Quando o golpe militar eclodiu, em 31 de março de 1964, a quebra da ordem institucional vigente, causada pela deposição do presidente João Goulart, legalmente no poder, não foi aceita por unanimidade nos quartéis. Várias vozes se levantaram na caserna e militares que se opuseram ao golpe foram cassados, perderam salários, patentes ou foram presos por expressarem sua discordância.
A fim de recuperar essa história, a Comissão Nacional da Verdade criou um grupo de trabalho para apurar as violações de direitos humanos sofridas pelos militares que se opuseram ao golpe militar. O grupo é coordenado pelo ex-procurador-geral da República Cláudio Fonteles e terá a colaboração dos membros Rosa Cardoso e Paulo Sérgio Pinheiro. As atividades do GT começaram na quinta-feira (11/10), no Rio, com a coleta do depoimento do brigadeiro Rui Moreira Lima, de 93 anos, herói da 2ª Guerra Mundial, que participou de 94 missões com aviões de caça na Itália. Lima contou aos membros da Comissão Nacional da Verdade José Carlos Dias e Rosa Cardoso detalhes da repressão sofrida por ele e outros colegas de farda que se opuseram ao regime.
Especialistas no tema também já estão sendo ouvidos pela CNV para indicar informações sobre essa linha pesquisa. Em seu depoimento, Moreira Lima também foi questionado a respeito dos antecedentes do golpe. Para ele, o grupo que tomou o poder à força era uma minoria dentro das Forças Armadas. Perguntado se procede a tese apresentada no livro 1964 – O DNA da Revolução (dos ex-oficiais Jônathas de Barros Nunes e Gastão Rúbio de Sá Weyne), que afirma que todo o golpe foi engendrado por cerca de 300 oficiais, o brigadeiro não teve dúvidas: “Não li o livro, mas os autores devem estar com a razão. Foram poucos.” “Esse golpe de 64 veio andando, andando”, afirmou o brigadeiro, lembrando seguidas quebras da ordem institucional, como a junta militar que, em 1961, assumiu o poder enquanto o cargo de presidente ficou vago após a renúncia de Jânio Quadros, uma vez que João Goulart estava em visita oficial à China.
Moreira Lima foi preso três vezes: a primeira delas em 2 de abril de 1964, quando foi deposto do comando da Base Aérea de Santa Cruz, pois Moreira Lima se opôs ao golpe. “Vários colegas foram presos, acusados de serem comunistas. Sempre prenderam os comunistas, desde 1930. Eu trabalhei com comunistas, na Petrobras, mas sempre fui um homem de pensamento livre. Em 64, fui o primeiro a ser preso que não foi os de sempre”, afirmou. Depois de ser processado, preso mais uma vez em 1964, e aposentado compulsoriamente, Moreira Lima partiu para a iniciativa privada. Trabalhava com patentes em 1970, quando foi sequestrado por uma equipe da Polícia do Exército a serviço do DOI-Codi. “Quando cheguei lá, meu filho Pedro já estava sequestrado. Ordenei que ele fosse embora”, disse o brigadeiro. O filho foi liberado, mas o brigadeiro ficou três dias preso sem acusação formal, numa cama de três pernas, com colchão fino e equilíbrio precário, o que lhe causou privação do sono. “Quando eu precisava fazer necessidades, era vigiado por um soldado o tempo todo, apontando uma metralhadora”, contou Moreira Lima.
