‘A decisão da ativista política Suzana Lisboa de abandonar a Comissão de Mortos e Desaparecidos Políticos expôs uma divisão entre parentes de militantes e guerrilheiros que atuaram no combate à ditadura. Um grupo quer continuar representado no órgão e indicar o substituto de Suzana. Outros, porém, não querem mais participar. Numa reunião do presidente da comissão, Augustino Veit, com alguns parentes de militantes, ontem, ficou decidido que até dia 20 será escolhido o sucessor de Suzana. Mas o grupo contrário à permanência na comissão boicotou o encontro.
Os dirigentes do Tortura Nunca Mais presentes à reunião defendem a continuidade do trabalho e que seja indicado novo representante das famílias. A presidente do grupo no Rio, Elizabeth Silveira, é favorável aos parentes continuarem representados até o julgamento dos 38 casos em análise:
– Não seria justo com esses parentes abandonarmos a comissão neste momento. É preciso ajudar a elucidar esses casos. Temos que acabar o que começou, por mais que o governo esteja nos decepcionando.
Convidada para a reunião, a presidente do Tortura Nunca Mais de Pernambuco, Amparo Araújo, não foi, em protesto contra o governo que, segundo ela, está fazendo ‘pouco caso’ com os problemas enfrentados pelos parentes:
– Não me cabe comparecer a uma reunião com representantes de um Estado que não reconheço com legitimidade para tratar da memória de quem lutou para construir uma sociedade justa.
A ex-militante da Ação Libertadora Nacional (ALN) Iara Xavier, que trabalha como voluntária na comissão desde sua fundação, também é favorável a que os parentes continuem representados. Para ela, sair agora seria um desrespeito com as famílias cujos casos ainda precisam ser julgados na comissão.
– Casos mais famosos, como os de (Carlos) Lamarca e (Carlos) Marighella já foram julgados, mas temos que tratar todos igualmente. Não é momento de sair – disse Iara, que sugeriu que as reuniões da comissão, a partir de agora, sejam públicas.
Ex-militante é favorável à saída dos parentes
Criméia Almeida, ex-militante que também não foi à reunião de ontem, afirmou que não há mais razão para os parentes participarem da comissão:
– É preciso abrir os arquivos, localizar as ossadas, identificar e punir culpados. O governo mantém a história trancada a sete chaves e preserva moralmente os torturadores.
Outras representantes do Tortura Nunca Mais, Diva Santana, da Bahia, e Édila Pires, de São Paulo, propuseram que os parentes continuem na comissão. Augustino Veit afirmou que considera natural a divergência. E confirmou a escolha do sucessor de Suzana Lisboa:
– É um processo político natural. Vamos fazer a consulta e depois indicar o nome para o presidente da República.
O racha entre os parentes não é novo. No grupo há divergência, por exemplo, sobre quais os peritos mais competentes para identificarem ossadas, se os argentinos.’
Vannildo Mendes
‘Militante ataca demora na abertura de arquivos secretos e abandona comissão’, copyright O Estado de S. Paulo, 1/11/05
‘A Comissão de Mortos e Desaparecidos Políticos começou ontem a consultar as entidades de direitos humanos para substituir a conselheira Suzana Lisboa, que decidiu se desligar do órgão por divergências com o governo Luiz Inácio Lula da Silva. Insatisfeita com a demora na abertura dos arquivos do regime militar e com a falta de colaboração do governo em esclarecer o desaparecimento de militantes de esquerda, Suzana comunicou sua decisão à comissão e, mesmo não tendo formalizado seu desligamento, deixou de ir às reuniões.
O processo de consultas se estenderá até 20 de novembro e envolverá as principais entidades de direitos humanos do País, como o grupo Tortura Nunca Mais, de São Paulo.
Embora concordem com as críticas de Suzana, uma das maiores defensoras dos direitos das vítimas do regime militar, essas entidades já demonstraram interesse em não perder o assento. É o que pensa o presidente da comissão, Augistino Veit. ‘O governo está muito atrasado na abertura, mas acho que ela não deveria abandonar essa trincheira.’
INDENIZAÇÕES
Responsável pela indenização de parentes de mortos e desaparecidos, a comissão é integrada por representantes do governo, das Forças Armadas, do Ministério Público, da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e de entidades de direitos humanos.
Criada há dez anos, a entidade, segundo Veit, encheu-se de esperança de que o governo Lula atuaria para o esclarecimento das circunstâncias dos crimes do regime militar e a localização dos corpos de mais de 120 desaparecidos. Entre esses corpos estão os de 60 militantes do PC do B mortos na Guerrilha do Araguaia (1971-74).
