Não raramente, são vistas na mídia críticas pertinentes de que há manipulação nos meios de comunicação, mas é preciso analisar essa questão além do conteúdo. Ninguém faz nada sem sentir prazer, salvo sob coação. Inclusive, televisão e computador não ligam sozinhos, nem jornais “pulam” nas mãos dos leitores e, tampouco, há lei obrigando o sujeito a ouvir rádio. Há sujeito refratário a qualquer crítica de manipulação, exemplo: tente convencer algum jogador de que o jogo de futebol que seu time venceu teve o resultado manipulado. Nunca vai admitir, pois para ele a manipulação é normal; mas se fosse o contrário, seria crime. A manipulação é interesseira e transita de todos os lados. Eleições políticas são manipuladas com o auxílio da mídia, tanto é que os grandes políticos sempre recorrem às concessões públicas de rádio e televisão para se manterem no poder.
Como exemplo recente pode ser citado o caso da Itália, onde o polêmico bilionário Silvio Berlusconi, detentor de considerada parcela da mídia italiana, voltou ao cenário político bem posicionado graças à “manipulação” e aos italianos que sentem prazer em ser manipulados. Quando os EUA utilizam a mídia para denunciar “ameaças” terroristas em solo americano em vésperas de eleições, estão na verdade manipulando os eleitores, sugerindo que os americanos somente estarão seguros se continuarem com o atual governo que “luta” contra o terrorismo.
Senso comum
Não há dúvida que considerável parcela do conteúdo publicado pela mídia esteja a serviço de interesses outros que não seja o do destinatário: o leitor, o telespectador, o ouvinte… As Bolsas de Valores vivem também da especulação e da manipulação de resultados, mas veja que os investidores continuam operando normalmente como se nada demais ali ocorresse, sugerindo que é uma jogatina manipulada aceitável… Exemplo atual foi a oferta das caríssimas ações do Facebook nas Bolsas de Valores que, após alguns pregões, despencaram na mesma velocidade em que subiram, mas nenhum investidor desistiu de investir nas Bolsas…
A Grande Depressão, nos EUA, em 1929, quando a economia global ruiu num efeito dominó, nada mais era do que manipulação no mercado de ações. Pode até ser duro, mas muitos sentem prazer na manipulação, pois além de ser cômodo não contestar, ou mostrar a contradição, muitos fatos caem no senso comum e é melhor não mexer sob pena de ser considerado “polêmico”. Um antigo provérbio ensina: “Preocupe-se de guardar apenas os pequenos segredos, pois nos grandes, mesmo quando revelados, ninguém acredita”…
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[Luís Olímpio Ferraz Melo é advogado e psicanalista, Fortaleza, CE]