Ao todo, Moreira Lima afirma que ficou 200 dias preso nos três episódios – dois em 1964 e o de 1970 –, além de constantes ameaças de prisão e convites para “visitar” dependências do setor de inteligência, além do constante monitoramento que causava terror à família e vizinhos. Além do depoimento, gravado em áudio e vídeo pela Comissão Nacional da Verdade, o brigadeiro Rui Moreira Lima entregou à CNV cópias de documentos relacionados aos processos e prisões que sofreu durante o regime militar. “Esperava muito do depoimento do brigadeiro e ficou comprovado que muitos militares sofreram violências em razão da ditadura”, afirmou o membro da Comissão Nacional da Verdade José Carlos Dias. “O depoimento do brigadeiro certamente fará parte do relatório final da Comissão e abriu vários caminhos para a investigação do GT que apurará as violações de direitos humanos sofridas por militares que se opuseram ao regime”, disse Rosa Cardoso (Pedro Luiz Moreira Lima, economista, Rio de Janeiro, RJ)
Pesquisas eleitorais
Acabei de assistir ao programa. Aqui em Niterói, as pesquisas publicadas erraram feio no tocante ao terceiro e ao quarto candidato. Davam como terceiro colocado o senhor Sérgio Zveiter, com 8%, e em quarto o candidato do PSOL, Flávio Serafini, com 2%. E o resultado foi que o Flávio ficou em terceiro disparado, com quase cinquenta mil votos, e o Zveiter com oito mil. Será possível errarem tanto assim? Creio que pelo fato das estatísticas se apresentarem com números, tendem a ser consideradas como uma ciência exata. E os institutos de pesquisa não são humildes, como agora foram os seus representantes no programa. Os jornais as publicam nas primeiras páginas sem o devido esclarecimento da relativa desimportância das mesmas. Acho que os jornais estimulam a falsa credibilidade das pesquisas, dando-lhes muito vulto. No mínimo, deveria haver sempre um aviso claro da tremenda inconstância e falibilidade delas (Hermes Pessôa Tinoco, funcionário público, Niterói, RJ)
Comentaristas econômicos
É um negócio estranho. 90% dos comentaristas econômicos da imprensa brasileira são invariavelmente contrários à política econômica do governo, não importa quais medidas ele tome na área. Apesar de todos acertos inegáveis desde o Plano Real, ainda no governo Itamar Franco, formou-se na crônica econômica nacional uma oposição cerrada de botar no chinelo PSDB e DEM. A artilharia se estendeu às páginas de economia dos jornalões aos editoriais, TV e imprensa em geral, incluindo revistas. Uma unanimidade burra, indigna de Nelson Rodrigues. Encontrar um economista ou jornalista especializado que não malhe tudo que os ministros da Fazenda, Planejamento e mesmo o presidente do Banco Central faça é procurar agulha no palheiro, de onde mal escapam os ex-ministros Delfim Netto e Bresser Pereira. O planejamento econômico está sob fogo cerrado em todo o mundo. Pouco depois da última hecatombe financeira dos Estados Unidos, e depois da Europa, os economistas do governo britânico – vários deles mestres de economistas brasileiros – foram pessoalmente questionados pela rainha da Inglaterra porque não haviam previsto o mínimo do desastre. Ao mesmo tempo, analistas econômicos, como o Prêmio Nobel Paul Krugman – como se pode ler em seus artigos traduzidos no Brasil –, continuamente passaram a condenar a política econômica neoliberal que predominava em organismos internacionais como o FMI. Política ao pé da qual continuam ajoelhados a maior parte dos economistas brasileiros fora do governo. O mesmo Krugman vem elogiando a política econômica do governo Barack Obama, que está milhas longe em popularidade da do governo Dilma Rousseff. Sem sair das nuvens escuras de seu economês, os comentaristas econômicos de nossa imprensa só podem ser reconhecidos por sua constante e insuportável afetação de pseudosábios criadores de piadinhas como a do pibinho. Em boa parte escolados em PhDs estrangeiros e corporações financeiras multinacionais, e quase sempre empresários milionários donos de empresas de consultoria, os comentaristas econômicos do Brasil não possibilitam qualquer reflexão ao leitor que não o governo viver roubando o cidadão. Fim da dívida externa, fim da dívida com o FMI, autossuficiência energética, controle da inflação, aumentos de empregos, queda de juros, corte de tarifas, nada disto serve aos negócios deles. (Zulcy Borges de Souza é jornalista, Itajubá, MG)
TVE é a primeira emissora a ter apresentadora com baixa visão
O Cidadania, transmitido ao vivo pela TVE nas segundas, quartas e sextas às 19h, é o primeiro programa da televisão brasileira aberta a ter um quadro comandado por apresentadora com baixa visão. Com novo formato e abordagem ampla de conteúdos, o Cidadania reestreou em setembro, incluindo em sua pauta a acessibilidade, tema abordado pela jornalista e mestre em Letras Mariana Baierle. “Quero que as pessoas me enxerguem além da minha deficiência visual, pois ela é apenas uma das minhas características. Acima de tudo sou amiga, jornalista, colega, como qualquer outra pessoa. A baixa visão não sou eu inteira”, declara Mariana. Para o presidente da Fundação Cultural Piratini, Pedro Luiz da Silveira Osório, “a radiodifusão pública não pode ficar alheia à realidade das pessoas com deficiência. Temos obrigação de abordar o assunto e promover o acesso à