Monday, 23 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Falta compaixão na imprensa brasileira

Ser jornalista é muito mais do que ser porta-voz de uma empresa que apenas visualiza ao lucro, fazer fofoca sobre esta ou aquela celebridade, ou mesmo entidade pública ou privada. Um jornalista tem que ter algo de psicólogo. Precisa ler as entrelinhas do seu entrevistado e do seu material de pesquisa, cada vez mais vasto com a internet.

Um repórter, ou um profissional de um grande jornal, tem que ir além do que lhe é posto às claras. Estar acima da sua vaidade de ditar regras em que acredita, comportamentos que lhe agradam. Precisa ter consciência da sua responsabilidade social. Ou seja, não é importante para a sociedade a sua opinião particular sobre o que quer que seja, e sim, tomar um tema e ‘fazer’ com que a sociedade chegue a uma opinião.

O papel do jornalista no passado foi outro, totalmente diferente do que vemos hoje, justamente porque ontem havia um compromisso maior com a melhoria da qualidade de vida das pessoas. Muitos jornalistas do século passado vislumbravam um mundo melhor. E isto não necessariamente e exclusivamente inclui ganhar mais dinheiro, ter um up social, um carro importado etc.

Também não é importante o jornalista ser um catálogo de biblioteca ambulante. Para que tantas citações de outros autores, para que tanta bagagem literária, se na hora em que se vê diante das palavras para redigir algo, olha para o umbigo? E dali, do seu mundinho, extrai apenas o que lhe agrada aos próprios olhos, sem nunca pensar em quem o vai ler.

Promover os próprios interesses

Como numa engrenagem quebrada, o jornalismo atual gira em si mesmo. Troca farpas, elogios e ‘figurinhas’ apenas entre coleguinhas. Não existe uma intenção maior de promover melhorias para a maioria. Se isso não é papel da imprensa, qual é o objetivo do que já se chamou quarto poder?

No momento atual, então, tanto faz se o cidadão é diplomado em jornalismo, comunicação social, ou sei lá mais o que. Basta que consiga fazer parte dos muitos grupos isolados, ter acesso à biblioteca íntima dos seus confrates e debater o menu do cotidiano quase sempre ditado por aquele que é o patrão. Na atual conjuntura, quando empresas enaltecem o próprio DNA, raras são aquelas que realmente focam para o exterior, para o mercado, para os consumidores. Ninguém quer saber das dificuldades dos outros. Cada um quer salvar a sua pele. E nesse individualismo e indiferença para com os outros, acabam também sendo esquecidos e largados à míngua, aos montes, nas calçadas, como há notícias do fim que teve uma edição de certo jornalão.

A culpa pela queda de audiência e circulação, como de assinantes e leitores, não é da internet. Pode ser da má administração de recursos financeiros e humanos e também da péssima escolha de só promover os próprios interesses, que se resume em manter anunciantes, a todo custo, mesmo que seja distribuindo jornalões gratuitamente pelo país afora.

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Jornalista, SP