Muito se discute sobre mídias alternativas e a democratização dos meios de comunicação. Com a chegada da mídia interativa, a internet, fichas foram apostadas que essa seria a plataforma ideal para alavancar de uma vez por todas veículos independentes e paralelos que pudessem dar aos leitores e usuários uma visão diferente sobre determinados assuntos, uma visão que não era abordada até então pelos tradicionais meios de comunicação. Na teoria, a ideia é linda, mas na prática não estamos vendo isso.
Primeiro de tudo que essa democratização para muitos não significa, necessariamente, a criação de veículos no mesmo patamar de qualidade e abrangência de uma Rede Globo ou de um Estado de S.Paulo. Para muitos, a democratização da mídia passa, necessariamente, pelo aniquilamento dos grandes veículos existentes no país, a extinção da chamada mídia conservadora.
A ideia é tão simplória que até mesmo outros veículos a possuem. No caso da Record, por exemplo, há um certo nível de paranoia e obsessão em ser a mídia número um do Brasil. O motivo não seria ser a mídia número um, mas o de apenas tirar da Globo esse patamar por décadas mantido. O lema empregado pela emissora já perdeu o real sentido há algum tempo e faz com que pensemos que a briga não é mercadológica, mas puramente – e novamente – uma questão de filosofia religiosa.
Pensamento reacionário
Nos Estados Unidos, comumente observamos pequenas cidades com três ou quatro emissoras de TV e três ou quatro jornais impressos, fora emissoras de rádio, portais, sites e até blogs independentes. No Brasil não há como negar que possuir apenas uma emissora de TV, como a Globo, e três ou quatro jornais nacionais é muito nocivo. Esses números deveriam ser a realidade de cada município ou região de municípios do Brasil. Entretanto, não observamos projetos concretos por parte da mídia alternativa em propor ideias realmente eficientes. Quando propõem, os grandes veículos barram. É um contexto amarrado onde quem perde é o brasileiro, mais uma vez.
Esse sistema preso gera como consequência dois danos bem específicos. Um deles seria o de exibir apenas um lado do cenário, ou seja, grandes veículos de comunicação adotam certas posições políticas e mercadológicas que impedem que determinadas visões sejam exploradas em seus canais, seja portal, TV ou revista. Isso impede que uma legião de brasileiros tenha total e ampla noção de uma específica fonte, já que muitas vezes a ideologia de uns prevalece em meio aos caos informacional.
Por outro lado, temos quem defende a mídia alternativa propondo dos mais básicos aos mais absurdos projetos de democratização do setor. Como comentei lá no começo, para muitos segmentos essa democratização significa a extinção dos grandes meios ou, pelo menos, fazer com que os mesmos percam força e relevância. É um pensamento tão reacionário que faz com que o Brasil figure em dezenas de pesquisas, relatórios e levantamentos internacionais como um dos países onde a liberdade de imprensa e de expressão apresenta perigosas tendências de sufocamento.
Plataformas digitais
Qual seria, então, o cenário ideal? Em um cenário quase utópico poderíamos imaginar um país com centenas de impressos relevantes e algumas dezenas a nível nacional. Emissoras de TV pipocariam e teríamos a valorização de contextos regionais, do norte ao sul, onde o Brasil poderia conhecer e reconhecer todos os “países” que aqui existem. Grandes emissoras de rádio, portais e sites e blogs independentes figurariam como mídias paralelas que trariam visões diferenciadas sobre determinados assuntos, enriquecendo o poder de crítica da sociedade.
Tudo isso é utópico porque ainda não soubemos aproveitar as ferramentas disponíveis. Muito se critica a qualidade da Globo e a sua possível má influência para com os brasileiros. A verdade é que a emissora consegue fazer grande parte do país literalmente parar quando exibe a final de uma novela ou episódios do reality Big Brother Brasil. Quem para para ver? Tanto quem defende a mídia independente como quem é contra. É uma espécie de contradição a nível nacional. Se a Globo realmente fosse tão ruim e prejudicial ao país, a TV Cultura jamais estaria abandonada do jeito que está. Temos uma BBC só nossa e não aproveitamos.
E isso acontece também com a internet. Em vez de se aproveitar o espaço para realizar um jornalismo mais independente, livre das amarras do mercado, o que vemos é a banalização das plataformas digitais em prol de filosofias baratas e um proselitismo arcaico. No lugar de se construírem sites e blogs como canais de informação paralelos, o que vemos são sites e blogs com fortes ligações partidárias que têm o único intuito de atacar classes sociais específicas (alta e baixa) ou criticar determinados veículos. Onde está a contribuição para com o país? É para isso que uma mídia independente existe? Seja direita ou esquerda, a mídia independente precisa atuar em prol não dela mesma, não de partidos políticos, não de crenças religiosas e muito menos de personalidades públicas. A mídia independente precisa atuar em prol do Brasil, tenha ela a visão que tiver. Todos nós agradecemos.
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Cleyton Carlos Torres é jornalista, blogueiro e editor do Mídia8!