Em dezembro de 2004, por pressão de organizações de direitos humanos e de familiares das vítimas da ditadura, o governo criou a Comissão de Averiguação e Análise de Informações Sigilosas, destinada a promover a abertura dos arquivos do governo, de 1964 em diante. Passados quase 11 meses, até agora nada foi divulgado.
O grupo encarregado de promover a abertura dos arquivos requisitou os documentos em poder da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), da Comissão Geral de Investigações (CGI), do Conselho de Segurança Nacional, da Polícia Federal e das três Forças Armadas. Parte do material está em poder da ministra da Casa Civil, Dilma Roussef, que até agora não se manifestou sobre o assunto.’
TODA MÍDIA
Nelson de Sá
‘‘Casa da mãe Joana’’, copyright Folha de S. Paulo, 2/11/05
‘Entra Fátima Bernardes e anuncia, na Globo, ‘Sandro Mabel foi absolvido’. E o repórter, ‘por unanimidade, 14 a 0’.
A Band News mostrou a reação do deputado, que ‘chorou’:
– De repente você tem que andar de cabeça baixa. (chora) Eu tinha chance de ser governador, pela luta, até a capacidade. Acabou. Mas não importa, o que importa é este resgate moral.
Foi manchete em toda parte, telejornais, rádios, sites etc.
Na reação do blog de Josias de Souza, ‘safou-se o primeiro’. E na de Claudio Weber Abramo:
– Por que se infere a responsabilidade de José Dirceu mas não a de Mabel?… Se Mabel for absolvido por ‘falta de provas’, como é que condenam Dirceu?
O blog de Fernando Rodrigues não se cansa de denunciar os adiamentos da viagem da CPI dos Correios, sob pressão geral:
– A origem do dinheiro vai ficando para as calendas…
Segundo o ‘Valor’, um problema é que ‘a promotoria de Nova York se irritou com os vazamentos’ quando a CPI do Banestado foi atrás das tais contas.
Mabel absolvido, CPI parada -e tome xingamento no plenário, na TV Senado, TV Câmara.
De Roberto Romano, professor de Ética, chamado pelo UOL a comentar as ‘ofensas, ameaças, palavras de baixo calão’:
– Estão confundindo democracia com casa da mãe Joana.
De Josias de Souza, primeiro a dar a ‘surra’ de anteontem, ecoada ontem por ACM Neto:
– Não é todo dia que o Congresso se rende à linguagem da sarjeta… Ele já tem problemas demais para acrescer à má fama a pecha de arena de valentões.
E havia mais, ontem. O blog de Claudio Humberto reproduziu até o palavrão que o ex-senador Luiz Estevão teria usado, ontem, contra um bombeiro de Brasília.
VAI COMEÇAR
As cenas tomaram o ‘JN’, mas as imagens mais pesadas foram dos sites dos jornais argentinos, com o ‘Clarín’ destacando, em manchete, que ‘governo fala em sabotagem e acusa ativistas’. No ‘La Nación’ (acima), ‘Governo diz que foi planejado’. Trem em chamas, carros virados, os policiais do choque. E tudo às vésperas da cúpula que vai reunir o americano George W. Bush, o venezuelano Hugo Chávez etc.
No Brasil e América Latina, sites como Adital, ‘Página 12’ e outros engajados não têm outro destaque há dias, com manchete para os protestos que reuniriam Diego Maradona, a ativista americana Cindy Sheehan e toda a paralela Cúpula dos Povos. E tome opinião de Frei Betto, do prêmio Nobel Adolfo Pérez Esquivel e muitos mais.
Pior
Daniel Castro noticiou na Folha Online, ‘Lula aceita enfrentar ‘Roda Viva’, e o blog do âncora Paulo Markun deu os detalhes da conversa que acertou a entrevista coletiva, finalmente.
Disse que ‘o que está preocupando o presidente é a contusão de Roger’, do Corinthians, e que mais não relataria, fora o registro de que Lula citou uma frase atribuída a Winston Churchill -de que, ‘em dias difíceis, se consolava pensando que a oposição estava pior do que ele’.
Veemência
Deu na revista ‘Carta Capital’:
– No tabuleiro da baiana tem… Relatório do TCE da Bahia revela conta fantasma da Bahiatursa e suspeita de caixa 2.
