Sunday, 22 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Um passo maior do que as pernas

Todas as vezes que o jornalismo brasileiro deu um passo maior do que as pernas apoiado em análises sociológicas reforçadas por investigação, a mídia como um todo saiu ganhando, para o público leigo, mesmo quando as matérias são usadas como bandeiras, um erro frequentemente usado pela revista Veja.

O advento da internet com a fixação de novos paradigmas e uma profunda revolução semântica impulsionada pela velocidade conduziu o jornalismo à condição de refém da sociologia, no momento em que ela, enquanto ciência que estuda a sociedade, perdido seu apogeu da influência de Karl Marx, se escora no equilíbrio e na isenção de Max Weber.

Essa discussão é aparentemente distante da conjuntura da mídia brasileira, mas só aparentemente porque à medida que eclodem profusamente novos meios de comunicação, numa frenética disputa de acessibilidade, mais e mais se requer a preponderância de critérios técnicos e sociológicos mais isentos na eleição, por exemplo, de novos focos para a sociedade.

Os meandros da burocracia estatal

Em menos de 250 anos, a sociologia deu um salto qualitativo tão importante que só impulsionou e enriqueceu o jornalismo. Para isso, foi notável e determinante a presença de três alemães: Karl Marx (1818-1883), Emile Durkheim (1858-1917) e Max Weber (1864-1920). Durkheim deu um escopo analítico amplo e profundo à sociologia. Marx colocou emoção na sociologia, disponibilizando-a às causas sociais. Weber criticou as posições dos dois primeiros, absorveu algumas delas e formulou a chamada isenção metodológica. Ou seja, a sociologia deve estar a serviço da sociedade, mas para estudá-la, compreendê-la, nunca para tomar posição a favor ou contra nada.

Seguramente, o jornalismo investigativo nem precisou da sociologia para dar seu passo mais decisivo no último século. Não se pode negar ter sido o repórter Julian Assange, do WikiLeaks, que ano passado pôs vários órgãos e governos de cabeça para baixo ao conseguir penetrar nos meandros da burocracia estatal para detectar várias irregularidades em alguns países. E essa renúncia do papa Bento X16 foi estimulada pela confirmação da investigação eletrônica de Assange sobre rombos no banco do Vaticano, corrupção e prática de pedofilia dentro da Igreja.

Assange apontou o caminho do novo jornalismo, emprestando à atividade profissional a vitalidade perdida para a reflexão de gabinete ou o puro exercício da percepção.

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Reinaldo Cabral é jornalista e escritor