Em 1933, os alemães resolveram construir um campo de pouso para o zepelim em Santa Cruz, no Recife. O aeroporto foi feito pré-fabricado na Alemanha, transportado por navio, montado e, a partir de 1934, passou a receber o dirigível Graf Zeppelin, que fazia a rota Alemanha-Brasil regularmente. Varava o Oceano Atlântico numa época em que os aviões não tinham autonomia para tanto.
Quando a revista ilustrada alemã Koelnische Zeitung, entusiasmada pelo dirigível e pela façanha alemã, publicou uma reportagem sobre o campo de pouso de Santa Cruz, já influenciada pela ideologia nazista (Hitler subiu ao poder justamente em 1934), colocou em letras garrafais, como título: “Senegaleses e Negros” se referindo pejorativamente à população brasileira.
Os alemães que viviam no Brasil, principalmente os chamados “novos alemães”, altamente politizados, já estavam organizados em torno das casas alemãs, instituições pró-nazistas instaladas principalmente no sul do Brasil. Eles “pisavam em ovos” defendendo veementemente sua causa racista, mas não querendo ofender os brasileiros. O chefe Hoffmann, do Paraná, enviou uma correspondência ao chefe de imprensa em Berlim, depois apreendida pelo Deops, pedindo que se evitasse este tipo de abordagem pois os “brasileiros poderiam se ofender por serem chamados de senegaleses”.
Miscigenação evita patologias genéticas
Se olharmos novamente o episódio sob o ponto de vista atual, tal referência dessa revista seria execrada e punível, dada a sua clara intenção. Mas como os valores mudaram, a ofensa não teria a mesma força porque sabemos que a cor da pele não qualifica ninguém e a maioria dos afrodescendentes até se orgulham de sua condição étnica. E o termo “senegalês” imputado aos brasileiros só pode ser interpretado como um engano geográfico.
É tão verdade que até o conceito de “raça” daqueles tempos e muito usado pelos nazistas, mudou. Hoje se considera que existe uma só raça, a humana, e dentro dela, uma infinidade de etnias, cada uma com suas diferenças.
E que nos orgulhamos da miscigenação brasileira. Ela é saudável também porque evita as patologias genéticas. E aqui, cada etnia respeita – por bem ou por mal – a outra.
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[Luiz Ernesto Wanke é professor aposentado, Curitiba, PR]