Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Qual o interesse do veículo?

Alguns veículos de comunicação brasileiros deixaram o papel fundamental do jornalismo de lado e passaram a ter como foco principal formar a opinião dos leitores. Não há dúvida de que o jornalista, por consequência de seu oficio, acabe com o título de formador de opinião. Sabemos que a total imparcialidade em relação à notícia é impossível, pois escolher quais fatos serão passados para o público já representa certa parcialidade. Porém, a busca pela informação neutra deve ser constante e tida como ferramenta principal do bom jornalista.

Talvez, no cenário atual, não deva dizer do bom jornalista, mas do bom veículo de comunicação. Afinal, a liberdade de escrever com os próprios princípios está cada vez mais extinta. Escreve-se não pensando em informar o leitor de forma clara e precisa, como aprendido teoricamente, mas com o pensamento do veículo em que se trabalha e visando aos seus interesses. Logicamente que aquele que partilha da opinião do veículo tem sorte, pois não precisa escolher entre sua sobrevivência ou ideologias próprias.

A Folha Online, no dia 06/11, dia de eleições para presidente nos EUA, tinha a primeira página inteira sobre o assunto, tão importante foi o acontecimento. Com links relacionados onde o leitor pode conhecer a trajetória dos candidatos, a Folha supostamente informa o leitor e ele escolhe quem é o melhor em sua opinião.

Anotícia e a formação de opinião

Alguns títulos e subtítulos na primeira página:

>> “Disputa entre Obama e Romney é acirrada em Estados indecisos

>> “Romney faz campanha e Obama joga basquete

>> “Histórico deixa dúvidas sobre o perfil de Romney na Casa Branca

>> “Prodígio, vice republicano prega Estado mínimo

Nos links relacionados:

>> Barack Obama – Título: Barack Obama é primeiro presidente negro dos EUA; saiba mais.

>> Mitt Romney – Título: Candidato republicano é mórmon e multimilionário; saiba mais.

Apenas através da leitura dos títulos já identificamos qual a posição da Folha em relação às eleições norte-americanas para presidente e também sua tentativa de convencer o leitor a pensar da mesma forma. O candidato Barack Obama é enaltecido enquanto Mitt Romney é “comentado”. O republicano faz campanha, Obama joga basquete, supostamente despreocupado com o resultado das eleições. Romney é mórmon e multimilionário, enquanto o democrata é o primeiro presidente negro dos EUA.

O problema: o compromisso está com a notícia ou com a formação de opinião? Deixo a resposta a critério dos leitores do OI.

Um novo tipo de jornalista investigativo

Logicamente que a Folha de S.Paulo é um exemplo e essa forma de agir não é exclusiva deste veículo. Formar opiniões já é uma tendência do jornalismo no Brasil e este dá forma a interesses próprios. Alguns veículos deixam o compromisso com a informação em segundo plano, como se fosse apenas uma consequência. A quem vive na sociedade da informação uma nova questão se apresenta: se aqueles a quem chamamos de grandes veículos de comunicação estão mais preocupados em dizer o que pensam do que em informar, o que sobra aos leitores que buscam formar opiniões próprias através destes veículos?

Ou se alienam com aquilo que vem da boca da grande mídia ou, então, utilizam todas as ferramentas disponíveis para comparação, indagação e compromisso com a verdade. Talvez os cidadãos leitores se tornem um novo tipo de jornalista investigativo: aquele que procura pela verdadeira informação para tê-la como ferramenta própria. De forma mais abrangente é possível, sim, formar a própria opinião, porém agora o leitor tem que não apenas ler a notícia, mas analisá-la, saber de onde ela veio, por que ela esta ali e o mais importante: qual o interesse do veículo?

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[Danilza Silva Gomes Queiroz é estagiária em Jornalismo, São Paulo, SP]