Caro editor do caderno Superesportes, do grupo Diários Associados: o que acontece com o colunista Jaeci Carvalho? Bom repórter, o jornalista não me agrada tanto como colunista porque se mostra um tanto arrogante, às vezes irresponsável. Como no texto datado de 1º de abril, com o título “Horto: certeza de vitória”. No terceiro parágrafo, o colunista escreve:
“É curioso o futebol. O lateral-esquerdo Egídio foi vendido pelo Cruzeiro em janeiro ao futebol do Leste Europeu. Em março, já retornou ao Brasil, para defender o Palmeiras. Os jogadores brasileiros queimam o filme da categoria ao fazer isso, pois, segundo consta, pegam as luvas, uma pequena fortuna, não cumprem o contrato e não devolvem o dinheiro recebido. Falta comprometimento. Se o cara sabe que não conseguirá se adaptar ao futebol da Rússia ou da Ucrânia, que não vá. Sei que o que se paga por lá é realmente uma fantasia, mas não é fácil suportar o frio, o idioma e outros problemas. Por isso, a maioria volta rapidamente. E garanto que Egídio ganhará no Palmeiras o que ganharia na Europa. É preciso acabar com isso. Antigamente, jogadores eram vendidos, cumpriam contrato e não ganhavam tanto. O futebol mudou mesmo para pior.”
Cabidas todas as ressalvas do texto, pois se trata de opinião do colunista, com que bases pode esse jornalista criticar assim um atleta pé-de-obra de exportação? Sabe ele em que condições o profissional se encontrava para querer voltar? Será que leu o que publicou o também colunista Chico Maia? Transcrevo a seguir trecho da coluna de Chico Maia, publicada no jornal O Tempo:
“Volta de Egídio O diretor do Palmeiras, Alexandre Mattos, ligou para esclarecer a situação da contratação do lateral Egídio ao Dnipro, da Ucrânia. Segundo ele, foi uma oportunidade que o clube paulista não podia perder, já que o lateral titular, João Paulo, se machucou no treino de sexta-feira. Egídio estava entrando em desespero na Ucrânia, já que não recebia o salário. Sem grana, a alegação do clube ucraniano é que a guerra civil se agravou e que a vida financeira do time entrou em colapso. Egídio estava andando de ônibus, morando ‘de favor’ e pagando as suas despesas com cartão de crédito pessoal; desesperado para retornar ao Brasil. O procurador dele explicou a situação ao diretor palmeirense, que viabilizou o negócio.”
Carga antiética
Será que Jaeci Cavalho, pomposo como se mostra ao citar jantares com Ronaldo Nazário, José Maria Marin e Aécio Neves, entre outros, gostaria de viver a situação pela qual passou o lateral esquerdo que trabalhou no Cruzeiro? Lembro aqui do que diz o nosso Código de Ética dos Jornalistas:
(…) Art. 4º O compromisso fundamental do jornalista é com a verdade no relato dos fatos, razão pela qual ele deve pautar seu trabalho pela precisa apuração e pela sua correta divulgação.
Pergunto: se ele sabia, por que não citou o ocorrido? Se não quis criticar diretamente o jogador, por que não escreveu as devidas ressalvas? Continuando:
Art. 6º É dever do jornalista: VIII – respeitar o direito à intimidade, à privacidade, à honra e à imagem do cidadão.
Será que o leitor menos informado vai considerar outra possibilidade que não a informação do colunista?
Que tipo de julgamento farão os leitores do Estado de Minas, do site Superesportes e dos Diários Associados? Seguimos:
Art. 7º O jornalista não pode: II – submeter-se a diretrizes contrárias à precisa apuração dos acontecimentos e à correta divulgação da informação; V – usar o jornalismo para incitar a violência, a intolerância, o arbítrio e o crime; Lembro que o contraditório e ampla defesa, são preceitos constitucionais pétreos, citados nas garantias fundamentais dos cidadãos.
Ainda:
Art. 10. A opinião manifestada em meios de informação deve ser exercida com responsabilidade. Art. 12. O jornalista deve: I – ressalvadas as especificidades da assessoria de imprensa, ouvir sempre, antes da divulgação dos fatos, o maior número de pessoas e instituições envolvidas em uma cobertura jornalística, principalmente aquelas que são objeto de acusações não suficientemente demonstradas ou verificadas.
Ressalto que as palavras publicadas em 1º de abril pelo colunista do Superesportes têm uma carga antiética pois denigre a honra e a imagem do profissional do futebol, além de contrariar os bons princípios do jornalismo. Que o senhor Jaeci Carvalho pelo menos saiba disso.
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Ricardo Alves é jornalista