Os tempos de crises na maioria das redações de jornais e revistas, como O Estado de S. Paulo e Caros Amigos, acabam justificando o trabalho do jornalista em não conseguir produzir uma “grande reportagem”. Isto é o que afirmou o escritor e conceituado jornalista Audálio Dantas durante a sétima aula do 6º Curso Descobrir São Paulo, Descobrir-se Repórter, promovido pela Oboré – Projetos Especiais em Comunicação e Artes que aconteceu no último sábado (13/4) na Câmara Municipal de São Paulo.
Para ele, “não há mais espaços para publicar grandes reportagens porque são necessários grandes investimentos”. Isto pode ser explicado pela crise no modelo de jornalismo aplicado pelas grandes famílias que possuem os conglomerados de comunicação no país, que preferem o jornalismo do espetáculo à essência do jornalismo de fato e isto faz com que o jornalismo se perca.
Os sertões, de Euclides da Cunha (reportagens que originaram um livro), e Diário de uma favelada, do próprio Audálio Dantas, por exemplo, fizeram história no jornalismo brasileiro. Para estas reportagens, foi necessário um certo tempo de pesquisa, apuração e trabalho árduo em campo, o que hoje dificilmente seria conseguido.
Persistência e a dedicação são relevantes
Atualmente, muitos repórteres ficam limitados a se sentarem em frente ao computador, auxiliados pelo Google e, como assessório, um telefone para ajudá-los na apuração. Mas com isto, aos poucos estão deixando de lado costumes antigos, como o uso do gravador, bloquinho de anotações e caneta. Esta atitude muitas vezes não é decidida pelo repórter, e sim, pelos “grandes engenheiros da logística”, que muitas vezes concluem que a solução mais lucrativa é manter um repórter dentro da redação do que na rua propriamente dita. Para completar, faltam veteranos nas grandes redações para auxiliar os novos profissionais porque em muitos casos ainda não há a percepção de que “o grande assunto pode estar debaixo do nariz”, segundo Dantas.
Porém, há exceções, como foi o caso da reportagem veiculada pelo jornal Zero Hora em que a jornalista Letícia Duarte ficou durante três anos acompanhando a vida de Felipe, um menino de rua. “Filho da Rua”, matéria especial publicada em 16 páginas, foi um dos grandes vencedores do Prêmio Esso de Jornalismo no ano de 2012 e demonstra que, mesmo com as dificuldades, a persistência e a dedicação do verdadeiro jornalista – mesmo sem condições de trabalho e apoio dos jornais – ainda é muito relevante para se produzir uma grande reportagem.
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Juliana do Prado é estudante de Jornalismo, São Paulo, SP