Thursday, 21 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Infelicidade ou parcialidade?

O jornal esportivo Lance! deu o que falar no último fim de semana de janeiro. Tudo porque a capa da edição de sábado (26/1) do Rio de Janeiro trazia a seguinte manchete: “Chupa, Corinthians“ – pois o zagueiro Dedé, do Vasco, que há algum tempo vinha negociando com o time paulista, resolveu ficar na equipe carioca. Bastou os corintianos tomarem ciência do ocorrido que as reclamações e xingamentos começaram. E os boatos de que o jornal é parcial, certamente, aumentaram.

O jornal, por meio de nota, pediu desculpas e ressaltou que “a capa de sábado se propôs, sim, a ser provocativa, a expressar o sentimento da torcida do Vasco (por isso foi publicada apenas no Rio), como tantas outras que este diário fez ao longo dos seus mais de 15 anos de existência. Provocativa, sim, mas sem ofender. E aos que tiveram essa percepção, que se registre as nossas desculpas”.

Quem acompanha pelo menos as capas do Lance! sabe que, de fato, as manchetes são brincalhonas e um tanto provocativas. Mas nada que tenha chegado a esse ponto. Ponto considerado pelos corintianos como desrespeito. O Corinthians, também por meio de nota, se manifestou: “A capa carioca do Lance! de hoje une mau gosto, inveja, desrespeito ao torcedor, ao parceiro comercial em um capítulo triste do ‘jornalismo’ esportivo”.

Credibilidade em queda

A parcialidade do jornal não é exclusividade da edição do Rio. Em São Paulo, o diário é considerado corintiano. Vale lembrar que, quando o Corinthians eliminou o Vasco, nas quartas de final da Copa Libertadores do ano passado, a manchete do Lance! São Paulo foi “PQPaulinho“ – acrônimo que faz referência a um palavrão. Após críticas, o jornal se explicou, dizendo que o “PQP”, nesse caso, significava “Paulinho, querido Paulinho”. Seria a chance do Lance! dar o troco? Talvez…

Ainda de acordo com a nota do Lance! “a expressão ‘Chupa’, como se sabe, faz parte do vocabulário do futebol. Está nos estádios, nos bares, na boca dos torcedores”. É importante dizer que a expressão “chupa” é recente no vocabulário futebolístico. E a conotação dela é chula e, em alguns casos, pejorativa. As provocações entre os torcedores de futebol sempre foram muito divertidas; porém, com o passar dos anos, as pessoas se ofendem cada vez mais e é esse tipo de coisa que dá margem para brigas entre as torcidas que, vez ou outra, acabam em mortes.

E é esse tipo de “jornalismo” que faz com que a credibilidade do jornalismo esportivo caia. Quiseram transferir as brincadeiras que acontecem dentro dos estádios, nas conversas dos bares, para as bancas.

Rixa não deveria parar nos jornais

O jornalismo, seja ele político ou esportivo, deve priorizar a seriedade. O Lance!, por mais que tenha querido expressar a reação dos torcedores vascaínos, pecou pelo termo usado. Há outras formas de informar com diversão. Tudo bem que a circulação daquela edição se deu apenas no Rio de Janeiro – onde se concentra o público alvo da manchete –, mas sendo o Lance! grande como é, e tendo em vista a proporção que as coisas tomam na internet, certamente isso, logo logo, chegaria a São Paulo – como acabou acontecendo.

A expressão “Chupa, Corinthians” deixa escancarada a rixa entre São Paulo e Rio. Mas essa rixa não deveria parar nos jornais. Não assim. Deixasse isso para os torcedores. Para as conversas de bar. Essa é a função deles: sacanear uns aos outros. A do jornal, não. A função do jornal é informar, embora isso, muitas vezes, não aconteça.

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[Jaiane Valentim é jornalista, Diadema, SP]