Rola, pela rede, apelo para que divulguemos amplamente vídeo da matéria causadora da demissão da jornalista diplomada Salete Lemos da TV Cultura. Esta emissora faz parte da chamada Rede Pública de TV e recebe verba do governo do estado de São Paulo, para sua sobrevivência, bem como de empresas, na forma de apoio cultural ou publicidade. [http://pt.wikipedia.org/wiki/Salete_lemos ; http://pt.wikipedia.org/wiki/Tv_cultura]
Evidentemente, nem a TV Cultura nem a Febraban (Federação Brasileira de Bancos) assumem que sua demissão se deveu ao fato em questão. No vídeo, ela faz uma crítica pesada ao lucro que os bancos tiveram em função do Plano Bresser, na ordem de 1 trilhão de reais, um PIB brasileiro, furtado dos depositantes em caderneta de poupança. Salete ironizou as desculpas que bancos, governo e a Justiça (‘caso exista!’) dão para adiar o ressarcimento do prejuízo por 20 anos. [ http://pt.wikipedia.org/wiki/Plano_bresser ; http://www.youtube.com/watch?v=vsfg3iUR5sA ]
Assim, fica absurdamente comprovado que o Estado brasileiro é um bandido a serviço da classe mais abastada, fazendo exatamente o contrário que Robin Hood: rouba dos pobres para dar aos ricos.
Em Minas Gerais, Aécio Neves é considerado como o ‘ditador das Gerais’, por parte do Sindicato dos Jornalistas e dos movimentos sociais em geral, pelo fato de mandar demitir qualquer um que ouse criticar seu governo. Dizem renomados profissionais do setor que o neto de Tancredo doa R$ 500.000,00 por mês para que os grandes veículos se omitam. E não se trata de verba publicitária… [O Ditador das Gerais: www.midiaindependente.org/pt/red/2006/09/359478.shtml]
Demitidos e não-demitidos
A Rede Minas, análoga à TV Cultura de SP, também come na mão do governador e serve como instrumento de propaganda ou de blindagem de sua administração. Há dois vídeos interessantes sobre o assunto: Liberdade, essa palavra: www.youtube.com/watch?v=R4oKrj1R91g ; ‘Gagged in Brazil’ – Censura na Imprensa: www.youtube.com/watch?v=UqEimwCupsQ]
Na realidade, toda concessão para o sistema de comunicação deveria ser pública, como também deveria ser o serviço prestado pelo concessionário, seja ele o próprio estado, uma empresa privada ou uma associação comunitária. Então, teríamos:
(a) sistema de comunicação público-estatal
(b) sistema de comunicação público-privado
(c) sistema de comunicação público-público ou público-não-estatal
Mas, na prática, o que predomina no chamado erroneamente de sistema público é o ‘sistema caudilhista’, onde a verba pública é utilizada para assegurar os interesses privados do presidente da ‘reparticular’ ou do governador da Unidade da Federação, na realidade um Estado Unitário.
Diante deste quadro, podemos refletir sobre a condição dos jornalistas que são demitidos e os que não são:
(a) Seriam honestos apenas os profissionais desempregados ou expulsos das grandes emissoras?
(b) Seriam meros manipuladores da informação, enganando o grande público, vendendo suas consciências para seu patrão, aqueles que permanecem em seus empregos?
Ave rara do paraíso
É constante nossa constatação da má-fé da imprensa, registrada por Perseu Abramo, Altamiro Borges, José Arbex Jr. e outros. Concluem eles que há uma ditadura da mídia e que não há ética jornalística que resista ao lucro e ao poder político exigido pelo grande capital. Assim, nossa tendência natural é acreditar na malignidade intrínseca da mídia e dos profissionais que para ela trabalham, dominando sobre sua possível bondade intrínseca.
Alguém conseguiria provar o contrário? Que jornalista diplomado (ou não), produz informação com ética e qualidade, conforme defende ferrenhamente a Fenaj, federação nacional da categoria, mesmo a despeito do interesse voraz pelo lucro sem escrúpulos de seu patrão?
Que jornalista teria coragem de dizer o que Salete Lemos disse? Qual deles diria que estamos numa ditadura do poder econômico, e não numa democracia? Se houver mais algum, avisem-me, tá? Deve tratar-se de uma ave rara do paraíso.
O padrão ‘me-engana-que-eu-gosto’
Para que serve um diploma, quando o que decide mesmo a parada é o caráter do profissional em conflito com o de seu patrão? A obrigatoriedade do diploma serve apenas para assegurar que teremos manipulação da informação com a mais elevada qualidade técnica. E a garantia de mercado para as escolas de Comunicação e seus alunos, que saem de lá desconhecendo a diferença entre uma democracia e uma ditadura. Prontinhos para entrarem na linha de produção da empresa e dar-lhe o lucro que somente enganando o respeitável público se pode obter.
Afinal, o Estado é privatizado. O sistema de ensino, a grande mídia e os jornalistas que para ela trabalham repercutem o interesse dos donos do Estado, como defendeu Antonio Gramsci. Assim, a classe trabalhadora é convencida a se sentir feliz sendo espoliada por seus patrões…
Vale a pena conhecer o ponto de vista dos próprios estudantes desta arte, que são contrários à obrigatoriedade do diploma do curso que fazem, ‘por motivos muito diferentes daqueles apresentados pelo presidente do STF, Gilmar Mendes, e pelo Sindicato das Empresas de Rádio e Televisão do Estado de São Paulo (Sertesp)’. Naturalmente. [http://prod.midiaindependente.org/pt/red/2009/07/450171.shtml ]
O dia em que a sociedade estiver realmente interessada em receber informação com ética e qualidade criará as condições adequadas para que o jornalista (diplomado ou não) exerça uma função verdadeiramente social e pública. Enquanto isto, esta mesma Sociedade continuará permitindo aos empresários, tanto da mídia, quanto os demais, fazer o que bem entendem, mantendo a mente ignara da classe trabalhadora cativa de seus cabrestos eletrônicos.
Dentro deste quadro, a rede mundial de computadores surge como uma esperança para superar este paradigma. Por outro lado, o senador Eduardo Azeredo vem lutando para acabar com esta brincadeira, criando uma versão cibernética do AI-5.
Vamos ver até que ponto a sociedade que respondeu pesquisa da Fenaj sobre o diploma está disposta a fazer algo de concreto para sair do padrão ‘me-engana-que-eu-gosto’ [ A sociedade quer informação com ética e qualidade? http://www.teste.observatoriodaimprensa.com.br/artigos.asp?cod=529DAC001].
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Engenheiro civil, militante do movimento pela democratização da comunicação e em defesa dos Direitos Humanos, membro do Conselho Consultor da CMQV – Câmara Multidisciplinar de Qualidade de Vida (www.cmqv.org) e articulista