Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Educação sempre em pauta

No discurso político, a educação é uma prioridade, ou uma promessa de prioridade, como escreve Frei Betto em ‘Ações do documento Educação: da quantidade à qualidade’ (Correio Braziliense, 14/01/2011, ‘A presidente Dilma promete priorizar a educação’). Espero que as políticas do governo federal sejam mais eficazes que a campanha publicitária que está sendo veiculada em TV aberta onde pessoas de vários países respondem à pergunta: ‘Qual profissional você considera indispensável para o crescimento de um país?’ Ainda assim, me vejo obrigado a trabalhar com a hipótese de que no Brasil a profissão docente não tem valor. Ou bem menos valor que outras profissões.

Via Twitter, o senador Cristovam Buarque afirmou que as pessoas entrevistadas na referida campanha, respondiam cada qual de forma diferente (nas suas respectivas línguas), mas o significado sempre era o mesmo: respeito. Justo o que não se tem por professores no Brasil. Não discuto o fato de que uma campanha publicitária pode interferir no imaginário popular, mudando a imagem negativa que em nosso país a população faz dos docentes, mas o dinheiro usado na veiculação da campanha talvez fosse melhor utilizado na construção de algumas escolas. Como nosso país fez uma opção histórica por não investir a contento na educação da população simples, mascarar isso com campanhas publicitárias faz algum sentido.

No texto de Frei Betto que citamos acima, temos a informação que a análise de 39 países, feita pela OCDE em 2010, revela que o investimento do Brasil em educação corresponde a apenas 1/5 do que os países desenvolvidos desembolsam para o setor. EUA, Reino Unido, Japão, Áustria, Itália e Dinamarca investem cerca de US$ 94.589 (cerca de R$ 160 mil) por aluno no decorrer de todo o ciclo fundamental. O Brasil investe apenas US$ 19.516 (cerca de R$ 33 mil).

Resta-nos esperar e torcer

Se outros países conseguem investir dessa forma em educação (e arrisco o palpite de que com uma carga tributária menor que a nossa) a hipótese de que, no Brasil, professores não têm valor faz sentido. Investir em educação significa construir escolas e tornar a profissão docente atraente para os melhores alunos. Esses precisam enxergar no ser professor algo de atrativo, salários e condições de trabalho decentes, além de reconhecimento. Dado o que o Brasil investe no setor educacional de forma comparada a outros países, e levando em conta que o ensino está quase universalizado, podemos ter uma ideia do quanto vale o trabalho de um professor. Podemos ver também que nossa opção por tentar realizar uma educação universalista com o mínimo possível de investimento é uma barca que já afundou.

Sem a construção de escolas e uma grande mudança nas condições salariais e de trabalho dos professores, o Brasil vai continuar onde está nas avaliações internacionais. Ainda segundo Frei Betto, ‘estamos tão atrasados que o Plano Nacional de Educação prevê o Brasil alcançar, no Pisa, 477 pontos em 2021. Em 2009, a Lituânia alcançou 479; a Itália, 486; os EUA, 496; a Polônia, 501; o Japão 529; e a China, campeã, 577’. Então ainda resta saber que pontuação os países citados vão atingir em 2021. Se continuarmos nesse ritmo e os outros países mantiverem os seus, nossa posição de subalternidade estará garantida.

Nesse início de governo a expectativa criada por alguns analistas é boa. Além do otimismo de Frei Betto, Jorge Werthein, em ‘Educação, ciência e tecnologia: prioridades do novo governo’ (Correio Braziliense,10/01/2011), afirma que:

‘É inegável a consonância da presidente e de seus ministros Fernando Haddad e Aloizio Mercadante com os discursos mais afinados com a realidade do país e do mundo atual. Se eles veem na educação e no desenvolvimento científico e tecnológico a chave para o desenvolvimento brasileiro e destacam isso em seus discursos de posse, parece claro que o novo governo está disposto a avançar decididamente nessas áreas.’

Resta-nos esperar atentos para o desdobrar dos fatos e torcer para que as campanhas publicitárias tenham de fato um impacto significativo na população.

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Professor de História, Ponta Grossa, PR