Se querem revogar a Lei de Imprensa, torná-la mais permissível, principalmente no que concerne aos crimes de opinião, tornando-os menos duros, aproveito o ensejo e me declaro jornalista e, portanto, tenho opinião, mas não quero cometer crime algum. Crime maior é ser jornalista sem opinião e crime maior é ter opinião e não poder dá-la por conta da lei. Porque a lei serve para manter o sistema íntegro nas suas normas e regras e o jornalista existe para questionar a aplicação dessas leis e normas, ora para exigir seu cumprimento, ora para pressionar por mudanças.
O fato é que a revogação da lei não vai alterar em nada a vida do jornalista. Ele vai continuar preso às linhas editoriais dos seus jornais e blogs. Porque se cada um falasse o que pensa não haveria consenso entre a classe do que pode e do que não pode. Quem faz a censura são os próprios jornalistas, dentro de suas normas e regras. Atribuir um podamento da atividade jornalística a uma lei da ditadura (ah, como é bom atribuir toda culpa a ela) é esquecer que quem está preso somos nós mesmos nos nossos códigos internos. A lei está lá para ser cumprida e questionada, em prol da justiça e da liberdade.
A linha editorial
Dessa forma, acreditemos na atribuição de culpa pela falta de opinião, da nossa culpa por sermos empregados de empresas jornalísticas que têm interesses específicos e que nós temos que obedecer em troca do salário formidável que ganhamos. Também atribuamos a culpa a todos nós, à nossa própria classe, que determina o que podemos e o que não podemos fazer, classe esta que a precaução e o receio da exposição a possíveis processos judiciais permeia e influência o comportamento de todos os demais.
Que mudemos, então, a Lei de Imprensa, mas não sem antes fazermos um mea culpa de sermos tão subservientes a nosso entendimento de classe, ao nosso corporativismo e, sobretudo, à nossa maior prisão: a linha editorial de onde trabalhamos.
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Jornalista, Salvador, BA