A poucos dias de mais uma eleição, mais uma vez o debate sobre os meios de comunicação vem à tona e toma conta do debate político. De um lado, os veículos que representam a chamada velha mídia, liderados pela revista Veja e os jornais Folha de S.Paulo, Estadão e O Globo; do outro, partidos políticos de esquerda, movimentos sociais, sindicatos e intelectuais de esquerda.
Foi assim em 1989, 1994, 1998, 2002, 2006 e agora. A imprensa comercial, mesmo que tente esconder-se por traz de uma imparcialidade pretensiosa, sempre tomou partido nas disputas presidenciais. Negar isso é totalmente implausível nesta altura do campeonato. E, em período eleitoral, a parcialidade destes veículos é pública, notória e ampliada.
Em seu editorial, publicado no domingo (26/9), o jornal O Estado de S. Paulo resolveu sair do armário e, depois de anos vendendo aos seus leitores a imagem de um jornal isento, mostrou que estava a serviço de José Serra o tempo todo. Parece aqueles casos em que o namorado enrola, enrola, tem vergonha de assumir o compromisso, mas, diante da pressão, resolve pedir a mão da moça em casamento.
Os interesses do monopólio
O jornal justifica a escolha por considerar Serra o mais preparado, por ter um currículo exemplar de homem público e que poderá evitar o grande mal. E qual seria esse tal grande mal? Embora fale do continuísmo no poder, o jornal não deixa claro, como de hábito, o que seria para eles o grande mal, mas podemos supor que seria a vitória de Dilma Rousseff.
O grande mal para o cartel midiático pró-Serra, isto porque outros veículos ainda não saíram do armário. Não é apenas a confirmação nas urnas da vitória de Dilma, mas a possibilidade dela possuir uma ampla maioria no Congresso Nacional. Estimativas apontam que os candidatos da base petista dominam as pesquisas e podem ocupar 401 das 513 vagas na Câmara dos Deputados, 58 dos 81 no Senado, além de elegerem 20 dos 27 governadores no país.
Com ampla maioria, Dilma poderá governar o país de forma plena e conduzir a política segundo suas prioridades – e é aí que a mídia entra, ou melhor, o grande mal que ela diz existir. Sabemos que Globo, Veja, Folha e Estadão tomam partido somente quando seus próprios interesses estão em jogo, isto é, os interesses no monopólio da comunicação.
Tendência é aumentar
Dilma e o PT são uma ameaça ao monopólio das 11 famílias que controlam os veículos de comunicação no Brasil. Pior, controlam em desacordo com a própria Constituição, que dizem tanto defender. Dilma é a candidata que defende as deliberações da 1° Conferência Nacional de Comunicação, contra esse monopólio, por isso é o grande mal destes veículos e seus donos.
E os mais atentos sabem que, com maioria no Congresso, Dilma poderia fazer valer a opinião da sociedade brasileira e abrir a ferida dos barões da mídia. Esse é o grande mal para eles. Dilma ser eleita, tudo bem, mas não com maioria e se o PT for maioria, ela não pode ser eleita. Os dois juntos significariam o grande mal para o monopólio da palavra escrita, falada e televisionada. Significaria o fim ou o começo dele.
Portanto, nestes últimos dias a tendência é aumentar os escândalos, porque, se antes velados eles já batiam, agora declarados se entregarão à campanha tucana de corpo e alma. Não porque considerem José Serra o melhor candidato para o Brasil, mas sim, o melhor candidato para defender seus próprios interesses.
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Jornalista e ativista político