Há exatos 121 anos, também num 11 de novembro, quatro trabalhadores estadunidenses – Spies, Parsons, Fischer e Engel – foram enforcados em Chicago depois de uma falsa acusação de terrorismo quando participavam de um ato pela redução da jornada de trabalho para oito horas diárias. A história daquela luta ficou para sempre marcada em nossa memória e é conhecida como a execução dos ‘mártires de Chicago’. É lembrada a cada ano durante, as comemorações do Primeiro de Maio, e simboliza também a capacidade da classe dominante em deturpar a verdade, uma vez que, como ficou depois provado, eles eram inocentes.
Por que esta lembrança me ocorreu? Bem, porque estou com o jornal O Globo de hoje nas mãos e me assusto com a capacidade de alguns jornalistas para deturpar, distorcer, escamotear e agredir os fatos para agradar seus patrões. Ainda fico a pensar como podem alguns profissionais passar tanto tempo de joelhos, lambendo os sapatos dos seus senhores! A primeira palavra que me veio à lembrança foi ‘ética’, mas é difícil pedir isto em certos momentos e para certos profissionais. A segunda palavra que me ocorre é ‘moral’. Como podem se prestar a tais serviços?
Para quem ainda não entendeu minha indignação, vou esclarecer.
Na página 19 do jornal O Globo de hoje, sob a manchete ‘Falências assombram os EUA’, encontro uma matéria assinada que me parece algo produzido pelos mesmos que criaram a acusação contra os operários de Chicago. A época é diferente, mas a capacidade de alterar os fatos para impor uma mentira é a mesma.
A realidade invertida
Vejamos o que escreve, no primeiro parágrafo da sua matéria, a suposta jornalista. ‘A economia dos Estados Unidos está, cada vez mais, mostrando os sinais de contágio da crise financeira global.’
Jamais vi tal capacidade de inverter e deturpar verdades. Para aquela profissional, os EUA estão sendo contagiados pela crise? Onde ela pensa que a crise se originou? Em Marte? E nem se pode supor que seja apenas desinformação por parte dela. Mesmo com todos os cuidados de maquiar os fatos, a própria imprensa vem noticiando o que acontece na ‘grande nação do norte’ desde agosto/setembro.
E ela vai mais longe! Reparem que ela afirma que a economia dos EUA está ‘mostrando sinais’ da crise. Só quem está muito interessada em deturpar a notícia não sabe que a economia estadunidense já está em grave situação, há muito tempo e suas grandes empresas em dificuldades.
Esta é a mais deslavada forma de tentar impor um pensamento hegemônico. São essas mesmas pessoas que, depois, ainda ‘enchem o peito’ para falar em ‘defesa da liberdade de expressão’!
A serva estadunidense, travestida de jornalista, tenta nos dizer que a economia dos EUA está sendo prejudicada pela crise internacional. Ou seja, a partir de hoje devemos estar tomados de dó e preocupação por aquele pobre país que nada fez de mal e que agora foi atingido pelos problemas causados por outros. Sobre as especulações feitas pelos senhores de Wall Street não encontro nem uma palavra, sobre a falência dos discursos neoliberais assegurando a divindade do mercado ela não escreve uma só linha. Mas para defender os patrões do norte não mede esforços e os transforma, como em um passe de mágicas, de criminoso em vítima.
Não vou me estender mais. Será que algum dia teremos um código de ética que proteja a sociedade contra este tipo de profissional? Quando pegamos um jornal, em busca de informação, o mínimo que esperamos encontrar é a notícia com imparcialidade. Como poderíamos classificar um profissional que inverte totalmente a realidade?
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Radialista, Rio de Janeiro