O noticiário sobre as dificuldades que atravessaram alguns jornais, no último ano, provoca apreensão, em particular nos leitores, acostumados com a leitura preferida no papel impresso, que se preocupam com o futuro da imprensa. Alguns, dentre muitos considerados como empresas sólidas, encerraram ou interromperam as atividades, outros ameaçam fechar, pedir concordata, vender o patrimônio e o título para terceiros. A crise que se abateu nesse tradicional veículo de comunicação no mundo assusta, mas nem por isso acreditamos na falência de um meio ao qual a humanidade deve muito pelos serviços prestados.
O momento é complicado. Aliado aos problemas peculiares nesse ramo de negócios, há o caos da economia mundial que abala e mexe com a estrutura de países até então financeiramente estáveis. Os efeitos fazem estragos na vida privada e pública. O resultado é danoso. Todos os setores giram em função dessa roda-gigante enfurecida. É aí que mora o perigo.
A escapatória está na engenhosidade de cada um. É o caso dos jornais. Trágica foi a morte por suicídio de dois bilionários por perdas financeiras na ciranda do mercado de capitais: um alemão, Adolfo Merkle, que se apressou, dando a si, uma solução final, atirando-se à frente de um trem; o outro, um francês, Thierry Magon de la Villehuchet, que cortou os pulsos e tomou barbitúricos. A vida não é fácil para quem não sabe encará-la, ‘assim como ela é’, com desprendimento e coragem.
Velhos elefantes
A imprensa internacional – e, em certos casos, no Brasil – sofre com a crise, embora a ANJ diga que 2008 não foi um ano mau. O bravo jornal Tribuna da Imprensa, fundado pelo polemista Carlos Lacerda e por último dirigido por um outro jornalista polêmico, Hélio Fernandes, encerrou as atividades. O motivo: chegou ao limite de sua força financeira. Difícil é entender-se a ameaça do jornal O Estado de S.Paulo passar para mãos de terceiros. Não compreendemos como uma empresa como essa, familiar, tradicional, sólida e com serviços prestados à cultura e à democracia brasileira, não consegue manter o status.
A grande surpresa ficou por conta de uma reunião de diretores de três grandes jornais: Folha de S.Paulo, Estado de S.Paulo e Correio Braziliense, representados, respectivamente, por Otavio Frias Filho, Ricardo Gandour e por Josemar Gimenez no último mês de 2008 (27/12). O encontro tinha como objetivo refletir sobre o país e o foco deveria se voltar para os problemas que rondam a imprensa. Apesar do tema da reunião, ‘Mitos e verdades sobre o Brasil de hoje – Visão da mídia’, os participantes fizeram mais apologia do governo federal e programas ligados à economia, democracia etc. Pouco ou quase nada discutiram sobre a situação atual da imprensa.
A observação de Luciano Martins Costa, publicada em artigo no Observatório da Imprensa (13/01), captou este lance surrealista: ‘A imagem que deixaram na platéia de convidados foi de uma melancolia profunda, como a dos velhos elefantes que se encaminham lentamente para o cemitério’ (ver ‘Um melancólico olhar para dentro‘).
Qual o segredo do Maranhão?
A crise econômica e outros problemas ligados à imprensa mudarão o cenário dos jornais norte-americanos, arrastados à bancarrota. Muitos, considerados com estrutura forte e economicamente saudáveis, hoje, em face dos problemas, pedem falência, vendem o patrimônio, o título e ações. Endividados, apelam para todos os recursos disponíveis para evitar o pior. Há jornais de sobra à venda para poucos compradores. Vamos aos fatos…
O New York Times, o mais respeitado no mundo, centenário e temido pelo governo do seu país, está em dificuldades financeiras. Quer um empréstimo de 225 milhões de dólares e, pela primeira vez em 158 anos de sua história, aceitou uma publicidade na primeira página. Muitas vezes criticou o produto anunciado. Alegava que a redação é (era) independente do setor comercial. O diário Miami Herald, de grande prestígio, com 19 prêmios Pulitzer, não escapará de ser vendido. O rombo é de 50 milhões de dólares. O Chicago Tribune pediu concordata.
O blog do consultor de comunicação Paulo Gillin, que acompanha a agonia dos jornais dos EUA, informa que nove títulos de importância nacional foram vendidos desde 2006 e quinze lutam para sobreviver ou ‘se acham no corredor da morte’. É triste, mas real a situação. Até o país que mais vende jornais no mundo, o Japão, não escapou. Foi atingido pela concorrência do jornal digital e a queda de assinaturas.
Em São Luís (MA), há 13 jornais diários, quatro com periodicidade incerta e não se fala em crise. Eis a relação: O Estado do Maranhão, O Imparcial, Jornal Pequeno, O Debate, Atos e Fatos, Diário da Manhã, Correio de Notícias, Tribuna do Nordeste, A Tarde, Jornal Extra, Aqui Maranhão e Quarto Poder. Jornais com periodicidade não definida: Gazeta da Ilha, Jornal do Itaqui, Jornal Cidade e Fatos dos Municípios (informação da Recoplex – agência de recortes de jornais). Qual o segredo?
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Jornalista