É o tema de sites como Carta Maior e Vermelho desde então. E agora do peemedebista baiano Geddel Vieira Lima, ontem no site da Agência Nordeste:
– Vamos ver se ACM, ACM Neto e outros vão cobrar apuração com a mesma veemência.’
***
‘Brasil, EUA, Síria’, copyright Folha de S. Paulo, 1/11/05
‘George W. Bush telefonou para Lula, noticiou o site do ‘Wall Street Journal’.
O porta-voz Scott McClellan descreveu como uma ação do presidente para ‘tocar na base’ antes de embarcar em sua turnê latino-americana.
Comentaram as negociações sobre subsídios na Organização Mundial do Comércio -e o brasileiro afirmou ‘seu agrado pelos esforços de Bush de fazer andar’ as conversas.
Ficou por aí, fora a observação de sempre:
– Nós temos uma boa relação com o Brasil.
Alexandre Garcia, no ‘Bom Dia Brasil’, sobre o encontro de ambos, no domingo:
– O brasileiro vai oferecer churrasco ao texano. Para Bush, pode ser bom contar com Lula para acalmar o venezuelano Chávez. Para Lula, pode ser bom mostrar que está bem com o americano.
Para recordar quem é o amigo americano de Lula, na manchete do site do ‘New York Times’, ‘Bush indica juiz conservador à Suprema Corte’.
Em destaque na home page, a avaliação de que é um esforço do presidente ‘para revitalizar sua base política’.
Para o blog conservador The Corner, da ‘National Review’, foi uma ‘ação política vitoriosa’ de Bush. Para o blog liberal The Huffington Post, ‘não haverá ninguém à direita’ do indicado, no Supremo americano.
E assim tem início a batalha para reduzir a separação Igreja-Estado e acabar, talvez, com o direito ao aborto.
Para registro, o presidente da Síria, Bashar al-Assad, também andou telefonando para Lula, no sábado, segundo a agência estatal Sana.
Os dois teriam concordado em evitar a ‘politização’ do Conselho de Segurança da ONU nos debates sobre o assassinato do ex-primeiro-ministro libanês Hafik al-Hariri.
Ontem, despacho da agência AP, nos sites dos EUA, noticiou a resolução cobrando o apoio da Síria às investigações, mas nada de ‘sanções automáticas’, caso o país não coopere.
No despacho, a opinião do chanceler Celso Amorim, ‘cujo país tem grandes comunidades libanesas e sírias’:
– O Brasil não apóia decisões apressadas que possam levar à escalada indesejável da situação ou que ameacem a estabilidade da região.
Depois ele falou o mesmo ao ‘Jornal Nacional’.
‘O BEIJO’
Do ‘Fantástico’ ao jornal londrino ‘The Observer’, não é de George W. Bush ou da conexão cubana que se fala, ao tratar do Brasil. Na pergunta do primeiro, em longa reportagem:
– Júnior deve beijar Zeca?
No título da também longa reportagem do segundo:
– Brasil em tensão por causa do beijo gay da novela.
É ‘América’, que acaba nesta semana.
Surra
Os blogs saíram fazendo piada da conexão cubana. No Globo Online, Jorge Moreno:
– O PT bebeu dinheiro? E a oposição é que fica bêbada?
Era menção à histeria tucana, que ameaçava cobrar ‘de Lula até a eleição de Severino’ na propaganda de ontem.
Na Folha Online, Josias de Souza destacava Arthur Virgílio afirmando que ‘o PT contratou espiões para escarafunchar’ sua família e ameaçando ‘uma surra no próprio Lula’.
Para Ricardo Noblat, no iG, ‘a oposição não se conforma com os mais de 30% que Lula conserva. Calcula que terá que sangrar mais, daí a queixa-crime e toda sorte de constrangimentos que possa lhe causar’.
Incômodo
E tem os blogs independentes. Do Sítio do Sérgio Léo:
– O que tem Cuba a ver com as calças? Se houver tremenda investigação podem provar, no máximo, que entregaram umas caixas de bebida.
E o blog Vida & Política, do jornalista Wilson Tosta:
– No fim de festa, tucanos e pefelistas receberam a denúncia do ‘ouro de Cuba’ como uma bênção… O crescente incômodo tem seus motivos: a constatação de que Lula, após cinco meses, ainda é candidato forte.
Prudência
De outra parte, o blog tucano E-Agora, escandalizado com a falta de cobertura global para a conexão, saiu ameaçando:
– Cuidado ‘Rede Globo’! Recomenda-se, por prudência empresarial, mais discrição.
