles gratuitamente. Você só precisa de duas coisas para acessar esses templos do ensino: falar inglês e ter uma conexão digital. São duas coisas que você já precisa, anyway.
Com o inglês e a conexão digital, você pode entrar nos sites coursera.org (para se inscrever em cursos gratuitos de Stanford, Princeton, Caltech, Rice, John Hopkins e outras universidades de ponta) ou edxonline.org (para cursos em Harvard e MIT) e escolher sua poltrona preferida para acompanhá-los. Harvard e MIT começam a oferecer seus cursos no edX a partir de setembro e esperam educar nada menos de 1 bilhão de pessoas com seu serviço digital. Ou um em cada sete habitantes do planeta educados por Harvard ou pelo MIT. Isso não é uma revolução? Essas universidades prometem uma nova experiência na educação online, com maior interatividade aluno-professor e um intenso feedback que possa ajudá-las a reprogramar seus currículos para a maciça audiência global.
Não sou um educador, mas como embaixador da Unesco e membro do Todos pela Educação, sou um empregador comprometido com a educação. Vejo frequentemente no meu setor a necessidade de reformar o ensino para aproximá-lo do mercado de trabalho. A revolução da educação online pode ajudar muito nesse processo ao aproximar a educação das pessoas e as pessoas, da educação.
A nossa emergência definitiva
Um professor da Universidade de Michigan disse ao New York Times que estava animadíssimo porque 40 mil alunos do mundo todo tinham baixado o vídeo do seu curso, o que, nas contas dele, era uma audiência que só alcançaria em 200 anos de aulas tradicionais. A Coursera conseguiu 700 mil alunos online em poucas semanas de atividade. Como tanta coisa nesta era da comunicação, este é um momento disruptivo na educação. E estamos vendo só o começo do começo. O diretor acadêmico de Harvard previu que daqui a cinco anos a educação online será completamente diferente do que temos hoje. O que não parece que vai mudar é a tendência de acesso cada vez maior, brutalmente maior, à educação via web.
Isso me anima vendo o mundo do Brasil. Depois dos saltos que demos nas últimas duas décadas, fica claro que a maior carência do nosso país e o trampolim inescapável para o próximo salto de desenvolvimento é a educação. Já temos uma mão-de-obra numerosa e fantástica. O brasileiro trabalha muito, é dedicado, empreendedor, criativo. Quem não conhece aquele camarada que tem dois, três empregos e vai firme para todos; ou aquele pequeno empreendedor, muitas vezes informal, se virando como pode, com uma flexibilidade aguda, natural e muito valiosa para os negócios. O que falta a eles para o salto transformador é a educação. Esse empresariado emergente, com acesso à educação e às melhores práticas de gestão, levará a economia brasileira a outro patamar. Os cursos online são a forma mais rápida, barata e eficaz de fazê-lo.
Nossas universidades púbicas, que formam a elite do ensino brasileiro e já têm iniciativas no mundo online, poderiam radicalizar seu caráter público com cursos digitais gratuitos pela web para todo o país, eventualmente apoiados por corporações que tanto se beneficiarão da revolução da educação. Vivemos uma nova era de grandes descobrimentos. O homem só descobriu que a Terra era azul ao sair do planeta. Educar-se é sair de si mesmo em busca de um conhecimento do mundo e das coisas. Essa viagem da educação é a viagem da sua vida. Você se descobre outro depois dela.
Nosso país se descobrirá de novo depois dela. A diferença é que desta vez seremos nós a nos descobrir. Será a nossa verdadeira emancipação, a nossa emergência definitiva.
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[Nizan Guanaes é publicitário e presidente do Grupo ABC]