Responsável pela publicação de seis jornais em Minas Gerais, a Sempre Editora pertence ao Grupo Sada, do empresário Vittorio Medioli, que possui ainda a Sada Transportes, maior empresa de transporte rodoviário de cargas da América Latina; concessionárias de veículos; indústrias de autopeças; siderúrgica e uma usina de produção de álcool e biodiesel no Vale do Jaíba, em Minas Gerais. Nos últimos quatro anos, o grupo investiu 70 milhões de reais na expansão das suas atividades de comunicação.
A Sempre Editora emprega cerca de cento e quarenta jornalistas e edita o Super Notícia, O Tempo, O Tempo Betim – edição diária, O Tempo Betim – edição semanal, O Tempo Contagem e o Jornal da Pampulha.
Segundo dados do IVC de dezembro de 2009, o Super Notícias, lançado em maio de 2002, consolidou-se no segundo lugar no mercado brasileiro de jornais, com 285.503 exemplares, atrás apenas da Folha de S.Paulo, com 289.258, posição que ocupa desde 2008. Sozinho, o Super é responsável por 7,09% das vendas de jornais no país.
Agora, a empresa se prepara para sediar um dos quatro maiores parques gráficos do Brasil, com a instalação de duas rotativas off set alemãs capazes de imprimir 140 mil exemplares por hora.
Na internet, a Sempre Editora mantém o portal O Tempo OnLine, que conta com 450 mil acessos de usuários únicos por dia. Para o primeiro trimestre deste ano, está prevista a estréia da web tv do portal, a TV O Tempo.
Formado em Jornalismo pela PUC Minas em 1974, Teodomiro Braga é o diretor-executivo da Sempre Editora desde abril de 2004. Depois de atuar como correspondente de O Globo em Londres e do Jornal do Brasil em Washington, dirigiu a sucursal do JB em Belo Horizonte e em Brasília. Ganhou o Prêmio Esso três vezes e o Grande Prêmio Líbero Badaró de Jornalismo. Nesta entrevista, concedida à reportagem na sede da Sempre Editora, em Contagem, região metropolitana de Belo Horizonte, Teodomiro contou os planos da empresa para 2010.
Um dos quatro maiores parques gráficos do país
Qual é a meta do jornal Super Notícia para 2010?
Teodomiro Braga – O nosso objetivo é alcançar o primeiro lugar em circulação no Brasil. Nos últimos dois anos o Super ocupou a primeira posição em agosto, setembro e outubro de 2008 e em maio e julho de 2009. Agora, queremos nos firmar em primeiro lugar.
Há planos de expandir a circulação do Super Notícia para fora de Minas?
T.B. – Não. O plano de expansão é principalmente em Minas Gerais. Fora de Minas, temos uma circulação pequena no Espírito Santo e em Brasília. As novas rotativas oferecem uma perspectiva bastante melhor de trabalho para o jornal. Com elas, poderemos chegar mais cedo nesses dois lugares. Nossa perspectiva é ter uma presença, tanto do Super quanto de O Tempo, em São Paulo, Espírito Santo, Brasília e Rio de Janeiro. Mas será uma presença pouco expressiva em termos de participação no total da circulação dos jornais.
A empresa fez fortes investimentos na ampliação de seu parque gráfico. O que isso vai permitir?
T.B. – O novo parque gráfico vai possibilitar avançar na expansão de O Tempo e do Super. Um dos motivos fundamentais que fez com que o jornal Super Notícia alcançasse a posição de que desfruta hoje no mercado foi a capacidade do parque gráfico da empresa. Na medida em que o Super foi apresentando sinais significativos de crescimento, fomos investindo para viabilizar esse crescimento. O parque gráfico foi duplicado há três anos e no ano passado recebeu um novo investimento para ser capaz de imprimir um maior número de paginas. Só que, para uma nova arrancada na circulação, tanto de O Tempo quanto do Super, nós nos sentimos obrigados a fazer um novo e mais forte investimento no parque gráfico. A circulação de O Tempo também cresceu bastante. Hoje, a tiragem do jornal está em torno de 55 mil exemplares, uma tiragem significativa. A circulação paga está perto de 50 mil. Nós praticamente esgotamos a capacidade de impressão para atender o crescimento do jornal. O projeto do fundador do grupo, Vittorio Medioli, é de buscar uma forte expansão tanto do Super quanto de O Tempo. Por isso, nós tivemos de fazer esse investimento, que vai colocar o nosso parque gráfico entre os quatro maiores do Brasil. O objetivo é dar um novo salto de crescimento na circulação do Super. É acelerar a expansão do jornal O Tempo e também dos outros jornais da casa.
