Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Faces da nona arte

Os bons quadrinhos além de lançarem olhares para a cultura de forma implícita podem ser um dos muitos mecanismos de incentivo à leitura. Estas são apenas algumas das facetas da nona arte. As publicações quadrinísticas não poupam esforços para atrair novos leitores. Serve-se cotidianamente de seus infindáveis recursos narrativos e gráficos.

Entre as injustiças cometidas com esta mídia, a falta de reconhecimento de suas narrativas, como um estilo de linguagem literária, talvez seja uma das principais.

A negação dos quadrinhos como recurso informativo, literário, artístico ou didático é fruto da incompreensão de alguns professores, educadores e pesquisadores. O pouco caso destes profissionais com as histórias seqüenciais às vezes me levanta dúvidas do que é linguagem e ao mesmo tempo cultura.

Digo isto por acreditar que a linguagem dos quadrinhos merece a mesma atenção que outros mecanismos lingüísticos. No entanto, não foi essa a visão de uma determinada banca da qual tive o prazer de ser o réu.

Por que a resistência?

Depois dos comentários iniciais e dos rituais de etiqueta, eis o primeiro comentário da mesa. ‘Olha, muito interessante sua proposta de pesquisa. Mas acredito que você deve mudar seu objeto discursivo.’ Neste momento segurei o riso.

Enquanto isso, um membro da banca dirigia-me uma seqüência de perguntas. As respostas todas positivas. Se não bastasse o comentário de que deveria mudar o cerne do meu objeto de pesquisa, surge o mais hilariante absurdo lingüístico, dito por um terceiro membro da banca do processo seletivo.

‘Você utiliza autores profundos para falar de algo tão…’ (pausa). Depois de alguns instantes, com ajuda dos braços, a analista solta no ar, ‘tão descompromissado, digamos assim’.

Afinal, por que tanta resistência aos quadrinhos? Linguagem que atraiu e contagia diferentes gerações e vem se firmando com um meio de comunicação tão influente e importante como os demais?

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Jornalista e pós-graduando em Linguagem, Cultura e Ensino pela Unioeste (Universidade Estadual do Oeste do Paraná), Foz do Iguaçu, PR