Um jogador de futebol pode sair para beber à noite, às vésperas de uma partida, sem ser incomodado? A pergunta pode parecer descabida, mas está provocando polêmica, principalmente porque a noitada dos jogadores Fred e Rafael Moura foi parar na polícia. Os jogadores foram abordados por dois integrantes de uma torcida organizada e Fred alega que teve seu carro perseguido ao deixar o bar Astor, no Leblon, no Rio.
A imprensa entra nessa história porque a notícia foi dada no Extra pelo jornalista Caio Barbosa. Segundo ele, o grupo de sete pessoas que ocupava a mesa dos jogadores havia consumido 60 caipi-saquês. Em contrapartida, o jogador acusa o jornalista de ter informado aos torcedores o local onde estava. O agravante seria o fato de que um dos torcedores era sobrinho de Caio.
O assunto deu pano pra manga. Os torcedores foram indiciados e houve uma grita de protesto contra o cerceamento da vida particular dos atletas.
Peripécias vigiadas
Qualquer ato de violência é reprovável. Se os torcedores se sentiram ofendidos pelo fato de jogadores de seu clube estarem em uma noitada, que protestassem junto à diretoria do clube. No entanto, o fato de serem pessoas públicas expõe os atletas a esse tipo de reação, cabendo a eles se preservarem.
Não sou puritano, mas sei que o jogador que não se cuida não consegue desenvolver todo seu potencial em campo. Se isso pesa para jogadores jovens, muito mais para veteranos.
A imprensa tem o direito de noticiar? Creio que sim. Se isso incita os torcedores a atos violentos? Talvez. Mas se pensarmos assim não devemos também noticiar qualquer ato ilícito já que ele pode desencadear uma reação desproporcional de alguém contra o acusado.
Um dirigente do Flamengo, insatisfeito com as peripécias noturnas de Ronaldinho Gaúcho chegou a criar o “Disque-Dentuço”, para que torcedores denunciassem excessos do atleta. Porém bastou que o jogador apresentasse um bom rendimento dentro de campo para que as críticas cessassem.
Um alívio…
Em um programa esportivo ouvi um ex-jogador dizer que se fosse um médico, um advogado, ou um jornalista bebendo, ninguém se importaria. Concordo, desde que isso não se reflita no desempenho profissional deles. E o problema é que, geralmente, os integrantes da Turma do Chinelinho, que ficam mais tempo parados do que brilhando nas quatro linhas, são justamente os que curtem as baladas.
Depois de um tempo afastado, Fred deu uma entrevista coletiva e, cheio de si, apresentou a suposta nota do restaurante provando que foram consumidas só 27 caipi-saquês e não 60, como o jornalista havia afirmado.
Agora sim os torcedores tricolores ficaram mais aliviados.
Jornalista parece ser mesmo uma raça perigosa, não acham?
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[Rafael Casé e jornalista e diretor do programa Observatório da Imprensa na TV]