Para Flemming Rose, editor de cultura do Jyllands-Posten – jornal dinamarquês que publicou as polêmicas charges do profeta Maomé –, o debate sobre a autocensura na mídia e o medo dos cartunistas de ofender o Islã continuarão a existir por muitos anos. Em 2005, o Jyllands-Posten publicou 12 cartuns com o profeta como tema – um deles mostrava Maomé usando um turbante com o formato de uma bomba, outro o retratava com uma barba cinza segurando uma espada.
As charges, que foram reimpressas por diversos veículos de mídia ocidentais, provocaram uma onda de protestos internacionais em todo o mundo muçulmano e ataques a embaixadas na Dinamarca em janeiro de 2006.
O começo de tudo
Foi Rose quem pediu a cartunistas dinamarqueses para desenharem Maomé. Ele reafirmou que decidiu divulgar os cartuns para desafiar uma já observada autocensura, e não para insultar os muçulmanos. ‘Os desenhos deram início a um importante debate que ainda vai durar por muitos e muitos anos’, afirmou o editor em uma coletiva de imprensa. ‘Nos próximos anos, isto vai se transformar em uma discussão ainda maior’.
Rose revelou que se sentiu ‘provocado’ quando viu instituições, mídia e pessoas na Europa Ocidental se censurarem por medo de ofender o Islã, e chegou a citar alguns exemplos de comediantes que afirmaram que não queriam fazer piadas com o tema. Em 2004, o escritor dinamarquês Kaare Bluitgen reclamou que não conseguia encontrar um ilustrador para seu livro infantil sobre Maomé, pois todos tinham medo de retaliação por representarem o profeta. ‘Isto me lembrou o que eu vi na União Soviética, quando as pessoas eram intimidadas pelo sistema’, disse o editor, que foi correspondente em Moscou nos anos 80 e 90.
Ele repetiu que lamentou o fato de as charges terem ofendido os muçulmanos e pediu mais uma vez desculpas a eles, mas alegou que decidiu divulgar os desenhos porque a lei da Dinamarca permitia. O Islã proíbe a representação de qualquer profeta do Corão. Informações de Jam M. Olsen [Associated Press, 17/1/07].