Estrelas globais que ostentam um sorrisinho de superioridade de quem acha que se tivesse nascido nos EUA seria sucesso internacional, ou que estão no melhor dos mundos porque no topo do mesmo, são exemplos claros de como queridinhos da mídia merecem blindagem imediata de Veja, Caras, Época, Estadão, Folha e da própria Globo, quando duramente criticados. Não surpreende. Afinal eles são o azeite e as próprias leguminosas da salada que é o embuste televisual: entretenimento inócuo com taxa zero de informação.
No caso de alguns, a fantasia de transformar abóboras em carruagens reforça o imaginário da conquista pela sorte, da inclusão pelo sonho: ‘sua vez há de chegar, basta acreditar’ é mais ou menos o refrão de uma música de Xuxa a incentivar psicoses. Tudo para esconder do debate social a dominação de poucos sobre muitos. Os programas de auditório abordam o popular em três níveis de utilitarismo: como ‘atração’, como auditório autenticador do gênero e como espectador/consumidor a divertir-se com jogos/loterias importados das TVs estadunidenses.
Transar no Hyde Park: uma aventura pequeno-burguesa que é a tradução completa dos roteiristas e do que sobrou de adulto em O Sistema, que começou ameaçando detonar a opressão eletrônico-financeira do capitalismo pós-utópico e acabou soçobrando numa história onde a graça é rala e o chulo, para crianças, norma.
Os uísques do Chico
No fim, todos mostram sua cara: macaquinhos amestrados do status quo, reprodutores da ideologia dominante da globalização tecno-mercadológica, humor cordato e de acordo com o tal sorrisinho, agora protegidos pela violenta reação corporativa se forem atingidos ao chorarem de barriga cheia. Aqui se incluem atores e atrizes que andam com o rei na barriga: mal suspeitam que, na ordem das coisas da cultura brasileira, eles são a mosca da pereba da orelha direita do cavalo do bandido, aquela que não sai no enquadramento: nas periferias brasileiras, em cada esquina há uma ‘vizinha de vestido grená’ (Dorival Caymmi) mais gostosa que a estrela da novela das sete.
Salvo exceções, artista de tevê tem pouca leitura e pouco contato com o populacho (vivem encarcerados em condomínios e passam as férias na Europa ou na Disney). No entanto, são chamados o tempo todo a opinar sobre tudo.
É bom pensar que na TV Brasil ouviremos Ferrez, Zeca Baleiro, Eduardo Guimarães, (que poderá parar de reclamar de não ter mídia). Quem sabe tenhamos a sorte de ouvir Chico Buarque, o qual, mesmo depois de três uísques, deve ser mais interessante que um Arnaldo Jabor.
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Pesquisadora da Universidade Federal do Espírito Santo