Os dois jornais detêm 60,97% da circulação
O Tempo se posiciona no segmento de quality papers. O grupo acredita num crescimento efetivo desse jornal, quando muita gente diz que há uma crise no mercado dos quality papers?
T.B. – O grupo acredita firmemente. Isso é comprovado pelo próprio sucesso da situação do jornal. O Tempo foi um dos jornais que mais cresceu em circulação no Brasil em 2009, de acordo com dados do IVC. O Tempo fechou o ano com média diária de circulação de 47.588 exemplares, com crescimento de 67,26% no ano. Se considerarmos apenas os jornais de tiragem mais relevante, O Tempo foi o jornal que mais cresceu em circulação no ano passado. Ele superou em crescimento até os jornais populares, o que mostra que, se houver um projeto bem elaborado, há espaço para crescimento.
O que é mais importante nesse projeto: é a proposta editorial, o projeto gráfico, as promoções, o preço?…
T.B. – É o conjunto de tudo isso. O Tempo não teria conseguido entrar nessa trajetória de expansão se não tivesse máquinas para fazer uma impressão de qualidade. Por outro lado, se não tivesse um jornal de qualidade, não teria conseguido esse resultado de aumento de leitores, principalmente de assinaturas e de manutenção de assinantes. A qualidade editorial e o projeto gráfico são fundamentais. Por isso, a mudança do formato de O Tempo de standard para tablóide foi decisiva. O formato tablóide é mais moderno, mais contemporâneo. Ele atinge os objetivos do jornal de buscar público novo para leitura de O Tempo: os jovens e pessoas que não tinham hábito de ler jornal. Graças ao projeto gráfico e ao formato estamos conseguindo conquistar os universitários, os estudantes de segundo grau e quem não tinha hábito de ler jornal, que se identifica com O Tempo, que tem um formato gráfico mais atraente e conteúdo editorial que satisfaz os leitores mais jovens.
É possível vencer a liderança dos Diários Associados em Minas, que vigora há muito tempo?
T.B. – O jornal Super alcançou o primeiro lugar geral de circulação em Minas em janeiro de 2006, desbancando a liderança do Estado de Minas de mais de quatro décadas em venda de jornais no estado. O Super se consolidou e o Estado de Minas nunca mais recuperou a liderança. O objetivo agora é que O Tempo alcance a liderança no segmento de quality papers. A tendência de crescimento do jornal aponta que ele deverá disputar a liderança com o Estado de Minas em breve. Em outubro, O Tempo tomou do Aqui MG o terceiro lugar em circulação em Minas e em dezembro abriu uma diferença de 4.943 exemplares em relação ao Aqui MG, que registrou média diária de vendas de 43.538 ante 47.481 de O Tempo. Então, hoje temos o Super em primeiro, o Estado de Minas em segundo, O Tempo em terceiro e o Aqui MG em quarto. Mas se somarmos a circulação de O Tempo e do Super, juntos os dois detêm 60,97% da circulação de jornais em Minas, o triplo da participação conjunta do Estado de Minas e do Aqui MG no mercado de leitores, que corresponde a 20,06%. Isso de acordo com os dado do IVC de dezembro. Agora queremos que O Tempo seja o líder em seu segmento, o que vai dar uma questionável liderança de mercado aos jornais da Sempre Editora. Não quero dizer que será fácil alcançar esse objetivo. Será difícil, como foi extremamente difícil alcançar a posição que temos hoje.
Este ano o cenário é bem melhor
O mercado publicitário já entendeu o novo panorama do mercado de jornais em Minas Gerais?
T.B. – O mercado de São Paulo, que trabalha com dados científicos, já entendeu. Trabalha com dados do IVC e pesquisas do Marplan e do Ibope. O Super hoje tem o maior volume de anúncios das empresas de varejo em Minas. As empresas e agências sediadas em São Paulo fazem a distribuição das verbas publicitárias com base em análises dos dados de pesquisas sobre circulação. Nós estamos nos beneficiando bastante dessa leitura científica. Em Minas, ainda há uma certa resistência, mas nós estamos acabando de vencê-la. Este ano creio que nós vamos acabar com o que resta de resistência.
Essa resistência é de que natureza?
T.B. – Um pouco se deve à falta de conhecimento dos números. Muitas das dificuldades que nós tivemos aqui foi levar ao mercado publicitário mineiro os novos números de circulação de jornais em Minas Gerais divulgados pelo IVC. Havia ainda uma percepção de que um grupo empresarial, Diários Associados, dominava majoritariamente o mercado de mídia impressa em Minas, o que os dados mostram que não acontece.
O que a Sempre Editora espera da economia brasileira em 2010?