informação e a discussão sobre essa temática”. De acordo com dados do Censo 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no Rio Grande do Sul existem 1.900.134 milhão de pessoas com deficiência visual (17% da população), 617.244 mil pessoas com deficiência auditiva (5,7% da população), 818.450 mil pessoas com deficiência motora (7,6% da população) e 162.792 mil pessoas com deficiência intelectual (1,52% da população), totalizando 3.799.120 milhões de pessoas com deficiência (35,5% da população no RS). A TVE vem tomando iniciativas que promovam a acessibilidade a partir da assinatura de um termo de cooperação técnica com a Federação de Articulação e Desenvolvimento de Políticas Públicas para PPDs e PPAHs no RS (Faders) em 2011. Desde lá, a emissora passou a ter intérprete de Língua Brasileira de Sinais (Libras) no programa Viva Bem, transmite o programa Faça a Diferença, da TV Assembleia, e apresenta o Jornal Visual, em rede com a TV Brasil. Estas ações visam a garantir o cumprimento das diretrizes preconizadas na Convenção da ONU que trata dos direitos da pessoa com deficiência, e na Lei 13.320, de 21 de dezembro de 2009. Também é diretriz das emissoras públicas do Rio Grande do Sul contribuir para que os temas relacionados à acessibilidade entrem na pauta e na agenda do público (Anahy Metz, jornalista, Porto Alegre, RS)
Agência Lusa e jornal Público debatem-se contra a crise
Várias achegas para compreender o mau estado a que chegou o jornalismo em Portugal. O repórter João Vasco Almeida assina no seu Facebook este alerta/desabafo: “Este arrepio que agora passamos começou há muito e a culpa foi nossa. Nossa, da classe que se calou quando levaram, primeiro, os mais velhos, os da memória. Lembro-me do Afonso Praça me dizer: ‘Eles já não me querem para nada’, enquanto me perguntava como se mexia na internet, no único PC que dava acesso a essa estranha e novel rede. Lembro-me ainda dos camaradas com 50, 60 anos serem corridos das redacções ou postos naquele lugar extraordinário de ‘grande repórter’, com dossiers sem fim e histórias para compêndio que os geniais editores lhes iam dando. Acabaram, primeiro, com o respeito aos gajos que tinham memória. Depois, acabaram por sentar à secretária e ao telefone os mais novos. Depois ainda, acabaram com o tabaco, com a vodca, com todos os vícios comuns em quem cria e escreve. Higienizaram a profissão. Deram-lhe um ar de ‘produtividade’. Anos depois, ficaram dependentes da Lusa, os telexes passaram a takes. Entrou uma geração que ainda vinha de ler O Jornal, o Se7e, o Bisnau, o Tal&Qual; que se entusiasmou com o Indy. E deixaram morrer todos esses títulos. A profissão e os camaradas entenderam com a modernidade costumeira a entrada das agências de comunicação nas manchetes. Acharam que haver centrais de compras a pagar 10% por página de publicidade não era com eles. Porque o jornalista é tão impoluto que não se metia nessas coisas. Fantasiou para si mesmo que pagava o jantar com o seu talento da prosa, nunca com as páginas desprezíveis de publicidade. Depois, o Sindicato desapareceu. A Comissão da Carteira foi em procissão entregar a dita carteira a Pinto Balsemão, em mão, num número de circo que era o auge de toda a concentração dos meios de comunicação. Meia dúzia indignou-se. Outros, assobiaram. Festas e jantares confundiram-se com ‘proximidade com as fontes’. Ia-se ao baptizado do neto do deputado e ao casamento da estrela da bola, como convidado, como ‘amigo pessoal’. E era tudo normal. E os jornais concentraram-se. E o poder passou para a mão de seis pessoas. E os departamentos de RH e a ‘área do negócio’ tomaram conta das ‘orientações’ das empresas. Depois, começaram a despedir os gajos incómodos. E os mais-ou-menos contestatários. E os caros. E os mais-ou-menos caros. Abriram-se estágios pornográficos, à borla ou, ‘vá lá, pagam-lhe o passe e o subsídio de refeição’. E o Sindicato, a Comissão, a Erc, o Provedor, a comissão de trabalhadores, os conselhos de redação, calados. Nem piu. Agora, claro, tocou a todos. Mas há muito tempo que tocou a todos. Há 20 anos que andava a tocar a todos. O Eduardo Leão Maia, que além de exímio jornalista foi o tradutor inicial do Astérix que tomos lemos, dizia, por piada, duas coisas que a memória deve guardar. A primeira era sobre a atitude dos geniais jornalistas que passavam de assessores para as redacções, das redacções para as agências, das agências para Marte e que sabiam das tricas sem saber da coisa em si, sem ler um jornal que fosse – liam clippings (?). Dizia o Maia: ‘Ler jornais? O jornalista está cá para informar, não para ser informado.’ A mais dura, porém, e mais real, é a que se passa hoje. Suspirava, impedido de baforar o cachimbo, no meio de um texto qualquer: ‘Um dia, para esta gente, a leitura ainda há de ser um derivado do leite.’ Entretanto, um grupo de destacados jornalistas divulgou hoje, primeiro dia da greve dos repórteres da Agência Lusa, única agência noticiosa de Portugal, a seguinte carta aberta intitulada ‘Pelo Jornalismo, Pela Democracia’, mencionada, entre outros media, pela versão online do semanário Sol– http://sol.sapo.pt/inicio/Sociedade/Interior.aspx?content_id=61266. O mesmo jornal dá conta da onda de contestação, exercida através de petições” (Ana Catarina Rocha, jornalista desempregada, Lisboa, Portugal)