Thursday, 21 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Os perigos que rondam o (e)leitor

No programa de TV do Observatório da Imprensa exibido na terça-feira (11/9) me chamou a atenção a análise do cientista político César Romero Jacob, professor da PUC/RJ, que alerta para o perigo que ronda as classes populares que continuarão suscetíveis, segundo ele, às velhas práticas clientelistas vindas de toda a espécie de candidaturas populistas. Como antídoto, ressalta que este discernimento só se consegue via escolaridade. Disse mais. Somente os setores escolarizados estão suficientemente preparados e em condições de melhor se informarem via mídia televisiva e, principalmente, impressa. A classe chamada popular fica, assim, à mercê de religiosos pentecostais fundamentalistas, de lideranças populistas e, principalmente, de dinheiristas que veem um cargo político como o caminho mais curto para o enriquecimento pessoal.

Ao meu juízo, esta é uma análise parcialmente verdadeira. Parcialmente porque desconsidera o poder do chamado coronelismo midiático, também chamado coronelismo eletrônico (ver aqui), pesquisa de Venício A. de Lima e Cristiano Aguiar Lopes que remete para um novo tipo de coronelismo não mais assentado no voto de cabresto praticado nos grotões, e sim, no bombardeio ideológico feito pela grande imprensa em defesa dos interesses dos 1% mais ricos.

O mascaramento dos “cães de guarda”

Quem é classe média – ou nova classe média – e/ou convive com amigos e colegas de alta escolaridade e de classe média alta, sabe o quanto se naturalizou nestes leitores de jornalões e revistas semanais (que seriam, ou, deveriam ser, segundo o cientista politico, os melhores preparados), o discurso gestado no Consenso de Washington, um kit de conceitos e clichês que coloca a culpa de todos os males nos políticos e no Estado e exalta o “espírito animal” dos empreendedores da iniciativa privada, os únicos capazes de trazer a bem-aventurança na terra. Discurso que sobreviveu à mãe de todas as crises, que foi a de 2008 (pirâmide Madoff), ponto culminante de uma sucessão de crises vivenciadas desde o início da hegemonia do neoliberalismo – regime defensor e mantenedor deste discurso – que sucedeu ao fim do socialismo real e à queda do muro de Berlim.

A partir destas condicionantes sociais, econômicas e ideológicas que montam um cenário futuro nada admirável, fica difícil entender como a despeito de tudo conspirar contra as forças democráticas e progressistas estas conseguem sobreviver e até avançar, ainda que sob o ataque vindo tanto de baixo como de cima da pirâmide social. Resta acreditar na existência de uma sabedoria popular que percebe e, principalmente, sente no dia-a-dia as contradições do sistema econômico, político e social a despeito de todo o mascaramento encenado pelos “cães de guarda” que defendem os interesses de poucos em detrimento da maioria. De outra parte, o papel crítico dos usuários da internet (mídias sociais) ao atingir os grotões, os bairros populares e a classe média funciona como contraponto ao discurso neoliberal feito pela grande imprensa, às práticas populistas e ao discurso fundamentalista dos pastores pentecostais.

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[Jorge Alberto Benitz é engenheiro e consultor, Porto Alegre, RS]