T.B. – Nosso planejamento não leva em conta somente o espaço de tempo de um ano. Consideramos um espaço de tempo maior. No ano passado, que foi o ano mais terrível para os jornais, sobretudo no primeiro semestre, não houve uma única redução de investimentos aqui na empresa. A visão estratégica de longo prazo do fundador do grupo, Vittorio Medioli, é de que haverá uma grande transformação na economia brasileira e, por conseguinte, na economia mineira, e isso vai alcançar os meios de comunicação, com a possibilidade de muitas fusões, incorporações e desaparecimento de jornais. Daqui a alguns anos, o quadro de jornais será bem diferente do atual. Nossa estratégia é investir para consolidar a nossa posição e conseguir estar à altura do crescimento da economia, que vai vir daqui em diante. O ano de 2010 se apresenta bem melhor que o de 2009. O nosso planejamento de 2009 foi feito com base num cenário de queda de volume de publicidade ocorrida no final de 2008 e que perdurou durante vários meses de 2009. O preço do papel teve um crescimento grande naquele ano e isso afetou a produção dos jornais. Este ano, embora tenha havido novo aumento no preço do papel, o cenário é bem melhor porque a crise econômica passou.
Nossa web tv vai surpreender
Há algum tempo, houve alguns movimentos da Sempre Editora no sentido de adquirir outros títulos dentro e fora de Minas Gerais. Isso está nos planos de 2010?
T.B. – O objetivo de Vittorio Medioli é o de investir cada vez mais na atividade de comunicação. Se oportunidades surgirem, ele vai estudar… Ele estudou no passado, vai estudar no futuro, está estudando no presente. Não está descartada a possibilidade de investimentos em aquisição de jornais ou outros movimentos nos próximos meses.
A Sempre Editora planeja para a mídia eletrônica os mesmos investimentos que faz na mídia impressa?
T.B. – Nós vamos investir nas duas frentes, na mídia impressa e na mídia eletrônica. O fundador do grupo acredita que ainda há muito espaço para a expansão da leitura de jornais no país. Na avaliação dele, o índice de leitura de jornais no Brasil ainda é bastante baixo e por isso há um potencial enorme para o crescimento desse setor aqui, diferentemente do que ocorre nos Estados Unidos e na Europa. Ele não tem nenhuma dúvida de que a leitura de jornais vai crescer, desde que tenham preços mais baixos – os jornais no Brasil sempre foram muito caros – e que apresentem projetos editoriais que interessem, que consigam atrair um contingente maior de leitores, como foi o caso do Super. Então o projeto da empresa é investir fortemente na mídia impressa e, simultaneamente, na mídia eletrônica, porque acreditamos que as duas mídias vão caminhar juntas. O grupo trabalha nas duas frentes, considerando que a mídia eletrônica vai ser um complemento fundamental da mídia impressa. As coisas vão caminhar juntas. O nosso investimento na Internet cresceu bastante nos últimos três anos. Todos os nossos títulos jornalísticos contam com sites próprios na internet. Antes eles eram fracos e todos foram reformulados. Criamos o portal O Tempo Online, que agrega todos os sites e agora vamos lançar a web tv, que será lançada no primeiro trimestre e se chamará TV O Tempo. Isso inclui também um investimento forte em tecnologia, em servidores e equipamentos, para que o portal possa operar na velocidade exigida pelos internautas. Foram investimentos sucessivos. Sem tecnologia, não será possível enfrentar esse mundo novo que está aí.
O que o internauta pode esperar da web tv O Tempo?
T.B. – Nossa web tv será pioneira. Nós estamos desenvolvendo um projeto próprio porque não temos um parâmetro para seguir. A dificuldade é que não temos referência em web tv e a tentação de cair no padrão da TV convencional é alta. Estamos desenvolvendo esse projeto desde o ano passado. Tem uma equipe trabalhando nisso desde fevereiro. Já criamos um estúdio, que é um dos maiores e melhores de Minas. Queremos uma TV que seja de fato da internet. Não queremos fazer uma TV aberta ou uma TV a cabo. É preciso ter um diferencial. Se não houver esse diferencial, a TV vai fracassar. A TV vai ser o grande diferencial do nosso portal, que já é bastante interessante e tem uma audiência espetacular. A TV vai aumentar bastante a audiência dele, com opções muito maiores para o internauta. Vamos ter vídeos, filmes, debates… Pretendemos fazer muitos debates na web tv neste ano de eleições. Temos certeza de que a nossa web tv vai surpreender o internauta. Estamos trazendo novos produtos, novas atrações para o nosso portal, como o Super Bolão, no canal de esportes. O bom é que será possível oferecer vários conteúdos simultaneamente, vários vídeos. Não teremos aquela rigidez de horários da TV aberta. O internauta vai poder escolher.
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Advogado, jornalista, mestre em Direito Internacional (UFMG) e doutorando em Direito Internacional (Universidade Autônoma de Madri)