Thursday, 26 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Exemplo deprimente de mau jornalismo

Recentemente acompanhamos uma importante discussão sobre a criação do Conselho Federal de Jornalismo (CFJ), reivindicação antiga dos jornalistas brasileiros que o governo federal se dispôs a atender. A grande imprensa, vendo nessa possibilidade uma ameaça aos seus interesses financeiros, transformou a discussão numa verdadeira celeuma, acusando o governo de estar tramando contra a liberdade de imprensa. Em ano de eleição, era mesmo previsível que um projeto dessa natureza não fosse aprovado.

No entanto vemos, a cada dia, manifestações de um jornalismo carente de profissionalismo, de ética e, por que não, de uma regulamentação específica. O que assisti em 27/12/04, por acaso, no programa Rota 22, da TV Diário (Fortaleza), apresentando por Marcos Lima em horário nobre do telejornalismo, foi um exemplo deprimente de mau jornalismo local: refiro-m à reportagem de Nilson Fagata sobre um acidente de trânsito em que uma moça, presa nas ferragens, agonizava à espera do socorro, e os outros ocupantes do veículo, desesperados, tentavam retirá-la. Enquanto isso, o repórter orquestrava um verdadeiro espetáculo de desrespeito à vítima e ao drama humano.

Indignação dobrada

A postura de Nilson Fagata de enfrentar os rapazes que se revoltaram com sua insistência em mostrar a vítima ensangüentada foi absolutamente questionável. E me indignou ainda mais o comentário de Marcos Lima, transformando a equipe da TV em vítima da ‘violência’ dos rapazes. O que estava em jogo não era ‘o direito de informar’ ou a ‘liberdade de imprensa’ ou mesmo se os rapazes estavam embriagados, como ‘denunciou’ o repórter. O que estava em jogo era o respeito à vida, a ética jornalística, o dever de servir à sociedade – princípios claramente negligenciados naquela infeliz reportagem.

O que é violência? Eu perguntaria a Marcos Lima e a seu colega Nilson Fagata. O que é jornalismo? Eu me pergunto ainda hoje, após cursar três semestres do Curso de Jornalismo. Será jornalismo a cobertura a que me referi? Se é, prefiro não fazer parte disso. Ainda acredito que o verdadeiro jornalismo se paute pela ética, e não pelo espetáculo. Ainda acredito que nem tudo é de domínio público e que um bom profissional deve ter o mínimo de sensibilidade com a dor alheia.

Sempre critiquei a TV Diário, fazendo ressalva apenas ao seu pioneirismo. Hoje, minha indignação contra essa TV, que se orgulha de ser palco do ridículo, é dobrada. Lamentava a falta de profissionalismo, mas justificava pela inexperiência. Não sei se inexperiência justifica o que assisti ontem. Espero, sinceramente, um dia ver uma TV local atingir os níveis mínimos de qualidade e de ética sem precisar da intervenção do governo e sem subestimar a inteligência de seus telespectadores.

******

Estudante de Jornalismo, Fortaleza