A mensagem, assinada por Augusto de Franco, chegou a avisar dos ‘ventos mutáveis’. Mas depois veio a voz oficial, na escalada do ‘JN’, ‘Oposição reage com cautela à denúncia da ajuda de Cuba’.
Nem a propaganda citou.
Sorte
A CPI dos Correios, alheia à conexão, embarca para os EUA atrás da origem do dinheiro -ao que se anuncia, tanto de uns como de outros.
À rádio CBN, Delcídio Amaral andou prometendo ‘medidas absolutamente rigorosas’ para garantir à Justiça americana que nada vai vazar. Nos EUA, talvez acreditem.
O blog de Fernando Rodrigues está reticente com a turnê da CPI às contas de Duda Mendonça, tantas vezes adiada:
– A data mudou de domingo para terça. Na quarta, eles desembarcam em Washington. Na quinta, Nova York. E, com sorte, até o final de novembro os papéis chegam ao Brasil…’
MERCADO EDITORIAL
Bob Tedeschi
‘Editora de jornais americana cria encarte publicitário virtual’, copyright O Estado de S. Paulo / The New York Times, 2/11/05
‘Pode-se argumentar que a leitura de um jornal online é muito parecida com a leitura de um jornal impresso em papel. Mas uma coisa, indubitavelmente, você não encontra na web – quando você se conecta à internet, não cai um encarte publicitário no seu colo.
Mas é assim só por enquanto. A Gannet, uma das maiores editoras de jornais dos EUA, informou que lançará um novo serviço nos seus sites de jornal no próximo mês, que vão exibir faixas publicitárias (banners) que os leitores podem ampliar, transformando-as numa versão virtual dos encartes publicitários semanais locais, tão familiares aos leitores de jornais impressos em papel.
Executivos do setor disseram que o serviço, denominado PaperBoy, criada por uma unidade da Gannett chamada PointRoll, dará aos anunciantes de âmbito nacional uma forma de chegar aos leitores online, em mercados locais, com promoções em lojas da região.
Os jornais estão tentando proteger seu território do Google, Yahoo e outras empresas de internet, que têm avançado agressivamente na exibição de informações locais e anúncios aos leitores. ‘Os jornais ainda estão numa posição relativamente forte se vocês conseguirem agir, mas as iniciativas locais por parte dos mecanismos de busca são uma ameaça’, disse Greg Sterling, analista do Kelsey Group, uma consultoria de publicidade. ‘Todo mundo entende o que está em jogo e até mesmo a estratégia. É apenas uma questão de execução.’
Para os leitores, o PaperBoy terá a seguinte configuração: quando um visitante de um site de, por exemplo, um jornal da Gannet em Westchester County (Nova York) clicar para abrir as notícias do dia, será apresentado a um anúncio no topo da página, que se parece uma mensagem típica, digamos, da Home Depot (loja de móveis). Porém, diferentemente do típico box retangular, o anúncio da Home Depot convidará leitores a ‘rolar o anúncio’ com o mouse.
Quando o leitor fizer isso, o anúncio será ampliado na tela e se transformará numa versão animada, em miniatura, do encarte de um jornal. Quando o leitor move o cursor sobre uma pequena dobra no canto superior da página, a página vira, mostrando preços especiais de venda de artigos da Home Depot local. O leitor pode, também, verificar os preços ou produtos de outras lojas da Home Depot digitando o código postal da área.
‘Já vínhamos falando há muito tempo sobre como os consumidores, especialmente os jovens, deixaram de ler jornais e que eles costumam obter as notícias online’, disse Shar VanBoskirk, analista da Forrester Research. ‘Isso dá aos jornais uma forma de oferecer conteúdo online local interessante, que manterá os leitores envolvidos e é também bastante interessante para os anunciantes.’’
Eduardo Simões
‘Debate ressalta os paradoxos do mercado editorial’, copyright Folha de S. Paulo, 2/11/05
‘As contradições do mercado editorial brasileiro foram o foco do debate que marcou anteontem à noite o início da série de eventos em comemoração dos dez anos da editora Publifolha. Com mediação de Arthur Nestrovski, articulista da Folha e editor da Publifolha, os convidados Galeno Amorim, coordenador do Plano Nacional do Livro e Leitura do Ministério da Cultura, Augusto Massi, professor de literatura da USP, e o escritor Márcio Souza lembraram que o país tem, de um lado, uma produção pujante, mas de outro, um potencial não explorado por falta de acesso aos livros, seja devido ao baixo índice de alfabetização do país ou a seu déficit de bibliotecas públicas.
