Já houve um período recente na vida política do país– anos 80 – em que o emblema de quarto poder se enquadrava na imprensa brasileira. Quase sempre esses períodos de maior influência dos meios de comunicação na vida política do país coincidem com alguma turbulência institucional.
Oimpeachment de Collor, por exemplo, foi um dos assuntos que mobilizaram a opinião pública e emprestaram notoriedade ao empresário P.C. Farias, cujo assassinato acaba de ir a julgamento. Porém, quase toda sociedade alagoana, pelo histórico da família do empresário, sabe que o matador do ex-tesoureiro de Collor assistiu tudo de camarote menos a mídia.
As pulsações institucionais que demarcam a caminhada da República ao longo das fases de estabilidade política, quer na direção dos seus avanços quer dos retrocessos, são pontuadas por progressos que beneficiam a sociedade como um todo. Esse foi o caso da incrustração do Ministério Público na vida republicana. A articulação política dentro do Congresso Nacional visando à exclusão, via emenda constitucional, do Ministério Público como órgão auxiliar nas investigações, é um desses retrocessos inaceitáveis pela sociedade, mas que faz parte do jogo democrático.
Quarto poder
Só com uma maior visibilidade da mídia para as ações dos atores políticos é possível se construir o equilíbrio entre os poderes republicanos – o executivo, o judiciário e o legislativo. Mas não é o temor pela ultrapassagem de fronteiras que coloca a mídia na linha de respeitabilidade social e muito menos a fará reconquistar o prestígio perdido.
A construção dessa visibilidade depende justamente da qualidade da cobertura jornalística empreendida pelos veículos de comunicação do país. Se a qualidade da cobertura for ruim, incompleta, destorcida; se a avaliação ou análise do posicionamento dos atores for míope, a formação da opinião dos cidadãos será defeituosa. O que refletirá na escolha dos representantes para o Legislativo e também na adesão ou não às convocações para mudanças via emendas constitucionais ou plebiscitárias.
A reconquista da posição informal de quarto poder pela mídia brasileira depende mais da própria mídia do que do seu público, embora o lastro de um bom público leitor signifique a garantia da continuidade expansionista necessária à sobrevivência do veículo enquanto negócio.
Hábitos que não devem ser desprezados
O que leva um cidadão a comprar todo dia o mesmo jornal? O fato de que nele há informações, análises, conteúdos de um modo geral que lhe interessam e despertam sua curiosidade em acompanhar os acontecimentos políticos, econômicos, sociais.
Se cresce no país, na camada de leitores habituais, um público cada vez mais exigente e especializado, cabe à mídia, de um modo geral, para atender a esse público, oferecer um leque de temas cada vez mais especializados com uma abordagem acessível a um público amplo e, ao mesmo tempo, especializado.
O nascimento de novas mídias com a consolidação do atual ambiente virtual pode estar marginalizando um tipo de público acostumado aos formatos do passado, mas está incorporando novos hábitos de leitura que não podem nem devem ser desprezados sob pena de a nova mídia virar passado sem ter assumido seu estrelato no presente.
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Reinaldo Cabral é jornalista e escritor