Saturday, 23 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Etienne Jacintho

‘Que brasileiro tem rebolado todo mundo sabe. E isso será escancarado na tela da Globo com a estréia de Sob Nova Direção, série de Heloísa Périssé e Ingrid Guimarães, que recheará os domingos da emissora. A atração mostra Pit e Belinha, duas amigas que tentam sobreviver na selva carioca usando a criatividade, passando alguns ‘perrengues’, mas sempre com bom humor. O tal ‘jeitinho brasileiro’ é o foco do programa, que estréia hoje, depois do Fantástico. Na verdade, o piloto da série já foi ao ar, durante os especiais de fim de ano da Globo.

As protagonistas são Pit (Ingrid Guimarães) e Belinha (Heloísa Périssé), duas colegas de escola com estilos de vida bem diferentes. Belinha é rica e recém-divorciada. Após 10 anos de casamento ela se separa e herda um bar decadente no subúrbio do Rio de Janeiro. Pit é ‘dura’ – como define Ingrid Guimarães – e vive de bicos. ‘Ela faz de tudo, de teatro infantil a bolo’, fala Ingrid. As duas se unem para tocar o bar e Belinha tem de se adaptar à nova vida, sem grandes luxos.

Além de contar a batalha para erguer o bar falido, Sob Nova Direção também mostra a amizade entre as duas colegas. ‘Amizade é uma coisa da qual ainda não se falou com sinceridade na TV’, diz Ingrid. E o relacionamento entre duas mulheres tão contraditórias – uma descontraída e uma ‘caretinha’ – renderá muitas piadas. Como em toda relação de amizade, uma começará a incorporar características da outra.

‘A Pit é forte e não tem medo de nada. E a Belinha vai aprender isso’, comenta Ingrid. ‘Já Belinha vai passar o senso de liderança e de organização para a Pit.’ E uma ensinará a outra a namorar, uma vez que Pit é uma ‘galinha’ – na definição de sua intérprete – e Belinha passou 10 anos casada.

Para ajudar a ressuscitar o bar, as duas amigas contam com Franco e Moreno, personagens interpretados por Luís Carlos Tourinho e Luís Miranda, respectivamente. Franco é um faz-tudo e Moreno encara o trabalho na cozinha. ‘O Franco é burro e fala sempre a verdade. É franco mesmo’, fala Ingrid. ‘Moreno muda o humor das pessoas com sua comida.’ Otávio Müller – que pediu para o autor Gilberto Braga assassinar seu personagem, o Queiroz, em Celebridade para entrar em Sob Nova Direção – é o cabeludo e boa-vida Horácio, personagem que migrou de Carol & Bernardo para o programa.

Segundo a Central Globo de Comunicação, Carol & Bernardo não emplacou na grade de programação da emissora após seu piloto – exibido no fim de ano -, porque as agendas dos protagonistas Andréa Beltrão e Eduardo Moscovis são incompatíveis.

A direção da série de Heloísa Périssé e Ingrid Guimarães é de Roberto Farias e de seu filho, Mauro. Sob Nova Direção terá participações especiais, como no episódio Axé do dengo elétrico, com redação final de Paulo Cursino e Cláudio Torres Gonzaga. O nome do capítulo remete a um drink, cuja receita é um segredo da família de Moreno. Os atores convidados são Ricardo Kosovski e Mônica Martelli, que interpretam Carlos, o ex-marido de Belinha, e Jessica, sua nova mulher.

Quase inseparáveis – Ingrid Guimarães e Heloísa Périssé têm muitos projetos juntas. Teatro, rádio, TV… Mas Ingrid garante que elas não são inseparáveis. ‘Temos projetos separadas também’, brinca. ‘Mas somos uma dupla que deu certo.’ As amigas se conhecem há 12 anos, fizeram a única Oficina de Humor da Globo juntas, trabalharam com Chico Anysio na mesma época.

A idéia central de Sob Nova Direção nasceu há dois anos, quando as colegas viajaram a Paris com um grupo de amigos. ‘Vimos uma briga em um bar e achamos super engraçado. Estamos com esse projeto debaixo do braço há dois anos’, fala Ingrid. O peso de ser humorista já rendeu casos curiosos à dupla. ‘As pessoas vêem a gente na rua e já começam a rir’, conta. ‘Um dia eu estava chorando na rua – por causa de uns problemas pessoais – e uma pessoa falou para mim: ‘Ué, você chora?’ Todo mundo acha que eu sou sempre feliz, mas não é bem assim.’ Ingrid afirma que tanto ela como Heloísa são muito sérias, fora da tela com questões de trabalho.

