Em seu livro Conhecimento Objetivo, Karl Popper anunciou: ‘Não buscamos somente a verdade, vamos à procura da verdade interessante, iluminadora, teorias que ofereçam solução a problemas interessantes. Se é possível, vamos em busca das teorias profundas.’ Pode parecer fora de moda falar de um jornalismo nesses parâmetros, mas na verdade esse é o verdadeiro jornalismo.
Em um mundo cada vez mais líquido (Zygmunt Bauman), as notícias fluem na velocidade da luz e se vão numa velocidade ainda mais assustadora. O que é agora, em instantes, será um monte de lembranças despedaçadas ou apenas um link empoeirado do Google. O jornalismo cai no próprio abismo da novidade. Quando a novidade é mais importante, mais importante até do que a apuração, a consistência e a relevância do fato, então, não há mais jornalismo, apenas um rascunho dele.
Gaspar Miollo, em sua tese de doutorado, titulou de ‘verdade relevante’ a busca por uma verdade que não seja apenas objetiva, precisa, real. Mas uma verdade que busca as minúcias dos fatos, procurando tirar, da verdade, a verdade relevante, aquela que dá mais sentido, inclusive, à verdade. Um buraco no meio de uma avenida pode ser verdade, mas ‘verdade relevante’ é entender, por exemplo, o motivo pelo qual aquele buraco está ali.
Verdade capenga e desestimulante
Pode parecer o óbvio, mas, apesar de lição básica de jornalismo, os veículos estão, aos poucos, acostumando-se com notinhas frias e rápidas, dando conta do que acontece, mas esquecendo-se do que está por trás dos simples fatos.
Benjamin Constant defendeu que o jornalismo deveria ser uma voz. Daniel Cornu constata, sem exageros, que o jornalismo se transformou em eco. É a mensagem reproduzida e esticada à exaustão, sem reflexões, diálogos com o leitor. O leitor, afinal, fica como o menino do poema de Cecília Meirelles:
‘O menino pergunta ao eco
onde é que ele se esconde.
Mas o eco só responde: `Onde? Onde?´
O menino também lhe pede:
`Eco, vem passear comigo!´
Mas não sabe se eco é amigo
ou inimigo.
Pois só lhe ouve dizer: `Migo!´’
O jornalismo parece viver, hoje, das repetições. Deixando de procurar uma ‘verdade relevante’ para acostumar-se com uma idéia de verdade capenga, enfadonha, desestimulante para qualquer leitor. Por enquanto, o leitor, como o menino acima, continua tentando dialogar com os jornais. Um dia, a paciência pode faltar e o menino poderá ir embora.
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Estudante de Jornalismo e pesquisador, Recife, PE