Você já se imaginou propondo um programa para uma emissora de TV local? Será que mesmo que sua proposta fosse brilhante, ela seria aceita? Pois assim como acontece no resto do país, a realidade capixaba aponta para uma produção de conteúdo concentrada na mão dos radiodifusores.
A TV Vitória, afiliada a Rede Record, possui um número significativo de produções regionais. São 13 programas locais. ‘É a maior exibidora de conteúdo local do Brasil’, afirma Fernando Machado, diretor-executivo da Rede Vitória de Comunicação.
Todos os programas da emissora são feitos por ela mesma, por meio de uma produtora interna. ‘É mais econômico’, explica o diretor. Assim também ocorre com a TV Gazeta, afiliada à Rede Globo. Nenhuma das oito produções locais é independente.
Já com a afiliada da Band, TV Capixaba, o processo é um pouco diferente. Dos nove programas locais, cinco são gravados e editados por produtoras externas. Essas empresas, porém, são prestadoras de serviço. Não definem nem interferem no conteúdo.
A emissora já exibiu programas totalmente independentes, como o Show de Talentos e o Terra Capixaba. Eles eram entregues prontos à emissora, que os comercializava.
Porém a tendência não é essa na empresa.’Estamos nos estruturando para produzir nossos programas’, diz Lia Mônica, coordenadora de marketing da TV Capixaba. ‘Uma vantagem da produção interna é que temos mais gerência sobre ela’, completa.
Produção vs. arrendamento
Enquanto as emissoras locais defendem a produção de conteúdo por conta própria, representantes de organizações da sociedade civil ligadas ao campo da comunicação criticam esse modelo. Uma das principais acusações é que esse sistema dificulta a diversidade de opiniões e de culturas na mídia.
Um dos argumentos das emissoras que produzem ‘tudo em casa’ é que é mais barato. O presidente da Associação Brasileira de Produtoras Independentes de Televisão (ABPI-TV), Fernando Dias, relativiza essa questão. Para ele, quem costuma usar tal justificativa são as empresas maiores, que tem como montar suas estruturas de produção.
Ainda sobre a questão financeira, Dias acredita que é possível baratear os produtos independentes ao se criar volume de produção, o que deve ocorrer, na sua opinião, por meio de políticas públicas de fomento.
Da forma como funciona hoje, o que ocorre é quase uma venda de horário na grade de programação para os produtores independentes, que além de realizadores, muitas vezes correm atrás de patrocínio. ‘Este horário é uma concessão pública. A TV não é um balcão de negócio’, critica o representante das produtoras.
O mestre em regulação e políticas de comunicação e coordenador do Intervozes – Coletivo Brasil de Comunicação Social João Brant faz coro com o presidente da ABPI-TV. ‘O grande problema é que as emissoras misturam, propositalmente, produção independente com arrendamento de horário na programação’, avalia.
Brant explica a diferença entre uma coisa e outra: ‘Na produção independente, a emissora compra a programação de um produtor, a partir da oferta de programação por parte destes. No arrendamento, é o contrário: o horário é que é vendido para igrejas, lojas etc. Por isso que é indispensável a regulamentação dessa questão.’
Em resposta ao argumento das emissoras que levantam dúvidas sobre a qualidade da produção independente, Dias tem uma resposta na ponta da língua. ‘É ingenuidade achar que, num país desse tamanho, os diretores das empresas de radiodifusão são os melhores.’
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Para o Observatório do Direito à Comunicação