O Observatório da Imprensa (edição nº 449) publicou um texto do professor Adriano de Paula Rabelo (‘Falar brasileiro, escrever português‘), referido como doutor pela USP. Num tom de exaltado jacobinismo, esse senhor se arremete contra a tradição da Língua Portuguesa e ataca os que a ensinam de forma qualificada, escrevendo aberrações do tipo ‘falamos uma língua estruturalmente diferente do idioma dos portugueses’ e ‘uma insignificante organização denominada Comunidade dos Países de Língua Portuguesa’.
Ora, se o professor Rabelo fala uma língua diferente da dos portugueses, por certo nunca teve a ventura de ler e bem compreender um Camões, um Vieira, um Camilo, um Garrett, um Castilho, um Herculano. Se fala outra língua, também não pôde jamais alcançar as alturas de um Machado, de um Odorico Mendes, de um Bilac, de um Coelho Neto, de um Euclides, de um Humberto de Campos. Todos eles autores em que a ‘última flor do Lácio’ se realiza em sua expressão mais altaneira.
Quanto à CPLP, trata-se de uma instituição que reúne algumas das mais conspícuas autoridades da Língua Portuguesa, alguns deles oriundos da luminosa tradição de nossa diplomacia. O Acordo Ortográfico foi assinado em 1990, há dezessete anos, portanto. De lá para cá muitas discussões foram realizadas até que se chegasse a um consenso sobre a unidade ortográfica entre todos os falantes da língua de Rui Barbosa. Com isso, serão mais fáceis as trocas culturais entre os membros da comunidade lusófona em oito países e quatro continentes. Com isso, facilita-se também uma maior difusão do idioma de Frei Luis de Sousa no mundo. Portanto, urge estabelecer o acordo que nos acercará de nossos compatriotas lingüísticos.
Iniciativas profícuas
O pensamento do professor Rabelo se exibe como um rebento das modernices paulistanas e uspianas, que se pretendem válidas para todo o Brasil. Logo no início de seu libelo, ele exuma o fastidioso e intolerável Mário de Andrade em apoio a seus pontos de vista. Pobre de um povo que pretende ter como seu representante máximo um ‘herói sem nenhum caráter’. Como se Brasília já não nos bastasse como capital da falta de caráter! Se tivesse mais espaço, talvez esse Marat da USP nos brindaria propugnando as barbaridades de outros dois Andrades modernosos com suas antropofagias e pedras no meio do caminho, que muito contribuíram para a decadência das artes e a ignorância do idioma que hoje grassam no Brasil.
Sem citar nomes, o sr. Adriano ataca os professores de Português que hoje ocupam espaços nos meios de comunicação, ensinando a língua pátria e resolvendo dúvidas do público. A despeito de considerar questionável o uso que alguns desses professores fazem de canções populares e falas de políticos como exemplos para suas explicações, defendo que o espaço aberto por esses profissionais nos veículos de comunicação de massas como uma das mais profícuas iniciativas para o aprendizado extensivo da Língua Portuguesa. Portanto, deve-se louvar o trabalho realizado na imprensa por mestres como Pasquale Cipro Neto, Sérgio Nogueira, Arnaldo Niskier, Eduardo Martins e outros.
Retorno do Latim
O ideal de todos os cidadãos de um país é progredir econômica e culturalmente, alçando-se ao nível das pessoas ilustres e ilustradas. Progredir lingüisticamente, dominando a língua culta, é um dos meios principais para se atingir um melhor nível em nossa sociedade. Queiram ou não os esquerdistas, sempre haverá estratos sociais com os seus respectivos níveis culturais, alguns infelizmente inferiores. Quem quiser se elevar, que se esforce, adquira cultura e meios econômicos para uma vida melhor.
Há já alguns anos nossos ouvidos têm tido de suportar a linguagem arrevesada do atual presidente da República. Agora aparecem os defensores do mau português e da ignorância com o rótulo de ‘língua brasileira’. Somos uma civilização filha da matriz européia, falamos português e, portanto, devemos continuar a escrever português. Quem não sabe o idioma, que vá estudá-lo de verdade. Seria importante inclusive o retorno do Latim aos ensinos fundamental e médio. O Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa é necessário, assim como a preservação de sua expressão mais elevada, que é aquela que está nos autores clássicos e nas boas gramáticas normativas.
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Professor de Português, Curitiba, PR