Fatos reais são discorridos em manchetes que beiram o sensacionalismo e a ficção em um jornal consolidado há 29 anos na capital e litoral catarinenses. O Diarinho narra cotidianamente informações sérias, contextualizando-as em um vocabulário regional, coloquial e até vulgar. O que pode parecer impossível de ser consumido é corriqueiro e até agradável para muitos catarinenses.
Mesmo com a existência de jornais tradicionais, como o Diário Catarinense e os tablóides Notícias do Dia e Hora de Santa Catarina, bem como os jornais A Notícia, de Joinville, ou mesmo os demais que circulam no estado, o Diarinho possui público cativo e fiel. Muitos, inclusive, o tem como fonte única de informação, o que não é aconselhável, tanto para o caso do Diarinho quanto para outras fontes de notícias. Afinal, para chegar ao que seria denominado de ‘informação isenta’, o leitor precisa estar atento às mais variadas formas de noticiar, seja na televisão, revistas, jornais impressos ou pela internet.
O diferencial do Diarinho para com os demais jornais catarinenses é justamente o fato de ‘brincar’ com a notícia. Esse ‘brincar’ ocorre na introdução de adjetivos, jargões, diminutivos, ditos regionais ou qualquer outro tipo de diálogo que possa ser estabelecido com o leitor, proporcionando, além de informação, entretenimento e pitadas de sensacionalismo.
Notícias tratadas de forma atípica
Para muitos, o jornal é considerado piada ou apenas uma opção de saber mais sobre assuntos da capital e região, aliada ao humor. Fato que não é desprezado, caso se utilize como exemplo sátiras jornalísticas como o Custe o Que Custar (CQC), transmitido pela Band. Apesar disso, o CQC não pode ser considerado fonte única e exclusiva de informação, pela contextualização que dá as matérias nele veiculadas – geralmente notícias relativas à região sudeste, por exemplo. Pode-se citar a cobertura feita pelo programa durante as eleições, quando concentrou seu foco principalmente no eixo Rio de Janeiro – São Paulo.
Voltando para o Diarinho, um exemplo de sua narrativa pejorativa e satírica pode ser analisado na edição online do dia 11 de novembro, a qual pode ser acessada no endereço: www.diarinho.com.br. Entre as manchetes, podem-se citar algumas, para se ter noção da forma como tratam as notícias:
Cartola: Mãos ao alto!
Manchete: Malacos assaltam hospital e pizzaria no balneário
Cartola: Itapema
Manchete: Rapaz e dimenor morrem assassinados em briga de bar
Cartola: Agora é sério
Manchete: MPF vai acompanhar de perto o rolo do entulho em Camboriú
É bom deixar claro que as notícias divulgadas no jornal são verídicas. Apenas são tratadas de forma atípica do que se está habituado a ler nos jornais tradicionais. As palavras grifadas geralmente são acentuadas ao leitor com cores diferentes, justamente para mostrar que o uso incorreto de determinado verbo, por exemplo, foi intencional, e não uma desatenção de quem redigiu a matéria.
Escorregões na ética
Assim como em outros periódicos, o Diarinho também possui colunistas, classificados – intitulado ‘Transe Tudo’ (e tem de tudo mesmo…) – entrevistas, esporte, opinião, casos policiais, entre outros. Aliás, é de casos policiais que o jornal preenche grande parte de suas lacunas.
Em meio a um momento no qual se debate o papel do jornalismo, incluindo a forma como os profissionais agem, até a ética com a qual são tratadas as notícias, não é estranho que existam tablóides como o Diarinho. Poder-se-ia compará-lo ao Meia Hora, do Rio de Janeiro, que, corriqueiramente, traz manchetes ambíguas, pendendo para o entretenimento e o sensacionalismo. A última, e que virou hit na internet, é relativa à separação da atriz Luana Piovani e o ator Dado Dolabella. Na manchete, o Meia Hora fez um trocadilho pendendo para a vulgaridade, mas que ganhou a atenção do público: ‘Luana não tem mais Dado em casa’. Até o momento, não se sabe se a atriz levou a manchete na brincadeira ou se está tomando providências judiciais.
De qualquer forma, é importante que haja análises relativas não só aos tablóides, famosos pelo conteúdo popularesco e que pouco incentivam a reflexão do público, quanto ao papel dos jornais tradicionais. Afinal de contas, em meio a cobertura desenfreada e sensacionalista vivida nos últimos meses de casos como o Isabella, Eloá e o último, o caso Rachel, percebe-se que não só os tablóides escorregam no quesito ética, bem como os jornais e jornalistas de veículos que possuem certa credibilidade. É observando a imprensa que muito se aprende, inclusive o que se deve evitar.
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Estudante de Jornalismo, Faculdade Estácio de Sá, Florianópolis, SC