Dois senadores de outros estados, em datas diferentes, vieram visitar o Mato Grosso do Sul. Uma é Kátia Abreu (DEM-TO), que veio no final de março para falar sobre o agronegócio e lançar a candidatura do vice-governador Murilo Zauith, também do DEM, ao Senado Federal. O outro congressista é o educador e senador Cristovam Buarque (PDT-DF), que esteve no estado no final de abril para falar sobre educação e lançar seu 23° livro, intitulado O que é educacionismo.
Sob os fatos temos: dois senadores, dois lançamentos e dois temas. Agora, atente-se aos dados que se procedem quanto à cobertura jornalística dos dois veículos impressos mais lidos no sul do estado: O Progresso e Diário MS.
Na visita da senadora, que também é presidente da Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária (CNA), o jornal O Progresso – mais antigo do Estado – citou o nome de Kátia 27 vezes, entre três matérias, chamada de capa e legenda de foto, que saíram em uma única edição, no dia 30 de março, e ela foi um dos destaques da capa.
Já o impresso Diário MS, também no dia 30, teve como um dos destaques de capa a senadora. Neste veículo, o nome da presidente do CNA foi citado entre três matérias, um abre página, duas colunas e legendas, por 16 vezes.
Uma única notícia
Vamos agora à repercussão dos dois veículos sobre a vinda do senador Cristovam Buarque – que em 2006 foi candidato a presidência da República. A edição dos dois jornais sobre a visita de Cristovam refere-se ao material publicado no dia 27 de abril de 2009.
O jornal O Progresso, na sua capa, não fez qualquer menção ao senador e produziu uma única notícia sobre a visita, que aparece na capa do caderno ‘Dia-a-Dia’, tendo o nome de Cristovam citado nove vezes.
Não muito diferente é o caso do Diário MS, que não citou a vinda do pedetista ao estado na capa, como feito com a senadora. Esse jornal produziu uma única notícia sobre, encontrada na penúltima página do caderno ‘Região’, com nove citações que levam o nome do educador.
Educação em segundo plano
Quando se fala sobre jornalismo, não se deve deixar esquecer seu papel social de levar informação à sociedade e, muito menos, de que a hierarquia do que se publica é o ponto de vista do jornalista sobre o que ele ou o veículo acredita ser de interesse público.
A abordagem dos dois veículos deixa claro uma posição. Ao dar mais importância à visita da democrata, com tantas matérias, capa e fotos, fica explícito o partido tomado pelos mesmos: a favor da economia de mercado agrícola e de uma classe autodenominada ‘produtora’, que apóia piamente as medidas conservadoras da senadora, a favor do grande latifúndio e concentração de riquezas.
E, ao não dar a mesma importância à visita do senador Cristovam, ex-reitor da Universidade de Brasília (UnB) e ex-governador de Brasília, os veículos comprovam mais uma vez o que voracidade capitalista prega em malfadados lençóis. A educação está, sim, em segundo plano e os jornais, ao tomarem este rumo, ajudam a consolidar esta ótica mercadológica de ensino. É quando me pergunto: é assim que estão ‘ensinando a ler o mundo’? É desta forma que se tornam ‘o jornal da integração regional’? Esse é o ‘pensamento e ação por uma vida melhor’?
***
Em Tempo: Para contextualizar o leitor, no último parágrafo parafraseio os bordões utilizados pelos jornais. O Progresso – ensinando a ler o mundo, Diário MS – O jornal da integração regional e O Progresso – pensamento e ação por uma vida melhor.******
Estudante de Jornalismo, Nova Andradina, MS