Problemas históricos
Cada convidado teve inicialmente cerca de 15 minutos para levantar quais seriam, em suas perspectivas, as questões mais relevantes ligadas ao mercado editorial brasileiro. Márcio Souza, autor de ‘Mad Maria’, apontou que o país tem produção equivalente a países como a Espanha e centrou sua fala em aspectos históricos positivos, como o avanço no respeito aos direitos autorais e no modelo de relação entre autor e editor; e negativos, como a política patrimonialista do governo, que teria suas origens em 1937, no governo de Getúlio Vargas.
‘Órgãos como o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional [Iphan] conseguem fazer pressão nos ministérios da Fazenda e Planejamento, o que lhe garante um bom orçamento. Já o livro nunca fez parte de política pública séria, talvez por falta de compreensão de sua importância na cultura do país’, disse Souza.
Galeno Amorim também apontou uma discrepância do mercado editorial brasileiro, cujo volume de títulos, especialmente os didáticos, insere o país entre os sete maiores produtores, à frente de Itália e Reino Unido, mas cuja média de livros lidos por pessoa, por ano, é de cerca de 1,8, índice inferior até mesmo ao da Colômbia, que é de 2,4. Amorim ressaltou ainda a importância das parcerias com empresas e a sociedade para estimular a formação de leitores.
Críticas
Em sua fala, Augusto Massi defendeu a importância da produção universitária e fez ressalvas a alguns pontos das políticas do Ministério da Cultura para o livro, como a desoneração fiscal, que liberam, desde dezembro de 2004, a cobrança de PIS, Cofins e Pasep de qualquer operação com livro. Para Massi, a formação do leitor não se resume ao mercado, mas deve contemplar aspectos educacionais e pedagógicos.
‘Se houvesse mais leitores, haveria maior compra de livros e as editoras poderiam pagar impostos, até mesmo como países nórdicos, onde a média de livros lidos por ano está acima de 10 por pessoa’, disse Massi, que também pleiteou o investimento na capacitação das bibliotecas existentes, em vez da criação de novos espaços. ‘O problema do Brasil é manter. Deve-se apostar nas instituições com bases sólidas, como a Biblioteca Nacional no Rio de Janeiro ou a Mário de Andrade, em São Paulo.’
Amorim defendeu que o investimento em novos espaços, como comunidades carentes, é importante para atender os cerca de 14 milhões de brasileiros que não têm acesso a livros.
‘É importante lembrar também do cidadão que não tem dinheiro para pagar o ônibus até a biblioteca mais próxima’, concluiu.’
PLAMEGATE
José Meirelles Passos
‘Oposição põe presidente contra a parede’, copyright O Globo, 2/11/05
‘Ao mesmo tempo que assessores do presidente George W. Bush revelavam, confidencialmente, que nos últimos dias ele tem se mostrado irritadiço e irado nas reuniões com sua equipe de assessores, o Partido Democrata lançou mão de uma regra raramente utilizada para obrigar o Senado a fazer uma sessão fechada, ontem à tarde, e exigir que o governo explique por que usou informações falsas para justificar a guerra no Iraque.
Câmeras de TV foram desligadas e repórteres, visitantes e até assessores dos parlamentares foram retirados do plenário enquanto John Rockefeller – democrata que ocupa o posto mais alto na Comissão de Inteligência do Senado – pedia explicações:
– O eixo da questão é a prestação de contas tanto do Congresso quanto da Casa Branca. Está na hora de ser apresentado o informe, que já está atrasado um ano, sobre o uso de informações falsas sobre as armas de destruição em massa do Iraque para justificar a invasão daquele país – disse o senador, referindo-se a manobras da maioria republicana para adiar a conclusão do relatório que poderia causar enormes problemas para o presidente Bush.
Ameaça da oposição é bloquear nomeação de juiz
Richard Durbin, outro senador do Partido Democrata, emendou:
– Estamos aqui para registrar que queremos esse informe o quanto antes. Preparem-se para ouvir essa moção diariamente até que vocês enfrentem a realidade.
A ameaça da oposição é bloquear ou adiar por tempo indeterminado a aprovação da nomeação do juiz Samuel Alito para a Suprema Corte até que os reais motivos para a guerra sejam apresentados publicamente. Bill Frist, líder da maioria do governo no Senado, estrilou:
– O Senado dos Estados Unidos foi seqüestrado pelos líderes democratas. Nunca levei um tapa na cara com uma afronta tão grande à liderança dessa grande instituição – queixou-se ele, sem nada poder fazer, já que a oposição utilizou uma regra da casa para realizar a sessão a portas fechadas e exigir providências.
