Enquanto nos Estados Unidos os candidatos à presidência utilizam a internet com maestria para conquistar os eleitores, aqui no Brasil deparamos com a falta de interesse dos marqueteiros tradicionais, que menosprezam o poder dessa nova mídia. Se levarmos em conta que o número de pessoas com acesso à internet no Brasil já soma mais de 82,4 milhões – o que corresponde a 43% da população brasileira – e que essas pessoas passam cerca de cinco horas por dia nas mídias sociais e fazem uso cada vez mais diversificado delas, chegamos à conclusão de que se trata de uma mídia muito valiosa para ser desperdiçada. Das duas, uma: ou os marqueteiros temem perder o status que conquistaram a partir das Diretas-Já, pois não dominam esta nova mídia, ou ignoram o muito que se consegue com a aplicação de uma boa estratégia digital.
Tudo indica que a democracia não vai escapar das mudanças provocadas pela internet, a exemplo do que já ocorreu com as empresas 2.0. Desde o momento em que os primeiros estrategistas de Business Intelligence identificaram o poder das mídias sociais, todos os passos de seus consumidores são monitorados e as informações, incorporadas à rotina das equipes de marketing. Uma pesquisa da Pew Research Center's Internet & American Life Project mostrou que em 2010 mais da metade dos adultos norte-americanos obteve na internet informações sobre as eleições no país. Esse índice – de 54% dos adultos – equivale a cerca de 127 milhões de pessoas e representa 73% dos adultos usuários de internet nos Estados Unidos.
A pesquisa revelou que 32% dos usuários de internet adultos tiveram nela seu principal meio de informação ou de envolvimento com a campanha eleitoral. E 22% usaram o Facebook, o Twitter ou outra mídia social para fins políticos. A pesquisa mostrou, ainda, que os usuários tendem a acessar conteúdos e informações de candidatos ou campanhas com os quais estão ideologicamente alinhados e a eles aderir. Barack Obama, então candidato a presidente, desenvolveu uma excelente estratégia na internet e, reunindo colaboradores de forma inédita, superou os seus adversários, conquistando eleitores e doadores para a sua campanha.
Toda a ação feita na internet pode ser medida
Na campanha eleitoral de 2012 a equipe de Barack Obama volta a dominar. Suas comunicações online estão ainda melhores do que em 2008. Um estudo feito pelo Centro do Pew Research de Projetos de Excelência em Jornalismo revelou que Obama faz uma média de 29 tweets por dia – 17 em seu perfil @BarackObama (sua conta vinculada à presidência) e 12 no seu perfil @Obama2012 (conta associada à sua campanha). A Burson-Marsteller, consultoria responsável pelo estudo Twiplomacy, informa que Obama começou a campanha presidencial com cerca de 17 milhões de seguidores. A grande inteligência da campanha de Barack Obama está em utilizar os meios digitais para focar em grupos-chave para a eleição, como os hispânicos, as mulheres e os jovens americanos, todos eles vitais para a conquista da vitória nas eleições presidenciais.
Aqui, no Brasil, nas últimas eleições presidenciais ocorreu um fenômeno similar e a internet foi fundamental para o segundo turno. O candidato José Serra e a candidata Marina Silva destacaram-se na web, mudando drasticamente o cenário que apontava para a vitória de Dilma Rousseff já no primeiro turno. O fato é que a internet provocou uma intensa transformação no comportamento da humanidade e na forma de fazer política. Foi assim anteriormente, com o rádio e com a televisão, porque o surgimento de novas mídias resulta em novos hábitos e práticas. A internet acrescenta à nossa vida algo que ainda não ocorria em outras mídias: a interatividade. No mundo virtual o candidato pode estabelecer uma interação com o seu público-alvo, ao mesmo tempo em que pode conferir se ele manifesta um interesse maior pelo que está publicando e ainda interfere, dando sua opinião, contrária ou favorável àquilo que sua campanha compartilhou na rede.
Interagir é o mais importante, porque na web não é permitido falar como se se estivesse num tradicional comício. Vale lembrar que nesse espaço democrático, antes de falar, é melhor escutar, compartilhar, trocar experiências, dividir e discutir pontos de vista. O eleitor mostra seu interesse na medida em que participa – um clique num link; as respostas (@reply) e RTs no Twitter; os “curtir”, “compartilhar” e comentários no mural do Facebook e também em sites, blogs e vídeos publicados no YouTube. E o que é fantástico: toda a ação feita na internet, seja ela num site ou em mídias sociais, pode e deve ser medida.
2 milhões de jovens vão às urnas pela primeira vez
Monitoramento na internet dá ao candidato vantagem competitiva. Identificar quem são os influenciadores de uma comunidade, as necessidades daqueles que lá residem, saber o que essas pessoas pensam e os problemas que enfrentam fazem toda a diferença na hora do diálogo com o eleitor.
Importante também é monitorar os adversários, mapear seus ativistas mais influentes nas mídias sociais. A internet possibilita agilidade para esclarecer mal-entendidos, responder a críticas, desmentir boatos e agradecer o apoio de quem expressa sua opinião.
Nas eleições municipais deste ano no Brasil, quase 2 milhões de jovens vão às urnas pela primeira vez. Dados recentes divulgados pelo Tribunal Superior Eleitoral apontam que 41,36% do eleitorado brasileiro tem menos de 34 anos. Falamos, aqui, de jovens que respiram tecnologia e vivem conectados – por computador ou smartphones. Essa imensa parcela de eleitores está na internet, interagindo nas redes sociais. Ou você acha que eles vão ficar na frente da TV assistindo ao horário eleitoral gratuito?
***
[Luiz Alberto Ferla é CEO da Talk, Knowtec, Keepingup e DDBR, grupo de empresas de soluções digitais]