Liberdade de expressão é a maior das liberdades porque é a verdadeira expressão da liberdade. Em meus mais recentes artigos, neste Observatório da Imprensa, tenho feito referências às tentativas de avanço do socialismo global e do perigo que isso representa para a liberdade de expressão. Cheguei a destacar a China, exaltada pelo seu indiscutível sucesso econômico e apontada, pelos gurus comunistas e seus seguidores, como exemplo a ser adotado mesmo com sua feroz ditadura onde o Partido Comunista Chinês é a grande muralha contra os direitos humanos, a liberdade de expressão e a democracia na China. Estas reflexões provocaram reação de um jovem jornalista e cientista político de Brasília, Raphael Bruno, questionando minhas abordagens e minhas convicções ideológicas. Eis seus principais tópicos:
Uma admoestação: “Quantos fantasmas socialistas você enxerga. A internet é capitalista. Ela tem pouco ou quase nada de socialista. Ela é amplamente controlada, sim, mas por grandes corporações como Facebook, Google, Apple e outras. Tal fato não é nada menos que cristalino. O que não está sob a alçada destas empresas capitalistas se assemelha muito mais a qualquer coisa de anarquia do que socialista.” NB: Em nenhum escrevi que a internet não é capitalista. Minha tese é a de que os socialistas estão vibrando com a explosão da internet e a implosão dos jornais que, segundo eles, reproduzem a hegemonia capitalista. Isso faz parte das preocupações contra-hegemônicas do Fórum Social Global, desde 2001, sob o lema “Um outro mundo é possível”, mais consistente manifestação de confronto ao Fórum Econômico Mundial de Davos.
Uma observação: “A decadência dos jornais impressos é resultado de uma transformação tecnológica capitalista no modo de produzir e acessar informação. Tampouco o fim deles significará golpe fatal no capitalismo, tendo em vista que tais veículos há muito tempo são incapazes de atingir a mesma audiência que outros meios e influenciá-la como outrora. Pobre do capitalismo se dependesse tanto assim dos impressos para se reproduzir. Muito menos tal golpe, se existisse, seria coordenado por uma força global e articulada que só você enxerga.” NB: Obviamente, o capitalismo não depende única e exclusivamente dos jornais impressos, mas também obviamente, sem eles, sua influência será menor. O Fórum Social Global é um movimento internacional anticapitalista desde 2001 organizado e articulado com os maiores teóricos e militantes socialistas contemporâneos que, agora começam a discutir a proposta “Uma outra internet é possível.”
Paraíso da corrupção e inferno da liberdade
Uma constatação: “A China, lembrada em seu artigo, hoje é amplamente integrada a essa ordem capitalista, ainda que mantenha regime político ditatorial muitas vezes usado, veja só, pelo próprio capitalismo. Ou foi a ditadura militar brasileira socialista? A China não é ameaça ao capitalismo. Você mesmo lembra que ela é a maior credora dos EUA, mas não leva tal constatação à sua conclusão lógica e inexorável. A China sustenta o capitalismo global há anos. Importando bens e serviços dos grandes países capitalistas e oferecendo mão-de-obra barata para suas principais empresas.” NB: É verdade, mas a China está sendo considerada como exemplo a ser seguido por governos de tendência ao socialismo, como os do Brasil, Venezuela, Argentina, Equador e Bolívia.
Uma argumentação: “A crise econômica é uma crise da economia capitalista. Provocada e intensificada por ele. Como poderia um socialismo inexistente ser responsabilizado pelos problemas de outro modo de produção vigente? Também não é preciso dizer que tal crise afeta de maneira muito mais dramática os mais vulneráveis que os grandes capitalistas. Pessoas vulneráveis que talvez ainda sob o efeito narcotizante de remotos anos de prosperidade ainda emprestam fidelidade a este sistema.” NB: Nunca responsabilizei o socialismo pela atual crise da economia capitalista. Mas é evidente que o socialismo está aproveitando essa crise para avançar e se instalar em algumas regiões do mundo buscando o sucesso econômico para justificar sua tirania política, como faz a China.
Quanto às minhas convicções ideológicas, a resposta vai com muito carinho de pai para filho: prefiro viver sob o imperialismo do selvagem capitalismo com liberdade a viver sob o imperialismo do sanguinário socialismo sem liberdade. Fui socialista na minha juventude e até muito depois. Entre meus ídolos, Leonel Brizola, Darcy Ribeiro, João Goulart, Fidel Castro, Leonid Brezhnev, Mao Tsé-tung. Tornei-me hegeliano, marcusiano. Vibrei com o movimento operário do ABC paulista liderado por Lula da Silva pela redemocratização. Fiz militância apoiando Lula à Presidência. Mas o governo Lula, com seu vergonhoso Mensalão e suas tentativas de controle da imprensa, foi o fim da utopia. Gradualmente, descobri que as ditaduras comunistas são o paraíso da corrupção e o inferno da liberdade. E, diante dessa confusão de Hamlet, acabei socorrido pelo ex-primeiro-ministro inglês Winston Churchill: “Se você não é de esquerda aos 20 anos, não tem coração. Se não se torna um conservador aos 40, não tem cérebro.”
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Jota Alcides é jornalista e escritor