Thursday, 21 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

A ascensão do humor de direita

No início de 1999, quando morreu o chargista Sampaulo, que marcou época no jornal Correio do Povo e depois seguiu carreira exitosa na Zero Hora, escrevi um artigo, nunca publicado, dizendo que estava se gestando um humorismo de direita, com a ocupação do espaço deste no jornal Zero Hora por Marco Aurélio. Sampaulo, que com sua graça e humor retratava as alegrias e aflições de todos nós, colorados e gremistas — ressalte- se que a despeito de seu coloradismo roxo, ele procurava ser o mais isento possível gozando e fazendo rir ou chorar gremistas e colorados em nome do valor maior que é a gozação pura e simples, expressão genuína da cultura popular; as agruras do dia-a-dia através da crítica certeira aos poderosos e a compaixão aos despossuídos da sorte que tinham na figura do Sofrenildo um mecanismo de catarse aos seus próprios infortúnios (ver aqui).

Disse mais, a guinada regional para um humor de direita, na grande mídia, acompanhava o movimento em escala nacional, representado pela turma do Casseta&Planeta. Para quem não lembra, faço questão de rememorar que estes últimos, próximo de uma eleição presidencial, faziam um personagem calcado no Lula que evocava Satanás e exalava enxofre por todas as ventas. Mais não precisa ser dito.

Nos tempos de hoje, o CQC somente surfa nesta onda neoliberal, iniciada lá atrás, confundindo humor com escárnio, com aqueles alienadinhos abestados que, para mim, não têm graça alguma. Em uma destas matérias “engraçadinhas”, eles colocaram em situações ridículas os “velhinhos” do partidão. Pessoas sofridas e que foram já mais do que perseguidas, tendo que passar por constrangimentos diante dos olhos de todos os telespectadores é algo inconcebível sob qualquer parâmetro civilizado.

“Chega de paternalismo!”

Como se não bastasse, o Jô, que, reitero, admiro como comediante e apresentador de talk-show, parece que aderiu totalmente à Operação Tempestade no Deserto do Instituto Millenium, trazendo toda semana uma “figurinha carimbada” tipo Merval Pereira. Sinceramente, como não gostei de ter acertado aquele vaticínio, gostaria de errar neste meu novo vaticínio sobre o rumo do Programa do Jô, do qual gosto muito. Ainda mais agora que ele é o único na madrugada depois da retirada do David Letterman. A propósito do Jô, no programa de 10/04/2013 o Carlos Vereza deu uma entrevista fantástica desmentindo meu sentimento inicial que esperava um tom ideológico confirmando minhas suspeitas e recebi em troca pura poesia e alta performance teatral do grande ator, acompanhado da atriz Carolinie Figueiredo, que apresentou um sensacional monólogo (parte dele) da peça O Teste, com autoria e direção do próprio Vereza.

Para não ficar apenas um tom derrotista, neste mesmo artigo que cita a ascensão do humor de direita está registrado o juízo de valor de Maria da Conceição Tavares colocando Luiz Fernando Veríssimo como o melhor crítico de FHC. Como demonstração desta condição, ela cita uma charge memorável de LFV, aludindo ao estilo FHC, que, evocando o sucesso, na época, do filme Titanic, mostra o diálogo do comandante do navio sendo inquirido por um auxiliar sobre a necessidade de conseguir botes de salva-vidas para as pessoas que viajavam nas classes econômicas no momento em que estava afundando e obtendo como resposta esta pérola de frases que está sempre na ponta da língua dos velhos e novos conservadores: “Chega de paternalismo!”

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Jorge Alberto Benitz é engenheiro e consultor, Porto Alegre, RS