O democrata Harry Reid respondeu:
– O que acontece é que os republicanos escolheram proteger o governo em vez de ir ao fundo da questão, explicando ao país o que aconteceu e o porquê disso.
Os congressistas acabaram chegando a um acordo para que o relatório seja apresentado no próximo dia 14.
A manobra democrata provocou mais irritação na Casa Branca, onde assessores de Bush revelaram que a frustração do presidente era ‘tão visível quanto audível’:
– Está sobrando para todo mundo, inclusive o pessoal mais graduado. Até o vice-presidente (Dick Cheney) tem ouvido poucas e boas. O chefe está irado, frustrado, pondo a culpa em todos sobre os problemas que causaram essa crise – disse um funcionário da Casa Branca.
Nomeações de Cheney teriam irritado Bush
Outro funcionário comentou:
– Ele (Bush) está frustrado. Parece um leão no inverno.
Nenhum deles, porém, soube explicar se o mau humor do presidente havia sido reforçado pelo fato de Cheney, na segunda-feira, ter nomeado – em virtude da renúncia de Lewis Libby, seu ex-chefe de gabinete – duas pessoas envolvidas em episódios que poderão trazer mais problemas ao governo.
Libby se demitiu depois de ser indiciado por obstrução de justiça, perjúrio e falso testemunho num caso sobre a revelação da identidade de uma agente secreta. Cheney o substituiu por David Addington, um dos responsáveis pela política que levou à tortura e a outros abusos de muçulmanos detidos pelos EUA no Afeganistão e no Iraque. Ele também nomeou, como seu assessor de segurança nacional (cargo que também era ocupado por Libby) John Hannah, que, em parceria com o iraquiano Ahmad Chalabi, alimentou a Casa Branca com informações mentirosas sobre o suposto arsenal químico, biológico e nuclear de Saddam Hussein.’
Nicholas D. Kristof
‘O que Cheney sabia, e quando soube?’, copyright O Estado de S. Paulo / The New York Times, 2/11/05
‘Vamos, sr. vice-presidente, conte o que aconteceu.
Um indiciamento federal diz que o crime fluía em seu gabinete. Quando você se esconde em seu bunker e se recusa a dizer se sabia dessas atividades, rebaixa o governo e o país inteiro.
Cinco advogados que consultei concordam que não há razão legal convincente para que você não discuta a situação. É urgente que você ponha o assunto em pratos limpos respondendo a estas perguntas numa entrevista televisionada: Você pediu que Scooter Libby investigasse o embaixador Joseph Wilson? Libby fez um esforço tão planejado para obter informações, tanto do Departamento de Estado quanto da CIA, que suspeito que você o estimulou. É verdade? Se sim, por quê? Por que você, por conta própria, pediu à CIA informações sobre os Wilsons? O indiciamento afirma que, em 12 de junho de 2003, você avisou Libby que soubera, aparentemente pela CIA, que a mulher de Wilson, Valerie, trabalhava na agência. Então você perguntou a George Tenet, na época diretor da CIA, sobre o senhor e a senhora Wilson? Você examinou os documentos relacionados que a CIA enviou por fax a seu escritório? Você sabia que a senhora Wilson era uma agente secreta? O indiciamento afirma que você sabia que ela trabalhava na divisão contra proliferação de armas da CIA. Seria de se pensar que qualquer pessoa imersa em questões de inteligência como você concluiria, a partir disso, que ela trabalhava no Diretório de Operações e talvez fosse uma agente ultra-secreta.
Você aconselhou Libby a vazar para jornalistas informações sobre o trabalho da senhora Wilson na CIA? Libby voou com você no Air Force Two em 12 de julho de 2003 e, segundo o indiciamento, uma das questões que ele discutiu a bordo (com você?) foi como lidar com a mídia. Horas depois, acusa o indiciamento, Libby contou a dois repórteres que a senhora Wilson trabalhava na agência.
Quando Libby fez suas declarações no inquérito – supostamente cometendo perjúrio -, você sabia o que ele estava dizendo? Libby ia para o trabalho com você quase toda manhã, mas esse assunto nunca veio à tona? Libby estava com medo de revelar alguma coisa sobre seu comportamento no verão de 2003? Libby é famoso pela cautela, mas afirma-se que ele de repente embarcou numa arriscada campanha de vazamentos e mentiras. Se ele fez isso, foi uma tentativa desastrada de protegê-lo? As supostas mentiras o protegeram ao indicar que as informações que você deu a ele sobre a senhora Wilson na verdade haviam partido de repórteres.
