O jornalista do Clarín Marcelo Bonelli, de 56 anos, que levou anteontem [quinta, 9/8] Cristina Kirchner a propor uma “lei de ética” para a imprensa, disse ontem [10/8] à Folhaque é vítima do desagrado da presidente argentina com a revelação dos bastidores do governo. Cristina chamou de mentirosa uma reportagem de Bonelli na qual o jornalista afirmava que o presidente da petrolífera YPF, Miguel Galuccio, cogitava renunciar por não ter liberdade no cargo. “Trata-se de uma campanha para danificar a imagem pública da YPF”, disse Cristina, acrescentando que Bonelli e sua mulher haviam estado na folha de pagamentos da petrolífera. “Ele não teve o contrato renovado, e agora escreve essas matérias.”
Em entrevista à Folha, Bonelli negou o vínculo com a petrolífera, que era controlada por capital espanhol e foi expropriada pelo governo argentino. “Todos os meus pagamentos estão declarados à Afip [Receita Federal]. As pessoas veem que trabalho na televisão todos os dias, no rádio no fim de semana, o jornalismo é minha única fonte de renda e continuará sendo.” Bonelli admite, porém, que a mulher prestou serviços em 2007 à YPF, como professora de inglês.
O jornalista é uma das principais estrelas do canal Todo Notícias, do Grupo Clarín, além de apresentar um telejornal por outra emissora da empresa e escrever regularmente no jornal impresso.
“Se não fosse verdade, ela não teria se incomodado”
O Clarín está em guerra com o governo desde 2009. “Não é a primeira vez que sofremos um ataque. O fato de ser em cadeia nacional, e de apontar apenas para um jornalista, é sinal de que a situação está mais grave.”
Com relação à informação sobre o presidente da YPF, Bonelli diz que tem certeza do que publicou no jornal.
“A informação foi checada e cruzada, é verdade. A presidente não gosta de ver informações de bastidores publicadas. Se não fosse verdade, ela não teria se incomodado tanto.”
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[Sylvia Colombo, da Folha de S.Paulo]