O tucanato teve uma semana agitada, coroada pela convenção do partido em Brasília na sexta-feira 18. Mereceu cobertura generosa do Estadão, que parece esquecer o noticiário pessimista dos anos de FHC na presidência. Naqueles oito anos – aliás, como também hoje quanto à maioria das medidas decididas na capital –, dificilmente um ato do governo deixou de ser encarado pelas dificuldades que impunha ao país, nunca pelos benefícios que trazia. As páginas do matutino – aliás, como a maioria dos outros – vinham, como hoje, encharcadas de negativos para repercutir e ampliar a insatisfação generalizada do homem moderno que os necessários ajustes na economia acirram.
O Estadão estendeu-se para hospedar o sarcasmo e o deboche. A tolerância, a largueza com que o jornal cobre a convenção do PSDB não filtra o ambiente churrasqueiro que ali reinou. Na sexta-feira dedicou-lhe duas páginas inteiras, sem uma linha de crítica ao tom do encontro. Este teve mais de um assado comido em seguida a rodeio, quando o espírito gregário lubrificado a etílicos autoriza torcidas e afirmações de arquibancada de estádio de futebol. Seria divertido não fosse reunião de lideranças políticas nacionais em momento grave da história nacional. E os textos do jornal sugerem convidar o leitor a embarcar no festivo convescote.
Humor no convescote
Fernando Henrique deixou em casa seu traje de scholar para envergar no Centro de Convenções Ulysses Guimarães o discurso eleitoreiro. No país em que Lula usa de toda a sua habilidade política para manter no cargo, faz 30 meses, o autor de uma política austera a lembrar Campos Salles, FHC revira a gaveta mais de uma década atrás para evocar o petismo primário que ainda não compreendera a necessidade de uma moeda sadia.
Continuando o apedrejamento, para acusar o PT, FHC permite-se afirmar que a corrupção de que Delubio Soares foi o tesoureiro chega a ser pior do que a do governo Collor. A favor de seu xará, diz: ‘Mas os fatos alegados eram privados. Não envolviam um partido nem governo. Nem a administração’. [O Estado, A11, 18/11/05]. Ora, Fernando Henrique, e, por exemplo, o caso Vasp, uma empresa pública cujo processo de privatização é cercado de fortes suspeitas? Leia Notícias do Planalto: A imprensa e Fernando Collor, Mario Sergio Conti, Companhia das Letras, quem realmente procura a verdade. Corrupção é gangrena em qualquer entidade ou indivíduo, mas três CPIs há seis meses em tempo integral e ainda não se encontrou petista pondo dinheiro no bolso.
Como que a confirmar o tom do encontro tucano, a animação de seu convescote ganhou um Tom, o Cavalcante, que ali deu show. Sem dúvida ele provoca gargalhadas, o seu é um natural talento cômico, que trabalha com expressões do rosto mantido sério embora pateta, e operando o contraste vai fazendo a platéia rir. Mas desta vez, penso, faltou imaginação ao cearense, suas piadas mais engrossaram o espírito do auditório decidido a debochar.
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Dirigente de ONG, Bahia