A verdade seria tão danosa para sua posição a ponto de Libby escolher o perjúrio? Meu palpite é que não houve uma conspiração malévola para ‘revelar’ a senhora Wilson. Pressinto que você e Libby estavam furiosos com o que consideravam falsas sugestões de que você fora pessoalmente responsável pelo envio do senhor Wilson ao Níger e depois havia ignorado suas conclusões.
Especulo que você pode ter acreditado estar apenas combatendo exageros e rumores injustos – e então a identidade da senhora Wilson foi revelada para sugerir que ela fora mais responsável que você pelo envio do marido ao Níger.
E assim que uma investigação criminal começou, Libby talvez não quisesse admitir que você estava mergulhado até o pescoço em ações que pareciam, no mínimo, mesquinhas e indecentes.
Independentemente do que aconteceu, senhor vice-presidente, o público americano merece alguma satisfação. Se você não teve nada a ver com nada disso, então diga. Mas não se esconda atrás de seus advogados.
Desse jeito, você não contesta a acusação nem assume a culpa no tribunal da opinião pública, e isto é doloroso para todos nós que queremos acreditar na integridade de nosso governo.
Quando Richard Nixon era candidato a vice-presidente e foi envolvido num escândalo de contribuições ilegais, respondeu às acusações no discurso conhecido como Checkers (nome de seu cão, que ele disse ter sido o único presente que havia recebido). ‘A melhor e única resposta à difamação ou à incompreensão honesta dos fatos é dizer a verdade’, discursou ele. (Senhor vice-presidente, sempre que um colunista cita Nixon para conclamá-lo a ser honesto, o senhor está em apuros.) Até o vice de Nixon, Spiro Agnew, tentou se explicar repetidamente quando foi envolvido numa investigação criminal. Você realmente quer ser menos acessível que Dick Nixon e Spiro Agnew? Não precisamos tentar transformar isso num Watergate. Tampouco precisamos do escárnio dos democratas. Mas precisamos de sua franqueza.
O indiciamento levantou uma névoa que atrapalha o governo. Para seguir em frente, precisamos que você limpe o ambiente. Assim, sr. Cheney, diga-nos o que aconteceu. Se você está com medo de dizer o que sabia, e quando soube, é melhor renunciar.’
Scott Shane
‘Em 64, informação distorcida ajudou Congresso a aprovar ação no Vietnã’, copyright O Estado de S. Paulo, 1/11/05
‘A Agência de Segurança Nacional americana (NSA, pelas iniciais em inglês) manteve em segredo a descoberta feita em 2001 por um historiador do organismo de que funcionários da agência distorceram informações secretas deliberadamente durante o episódio do Golfo de Tonkin, que ajudou a precipitar a Guerra do Vietnã, segundo fontes próximas do historiador.
A conclusão do historiador Robert J. Hanyok constitui a primeira acusação grave de que as interceptações de comunicações da agência foram falsificadas para reforçar a crença de que navios norte-vietnamitas atacaram destróieres americanos em 4 de agosto de 1964, dois dias depois de um choque anterior.
Nos últimos anos, a maioria dos historiadores concluiu que não houve um segundo ataque, mas eles supunham que as escutas da NSA tinham sido involuntariamente mal interpretadas, e não alteradas de propósito.
A pesquisa de Hanyok foi detalhada há quatro anos num documento interno que continua protegido pelo sigilo, em parte porque funcionários da agência temiam que sua divulgação provocasse comparações incômodas com os dados de inteligência enganosos usados para justificar a guerra no Iraque, segundo um funcionário da inteligência. Matthew M. Aid, um historiador independente que discutiu a pesquisa de Hanyok sobre o Golfo de Tonkin com funcionários atuais e antigos da NSA e da CIA que a leram, diz que decidiu falar publicamente sobre as descobertas por achar que elas já deveriam ter sido divulgadas há muito tempo.
‘Esse material é relevante para os debates que estamos tendo sobre a guerra no Iraque e a reforma da inteligência’, diz Aid, que está escrevendo uma história da NSA. ‘Mantê-lo secreto simplesmente porque poderia embaraçar a agência é errado.’ A descrição de Aid sobre as descobertas de Hanyok foi confirmada por um funcionário da inteligência que falou na condição de anonimato, porque a pesquisa continua classificada como secreta.
