No final de “We Steal Secrets” (“Nós Roubamos Segredos”), documentário que Alex Gibney está concluindo sobre Julian Assange e o WikiLeaks, um letreiro descreve o destino de Bradley Manning, soldado que enfrenta julgamento por divulgar documentos secretos. “Ele foi considerado culpado de?? e sentenciado a?? anos de prisão”, diz o texto.
Os pontos de interrogação significam dados ainda não conhecidos, mas a linha sugere que Gibney não vê grande perspectiva de que Manning escape de uma punição.
É o soldado, e não Assange, que tem o papel principal em um dos vários filmes que Hollywood prepara sobre cidadãos que se tornaram maiores que alguns dos governos mais poderosos ao usar a internet para revelar segredos diplomáticos.
Com estreia marcada para o Festival de Sundance, em janeiro, “We Steal Secrets” é uma colaboração entre o produtor Marc Shmuger, que até 2009 era presidente do conselho da Universal Pictures, e Gibney, documentarista que ganhou um Oscar com “Um Táxi para a Escuridão” (2007), sobre a tortura e o assassinato de um taxista afegão por soldados norte-americanos.
Depois de sair da Universal, Shmuger criou a produtora Global Produce e passou boa parte de 2010 acompanhando reportagens sobre Assange, hacker australiano que conquistou manchetes ao tentar impor transparência a governos e empresas.
Shmuger descobriu o contato de Gibney, a quem não conhecia, e propôs um filme. O diretor, que havia acabado de concluir “Cliente 9: A Ascensão e Queda de Eliot Spitzer” (2010) -sobre o governador de Nova York que renunciou após um escândalo sexual-, lembra-se de que sua primeira reação foi tentar evitar a proposta. “Não poderia ter vindo em momento pior”, diz Gibney.
Mas ele, como Shmuger, logo se deixou cativar pelos personagens e pela bizarra narrativa que prometem fazer da história do WikiLeaks o tema de mais de um filme.
Outras produções
“Underground: The Julian Assange Story”, filme da TV australiana sobre a juventude de Assange, foi exibido no Festival de Toronto.
A DreamWorks e a Participant Media planejam começar em janeiro a filmagem de um longa de ficção dirigido por Bill Condon, que terá roteiro baseado em dois livros.
A HBO também tem planos para um filme sobre Assange, mas Nancy Lesser, porta-voz do canal, disse que a produção foi postergada. Mark Boal, roteirista e produtor de “A Hora Mais Escura”, trabalha em uma adaptação de uma história sobre Assange baseada em um artigo da revista do “New York Times”.
Com mais de duas horas, “We Steal Secrets” conta a história de Assange de maneira bastante completa. Começa em sua juventude e passa por sua detenção devido a invasões de computadores empresariais e governamentais nos anos 90, chegando à ascensão do WikiLeaks.
No filme, Gibney fala sobre ter rejeitado um pedido, feito por Julian Assange, de pagamento de US$ 1 milhão por uma entrevista. (Um pedido de comentário foi feito a um representante de Assange, mas ele não respondeu.)
No entanto, é o soldado Manning que rouba a cena em “We Steal Secrets”. Usando em parte informações contidas nos processos judiciais, o documentário mostra sua solidão, seus problemas de identidade sexual e sua incerteza com relação aos incidentes e aos comportamentos revelados em documentos sigilosos a que tinha acesso.
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Cronologia – Julian Assange e Wikileaks
FEV.2010 – O site WikiLeaks publica documentos secretos do governo dos EUA pela primeira vez.
MAI.2010 – O ex-integrante do Exército dos EUA Bradley Manning é preso, suspeito de ser o responsável pelos vazamentos. O julgamento de Manning está previsto para fevereiro de 2013.
JUL.2010 – Documentos dos EUA sobre a Guerra do Afeganistão vêm à tona pelo WikiLeaks. Assange diz que papéis revelam “real essência da guerra”.
DEZ.2010 – Acusado de abuso sexual na Suécia, Assange é preso em Londres, com fiança de R$ 540 mil.
NOV.2011 – Justiça autoriza a extradição de Assange, que recorre da decisão em prisão domiciliar.
JUN.2012 – O fundador do WikiLeaks se refugia na embaixada do Equador em Londres, onde está até hoje. Dois meses depois, o país sul-americano concede asilo político a ele. A Inglaterra se recusa a dar salvo-conduto para que Assange deixe o país em segurança.
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[Michael Cieply, do New York Times, em Los Angeles]