A conjuntura política impõe a investigação histórica prospectiva e perspectiva para referenciar as trajetórias da sociedade. Mas esses desafios estão longe de serem alcançados pela mídia brasileira ao se folhear os jornais diários e as revistas semanais e ao se acompanhar as emissões dos programas jornalísticos de rádio e TV – estão saindo ao cenário, cada vez mais, os espaços da pesquisa em que o passado se mantinha conectado ao presente e ao futuro.
Nesse ambiente internético, a volatilidade vem devorando avassaladoramente praticamente tudo. Em meio dessa febre, as pessoas perdem cada vez mais suas identidades, suas vontades e seus sonhos se desfazem com a mesma facilidade e naturalidade com que nascem, na fugacidade de uma noite de porre em bares onde os assaltos se sucedem a cada 15 minutos, o intervalo entre uma quadrilha e outra, seja de marginais comuns ou especiais, como políticos profissionais.
A fugacidade foi tão voraz no noticiário sobre a exumação da ossada do ex-presidente do Brasil João Belchior Marques Goular (1919-76) que ele não mereceu nem 30 linhas de nenhum jornal e raros foram aqueles que levaram o assunto para a primeira página. Censura? Não. Autocensura? Sim. Falta de estímulo e decisão do editor? Sim. Preguiça geral? Sim. Falta de posicionamento profissional do pauteiro? Sim. Falta de discussão política na reunião de pauta dos editores? Sim. Alienação de todos (editores e pauteiros)? Sim.
O retorno ao cenário dos grandes temas da política nacional está exigindo na redação dos jornalões e revistas de grande porte editorial a presença de editores com nível técnico e conhecimento histórico e sociológico suficientes para o enfrentamento das novas conjunturas políticas. Caso esse elo seja quebrado, não se dê a solução dessa questão com uma certa urgência, a população leitora crescerá mais e mais, contudo, contraditoriamente, o número de leitores brasileiros de jornais e revistas diminuirá. Isso será uma assombração para Gutemberg.
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Reinaldo Cabral é jornalista e escritor