Ambos disseram que Hanyok acreditava que a má interpretação inicial das interceptações norte-vietnamitas tinha sido provavelmente um erro honesto. Mas, depois de alguns meses de trabalho de detetive em arquivos da NSA, ele concluiu que funcionários de nível médio da agência descobriram o erro quase de imediato, mas o encobriram e alteraram documentos para que parecessem fornecer evidências de um ataque.
O presidente Lyndon Johnson citou o episódio de 4 de agosto para persuadir o Congresso, em 1964, a autorizar uma ação militar ampla no Vietnã, apesar das dúvidas sobre o ataque que surgiram quase em seguida.’
O Estado de S. Paulo
‘A portas fechadas, Senado debate caso ‘plamegate’’, copyright O Estado de S. Paulo, 2/11/05
‘O Senado americano realizou ontem uma rara sessão a portas fechadas para debater o escândalo da revelação da identidade de uma agente secreta da CIA, Valerie Plame, e os argumentos usados pela Casa Branca para justificar a invasão do Iraque, em 2003. A sessão secreta foi pedida pelos democratas sob a alegação de que o sigilo era necessário para permitir um debate completo sobre a suposta manipulação de informações de inteligência.
O líder da maioria republicana no Senado, Bill Frist, disse que a convocação da sessão secreta era uma ‘manobra’ dos democratas para provocar um caos político. ‘Isso expulsa o público americano do Senado e não passa de uma medida intimidatória’, declarou.
O debate se deu na véspera da primeira audiência judicial do ex-chefe de gabinete do vice-presidente Dick Cheney, I. Lewis Scooter Libby, indiciado por delitos de obstrução da Justiça, perjúrio e falso testemunho relacionados ao caso. No depoimento de hoje, Libby deve declarar-se inocente.’
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‘Nomeado autor de textos da tortura’, copyright O Estado de S. Paulo, 1/11/05
‘O vice-presidente americano, Dick Cheney, nomeou ontem David Addington para ocupar a chefia de seu gabinete, em substituição a I. Lewis Scooter Libby – que renunciou ao cargo logo depois do anúncio de que seria indiciado no processo que investiga a revelação da identidade de uma agente secreta da CIA, Valerie Plame. O vice-presidente também nomeou John Hannah assessor de Segurança Nacional, cargo que Libby acumulava. Tanto Addington quanto Hannah já integravam a equipe de assessores de Cheney.
Addington, principal advogado do gabinete do vice-presidente, é o autor dos chamados ‘memorandos da tortura’, que encontram brechas nas convenções internacionais para empregar ‘meios físicos’ em interrogatórios de suspeitos de terrorismo.
Também ontem, autoridades judiciais anunciaram que Libby fará quinta-feira seu primeiro depoimento depois do indiciamento. Ele deve responder por cinco crimes, de acordo com as conclusões do júri de instrução presidido pelo promotor federal Patrick Fitzgerald: um de obstrução da Justiça, dois de perjúrio e dois de falso testemunho.
Libby foi o único indiciado na investigação de vazamento da identidade de Valerie Plame para a imprensa – numa aparente ação de vingança política contra o marido dela, o ex-embaixador Joseph Wilson, que havia desmentido publicamente um dos argumentos do presidente americano, George W. Bush, para invadir o Iraque. No entanto, outro personagem importante da Casa Branca, o assessor político de Bush, Karl Rove, ainda está sob investigação. Wilson afirmou ontem que Bush deveria demitir Rove por seu suposto envolvimento no vazamento.
De acordo com fontes próximas do governo Bush, Libby vai se declarar inocente e argumentar que qualquer falha em seus depoimentos anteriores se deu em razão de lapsos de memória. Numa dessas declarações, Libby afirmou só ter tomado conhecimento de que a mulher de Wilson era agente da CIA pela imprensa. Os investigadores, porém, descobriram que ele já tinha conversado sobre ele e Valerie durante uma reunião com Cheney antes do vazamento. Se condenado, o ex-chefe de gabinete pode ser sentenciado a mais de 30 anos de prisão.
Os advogados da Casa Branca também esperam evitar que Libby seja submetido a um julgamento público – que poderia expor o envolvimento do pessoal de Cheney na campanha para convencer os americanos da necessidade da guerra do Iraque e da ação agressiva contra os que se opuseram ao conflito.
Bush evitou ontem comentários sobre a possível demissão de Rove, exigida tanto por Wilson como por alguns congressistas democratas. O presidente não realizou a entrevista coletiva conjunta de praxe após receber na Casa Branca o primeiro-ministro italiano, Silvio Berlusconi.’