Wednesday, 18 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1318

Cobrança por conteúdo online avança no mundo

Os jornais, que antes relutavam em cobrar os leitores pelo acesso aos seus sites, converteram-se ao novo modelo. Em muitas economias desenvolvidas da América, Europa e Ásia, proliferam os chamados “paywalls” (cobrança pelo acesso ao conteúdo dos sites), para tentar compensar a queda da receita dos seus produtos impressos.

A publicidade online, outrora considerada a grande esperança do futuro, começou a estagnar, contribuindo para acelerar a pressão por novos modelos de negócios na internet. “Por que agora?”, perguntou Douglas McCabe, analista da Enders Analysis em Londres. “As perspectivas da publicidade digital para todos os sites, com exceção dos maiores, parecem cada vez mais complicadas. Portanto, é crucial que os serviços de notícias procurem experimentar outros modelos de assinatura.”

A tendência acabou convencendo alguns grandes títulos, como o Washington Post, que em março informou que começará a cobrar dos leitores online. O San Francisco Chronicle também anunciou recentemente seus planos para introduzir as assinaturas digitais. Com isso, o número de jornais americanos que cobram pelo conteúdo online subiu para mais de 300.

Na Europa, a recente conversão foi ainda mais impressionante. Na semana passada, oTelegraph Media Group, que edita os maiores jornais da Grã-Bretanha, afirmou que começará a cobrar os leitores britânicos pelo acesso ao conteúdo online, uma vez que já adotava o pagamento para os internacionais. O maior tabloide britânico, The Sun, também confirmou planos para a cobrança de assinatura.

No mês passado, na Suíça, o Tages-Anzeiger, o jornal de qualidade de maior circulação na região de língua alemã do país, anunciou seus planos para a adoção do novo modelo de cobrança, imitando seu principal rival, o Neue Zurcher Zeitung, que fez isso no ano passado. Na Alemanha, o Schwabisches Tagblatt tornou-se o 35.º jornal a introduzir o paywall. Entre os principais diários nacionais, o Die Welt começou a cobrar o acesso online, e o Bild pretende fazê-lo no verão.

Outras editoras alemãs disseram que estudam o caso. “Não há quase mais ninguém que resista ao modelo”, disse Tobias Frohlich, porta-voz da Axel Springer, que publica os dois jornais.

Na Ásia também começa a surgir a cobrança das assinaturas, e publicações como Asahi Shimbun e Nihon Keizai Shimbun, no Japão, e The Strait Times, de Cingapura, deverão começar a cobrar pelo acesso.

As publicações que adotaram o paywall poderão testar alguns pressupostos antigos na questão das tarifas. Na Grã-Bretanha, por exemplo, as editoras costumavam afirmar que seria impossível que os jornais conseguissem convencer os leitores a pagar pelo noticiário online; embora o jornal britânico The Financial Times tenha sido o pioneiro do novo sistema, alguns analistas atribuíram seu sucesso ao seu conteúdo especializado na sua área de negócios e ao fato de que muitos dos seus clientes pagam pelas assinaturas sob a forma de despesas corporativas.

Transição

Algumas particularidades do mercado britânico tornam a transição para os jornais em geral mais difícil na Grã-Bretanha do que em outros países. Uma delas é a taxa elevada das vendas em bancas em comparação à entrega em domicílio, que predomina nos Estados Unidos e na Alemanha. É mais fácil comercializar novos serviços, como acesso online pago, aos assinantes antigos do que a clientes anônimos numa banca.

Os tabloides britânicos também tiveram de responder a questões sobre a sua credibilidade depois do escândalo da invasão dos telefones, que provocou o fechamento doThe News of the World, irmão do The Sun, da News Corp.

A popularidade do site de notícias da BBC, que na Grã-Bretanha deve ser gratuita, é mais um obstáculo para as editoras online concorrentes. Entretanto, depois das últimas adesões ao modelo, somente dois jornais importantes do país, The Guardian e The Daily Mail, estarão disponíveis gratuitamente na internet.

Entre as principais publicações, o modelo preferido para o pagamento digital é o chamado modelo poroso, segundo o qual os visitantes casuais do site de um jornal não são cobrados, enquanto os que ultrapassam determinado número de artigos – 10 por mês, por exemplo – deverão pagar.

Este modelo, introduzido pelo Financial Times e posteriormente adotado pelo New York Times, permite que os jornais online mantenham um amplo público leitor, imprescindível para vender publicidade digital, obtendo ao mesmo tempo nova receita dos leitores mais fiéis.

New York Times adotou o sistema poroso há dois anos, e afirma ter atraído cerca de 640 mil leitores pagantes para as suas versões digitais no final do ano passado. Em outros países, jornais como Die Welt e Neue Zurcher Zeitung também adotaram o modelo, e The Telegraph disse que pretende fazê-lo logo. Em Hong Kong, o South China Morning Post, que durante anos operou um paywall rígido – exigindo pagamento para todo acesso –, no fim do ano passado adotou o modelo poroso.

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Eric Pfannen, do New York Times