A al-Jazira tem encontrado resistência por parte das operadores de canais a cabo nos EUA e na Austrália para seu canal em língua inglesa, informa Claire Cozens [The Guardian, 11/11/05]. Nigel Parsons, que preside o braço internacional da emissora do Catar, afirmou em conferência para executivos em Amsterdã que tem sido recebido ‘com portas abertas’ em outros países, mas que nos EUA e Austrália, dois dos maiores mercados de TV, tudo é mais difícil.
A al-Jazira International será lançada no próximo ano e terá escritórios em Doha, Kuala Lumpur, Londres e Washington. Ao que consta, o canal pretende competir com a CNN. Parsons afirma acreditar, entretanto, que a resistência dos EUA seja mais comercial do que política. ‘As companhias de TV a cabo dizem, ‘vocês são um canal de notícias e americanos não estão interessados em notícias’’, disse ele.
A al-Jazira, que apresenta 24 horas por dia de notícias por uma perspectiva do Oriente Médio, tornou-se conhecido no ocidente após ter servido de veículo para o terrorista Osama bin Laden transmitir suas mensagens ao mundo.
Do Catar aos EUA
O Wall Street Journal [4/11/05] reproduziu, na semana passada, artigo de opinião do ex-produtor da ABC News Dorrance Smith, que durante nove meses foi conselheiro de mídia para o embaixador Paul Bremer no Iraque durante o governo de transição após a queda de Saddam Hussein. A reprodução se deu por causa de um editorial sobre as objeções do senador democrata Carl Levin à indicação de Smith ao cargo de porta-voz chefe do Pentágono – o senador critica, em grande parte, as idéias expostas por Smith no artigo em questão, publicado originalmente em abril de 2005.
No artigo, Smith critica a relação das emissoras de TV americanas com a al-Jazira, acusando-as de, indiretamente, fazer propaganda para causas terroristas. Ele afirma que a emissora só continua a funcionar porque recebe, estima-se, US$ 100 milhões por ano do governo do Catar. ‘Sem este subsídio, estaria fora do ar, fora da internet e falida’, diz, para questionar se este dinheiro não deveria ser considerado patrocínio estatal ao terrorismo.
Ele apresenta números que mostram que, no Iraque, 77% das pessoas citam a televisão como principal fonte de informação, enquanto apenas 15% citam os jornais. Estimativas atuais revelam ainda que quase 100% da população têm acesso à TV por satélite, enquanto apenas 8% têm acesso à internet. ‘A batalha pelos corações e mentes iraquianos é lutada pelas emissoras por satélite. É uma batalha que hoje estamos perdendo’. Smith defende que a al-Jazira constitui ‘uma poderosa ferramenta para terroristas’.
‘Não é hora de investigar as relações entre a al-Jazira, as emissoras americanas e os terroristas?’, questiona ele. O raciocínio é simples: bin Laden, Abu Musab al-Zarqawi e a al-Qaeda seriam ‘parceiros’ da emissora do Catar, transmitindo por ela suas mensagens. Os vídeos exibidos pela al-Jazira acabam retransmitidos pelas grandes redes americanas, como ABC, NBC, CBS, Fox, CNN e MSNBC. Desta forma, os terroristas conseguiriam atingir seus objetivos: ‘eles querem alcançar o público americano e influenciar a opinião pública’.