Em 2011, ao comentar a venda de uma primeira página da Folha de S.Paulo para uma franquia de cursos de inglês, Alberto Dines afirmou que “na última década as primeiras páginas começaram a ser sistematicamente desmoralizadas num conluio entre agências de publicidade desejosas de exibir sua pseudo-ousadia e departamentos comerciais interessados apenas em atender as metas de faturamento e ganhar o seu bônus” (ver “‘Folha-shit’, a invenção genial“).
Agora, numa variante da conspurcação das primeiras páginas com publicidade, o jornal O Globo (domingo, 3/3/2013), criou o jornalismo-lobby, com a apresentação edulcorada do projeto de Eike Batista para a nova Marina da Glória. Com o título ardiloso de “Nova Marina vai se camuflar no Aterro”. Embora comece dizendo que o projeto é polêmico, no texto-legenda da planta humanizada o jornal escancara o seu lobismo destacando que o projeto já foi aprovado pelo Iphan.
Uma coisa é o jornal defender, em editoriais, projetos entendidos por ele como avanço para a cidade; outra, e muito diferente, é apresentar na primeira página de uma edição nobre – domingo – uma chamada para uma matéria de alto de página com o título “Desvendados os mistérios da nova Marina” e o subtítulo faccioso “Revitalização de área tombada prevê mais 333 vagas de estacionamento, centro de convenções e 50 lojas”.
Privatização do aterro
Na apresentação dos “Princípios Editoriais das Organizações Globo“ está dito:
“Pratica jornalismo todo veículo cujo propósito central seja conhecer, produzir conhecimento, informar. O veículo cujo objetivo central seja convencer, atrair adeptos, defender uma causa faz propaganda. Um está na órbita do conhecimento; o outro, da luta político-ideológica.”
Eles estão certos: o jornal O Globo está na luta político-ideológica de privatização do aterrodo Flamengo. Por isto, o lobby pelo projeto de Eike Batista e a manipulação de uma informação jornalística.
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Marcus Miranda é jornalista