Mesmo com tantos personagens diferentes – nos palcos, na telinha e no rádio -, Ingrid não vê risco de o público (ou ela mesma) ficar confuso. ‘Já tenho a energia de cada um dos meus personagens’, diz. Agora, o telespectador poderá ver que a Ingrid/Pit não é a Modelo e a Heloísa/Belinha não é a Tati…’



Keila Jimenez

‘Atração se encaixa no perfil de público do horário’, copyright O Estado de S. Paulo, 18/04/04

‘Desde o fim de Sai de Baixo (2001), o público dos domingos à noite da Globo está órfão de humor. Passaram pela vaga, aberta logo após o Fantástico – que agora será do Sob Nova Direção -, quatro edições de Big Brother, filmes e reality shows como No Limite e Hipertensão. A Globo não assume – diz que a atração é um programa de temporada, assim como Carga Pesada -, mas está claro que há tempos a emissora procurava um novo formato de humor para o horário.

Em dezembro, quando abriu espaço para novas idéias darem o ar da graça na programação, a direção da rede deixou claro a autores e diretores que queria um humorístico para as noites de domingo. Essa era uma das encomendas, pois havia demanda. A Diarista, de Cláudia Rodrigues, quase pegou a vaga, mas Sob Nova Direção acabou ganhando o espaço. Dois fatores foram determinantes para isso: o perfil do público do horário, que tem mais a ver com o do programa, e o fato de Ingrid e Heloísa terem identificação com o Fantástico, programa que as antecede.

Segundo dados do Ibope, a Globo costuma registrar no horário entre 26 e 32 pontos de audiência. Sai de Baixo nos tempos áureos chegava a alcançar 35 pontos de ibope na Grande São Paulo. A faixa tem em seu público uma grande concentração de mulheres e a fatia que mais concentra telespectadores é de classe C, com 38%. Mesmo assim, o horário tem uma alta concentração de classe A/B: 34%, mais que o Fantástico, que possui em sua audiência 32% de classe A/B. O horário também tem uma boa audiência jovem: 27% do público têm entre 12 e 24 anos – no Fantástico essa platéia representa 19% da audiência.

De todas as apostas da Globo em dezembro – Carol & Bernardo, A Diarista e Papo de Anjo, Sob Nova Direção é a que mais se encaixava nesse perfil.’



TV EM LIVROS
Cristina Padiglione

‘Mercado editorial está cheio de ‘derivados’ da TV’, copyright O Estado de S. Paulo, 18/04/04

‘Faz tempo que o mercado editorial tem conhecimento de que a indústria televisiva pode lhe render excelentes frutos. Agora, a televisão resolveu tirar proveito desse ramo na contramão, ao transformar textos televisivos em páginas de livros. O exemplo mais recente atende por São Paulo Através da Minissérie Um Só Coração (R$ 45), baseado na minissérie de Maria Adelaide Amaral e Alcides Nogueira. Pela Editora Globo, claro.

A mesma série é usada como chamariz para Tarsila (R$ 22), da mesma editora e autora, idem. Na verdade, o livro Tarsila é baseado na peça homônima da autora e serviu como fonte de pesquisas para o enredo televisivo.

Fonte de informações sobre a Semana de Arte Moderna e trechos fundamentais da história de São Paulo, esses são dois dos poucos títulos lançados no rastro da TV que podem valer a pena nesta temporada de Bienal Internacional do Livro. Outros lançamentos da Globo nessa linha já não inspiram muita confiança. Tipo O Mundo Árabe e o Islã através da novela O Clone.

Quem for à Bienal encontrará uma infinidade de ‘obras’ assinadas por gente de TV. Não se engane: a maioria deles peca, e muito, em conteúdo, valendo-se só das grifes estampadas nas capas para caçar leitores de Caras, interessados unicamente no mundo das celebrities.

Da safra mais útil, digamos assim, faz parte Contestadores (R$ 42), de Edney Silvestre, pela W11, reunindo entrevistas feitas pelo então correspondente da Globo em Nova York para o programa Milênio, da GloboNews. Em 344 páginas, a obra inclui conversas com Norman Mailer, Camille Paglia, Paulo Frances, Noam Chomsky, Juliette Binoche, Liv Ullman, Salman Rushdie, Edward Albee, Tony Kushner e Paulo Freire, entre outros.

Outro que merece ser visto é Pioneiros do rádio e da TV no Brasil.

Organizado e apresentado por David José Lessa Mattos, ele próprio um pioneiro, reúne depoimentos gravados em vídeo de gente como Álvaro de Moya, Dias Gomes, J. B. de Oliveira Sobrinho, o Boni, Lima Duarte e Walter Avancini.

Uma outra linha da safra derivada da TV, esta, nada oportunista, reúne trabalhos acadêmicos sobre o tema. Bons exemplos disponíveis na Bienal são Telenovela, consumo e gênero (R$ 47), de Heloísa Buarque de Almeida, e Telenovela: Internacionalização e Interculturalidade, organizado por Maria Immacolata Vassallo de Lopes. O primeiro aborda a relação entre o telespectador e a novela, passando pelos intervalos comerciais. A obra, editada pela Edusc (Ed. da Universidade do Sagrado Coração) foi premiada como trabalho de antropologia. Já Internacionalização, da Ed. Loyola, reúne textos de renomados especialistas no ramo, entre estudiosos de telenovela da USP, incluindo Immacolata, e profissionais da Globo, como Walther Negrão e Geraldo Casé.’