Thursday, 21 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Gasto do brasileiro com material de leitura cai 19%

Apesar do aumento das vendas do setor livreiro nos últimos anos, materiais de leitura perderam importância no orçamento dos brasileiros. Cerca de 36% das famílias tiveram acesso a produtos como jornais, revistas, livros e fotocópias entre meados de 2008 e de 2009. A porcentagem representa uma queda de 4,4 pontos percentuais em relação ao período entre a metade de 2002 e a de 2003. O montante gasto anualmente com esse tipo de produto também caiu. Em média, recuou 19,3%, de R$ 159,80 para R$ 128,80, descontada a inflação.

As conclusões são da pesquisa “O Livro no Orçamento Familiar”, divulgada ontem em São Paulo. O estudo foi feito a pedido de entidades do setor livreiro e teve a coordenação de Kaizô Iwakami Beltrão, PhD em estatística e professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV). O levantamento se baseia em duas Pesquisas de Orçamento Familiar (POF), do IBGE. Considerou-se como material de leitura, além de livros (didáticos ou não), jornais, revistas, fotocópias, dicionários, livros técnicos e religiosos. As revistas e os jornais são os itens que recebem metade do orçamento para leitura, com fatias de 29,3% e 20,9%, respectivamente.

A queda, segundo a pesquisa, aconteceu em todas as faixas de renda e de nível de escolaridade. Para Milena Piraccini Duchiade, diretora da Associação Nacional de Livrarias (ANL), o quadro que emerge do cruzamento de dados das POFs merece a atenção do setor. “A gente tem que parar e pensar. O que está acontecendo?”, diz ela. O estudo indica, com base em dados do IBGE, que entre 2002/2003 e 2008/2009 houve aumento médio de 4,6% na renda da população. E o nível médio de instrução formal também subiu no período.

Mudanças pequenas

O objetivo dos pesquisadores foi detalhar o comportamento do setor, sem levantar hipóteses. Embora os dados mostrem o acesso e não o grau de leitura, a interpretação é que as duas coisas estão relacionadas. Segundo Milena, os resultados mostram que é preciso estudar formas de incentivo. “Não basta ampliar a renda nem o estudo da população”, diz. A diretora acredita que uma possibilidade para o livro ser mais consumido é desvincular o produto da imagem de uma coisa “chata”.

A pesquisa também considerou a evolução de outros gastos considerados não essenciais como os de lazer dentro de casa, telefonia celular e lazer fora de casa. No primeiro caso, que inclui despesas com TV, DVD, CD e jogos de computador, entre outros, a participação cresceu de 1,8% para 2% no orçamento familiar. O gasto com telefone celular avançou de 0,8% para 1,3%, sendo que o número de usuários chegou a quase 90% da população (em 2009).

A fatia dos materiais de leitura no orçamento das famílias caiu 0,1 ponto percentual, indo para 0,4%. Os pesquisadores consideram que, em relação aos gastos mais significativos (alimentação, habitação, transporte e vestuário), as mudanças foram pequenas.

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[Felipe Machado do Valor Econômico]