Sunday, 22 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Os motivos que levaram à queda de Russomanno

Uma semana já se passou desde que o ex-candidato à Prefeitura de São Paulo, Celso Russomanno, foi derrotado pela surpresa e nas urnas. Após quase um mês liderando as pesquisas de intenção de voto, o candidato do PRB teve só 21,60% dos votos válidos e sequer foi ao segundo turno. Segundo ele, isso se deve ao pouco tempo de TV e que “os partidos políticos se uniram e nos bombardearam. Faz parte do processo democrático eleitoral”.

Celso que, na primeira pesquisa Ibope, divulgada em 21 de agosto, tinha 31% dos votos, e que depois passou para 35%, nunca se queixou, durante este tempo de larga vantagem sobre o segundo colocado, José Serra, do PSDB, de ter pouco tempo de TV. Afinal, para o “candidato sem propostas”, isso caiu como uma luva e, em seu programa, o famoso populismo ficou marcado: “O meu padrinho, a minha madrinha é você.”

Desde o começo da cobertura das eleições, e dessa ascensão de Russomanno, especialistas diziam que isso era passageiro e que, quando o horário eleitoral começasse, era natural sua queda. Pois bem. Isso não aconteceu. E só fomos ficar cientes dessa queda praticamente uma semana antes da votação.

Concordo com o Celso. Em parte. Foi a TV (a mídia como um todo) que derrubou o candidato. Mas a culpa não é dela, e sim, do próprio candidato. Russomanno entrou muito bem assessorado nessas eleições. Sabia das polêmicas que envolviam seu passado como repórter e do presidente do seu partido ser bispo da Igreja Universal. Acontece que jornalista sabe colocar o entrevistado na parede. E foi assim que Celso “perdeu a linha” algumas (muitas) vezes durante entrevistas. Eis que surge o bordão: “Vamos falar de São Paulo?”

O poder da TV Globo

Confesso que descobri um Celso Russomanno bipolar. Simpático quando lhe convinha, e um tanto quanto arrogante quando indagado sobre essas polêmicas. Poderia enumerar aqui quantas vezes o ex-candidato do PRB usou de seu bordão para desviar o assunto. Mas vou ficar com a mais importante e que deu origem à queda dele nas pesquisas: o bate boca com o apresentador César Tralli, no SPTV 1.

Eis que, então, Celso Russomanno virou pauta no Facebook e no Twitter. Após uma discussão calorosa com o apresentador César Tralli, do SPTV, o ex-candidato do PRB à Prefeitura de São Paulo arrumou uma bela dor de cabeça.

Só para citar outro exemplo, foi assim na sabatina Folha/UOL quando discutiu com Bárbara Gancia; foi assim em sua sabatina pelo portal Terra; com Fabíola Cidral na Rádio CBN; em todos os veículos que ele deu entrevista e quando foi questionado sobre tais assuntos, esta “deselegância” aconteceu. Discutir com Tralli foi o maior erro de Russomanno. Até então, as pessoas desconheciam esse lado “desconversador” do candidato, uma vez que os veículos citados acima são de elite. Quando isso caiu no eleitorado popular, que é justamente o público do SPTV… começou o declínio.

Na primeira pesquisa pós-entrevista SPTV, o candidato manteve a liderança. O que já foi um sinal de alerta. Deixou de subir. Após isso, caiu para 30% e, na última pesquisa, ficou com 25% das intenções de voto, ficando tecnicamente empatado com José Serra. O vídeo da entrevista foi compartilhado aos montes e isso também influenciou, e muito, nessa mudança de pensamento do eleitorado. E a TV Globo, que sempre é julgada por sua manipulação, neste caso nada de esforço fez para derrubar e desmascarar alguém.

Esbarrando na arrogância

No dia 3 de outubro, Edir Macedo, em seu blog pessoal, publicou um texto de autoria de um “amigo” onde se tem cinco motivos para não votar em Fernando Haddad, do PT, e cinco motivos para votar em Celso Russomanno. Isso porque o candidato sempre negou que havia ajuda na campanha vindo da Igreja Universal. Foi o tiro de misericórdia. Por fim, ao saber do resultado das urnas, Celso parece ter deixado de vez o lado ‘bom moço’ e mostrou a todos sua arrogância. Prova disso é a resposta que deu à repórter do CQC, Mônica Iozzi, em entrevista coletiva concedida logo após o término da apuração.

O diálogo travado entre os dois:

Mônica Iozzi: Deixa eu fazer uma pergunta pra você, Celso?

Celso Russomanno: Não.

Mônica Iozzi: Por que não?

Celso Russomanno: Porque agora nós estamos falando de coisa séria.

Mônica Iozzi: Mas é sério. Vou falar de pesquisa.

Vale lembrar que, em programas anteriores, o candidato sempre respondeu com bom humor à equipe do CQC. A culpa não é do tempo de TV, Celso. A culpa é, única e exclusivamente sua! O senhor, Celso, que é também um jornalista, não soube tratar sua classe procurando esquivar de questões pessoais. Assim, acabou esbarrando na arrogância e, por fim, chegou ao fundo do poço!

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[Jaiane Valentim é jornalista, Diadema, SP]